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Comportamento

A juventude do agora

Com os jovens e os movimentos sociais estão mudando o rumo do nosso país

Revista Ponto de Fusão - Jonatas Rosa
Mídia Ninja

Levante Popular da Juventude é uma organização de jovens militantes voltada para a luta de massas em busca da transformação da sociedade

“Vem, vamos embora que esperar não é saber. Quem saber faz a hora, não espera acontecer”.

O trecho da música de Geraldo Vandré – Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores – ilustra bem uma parcela considerável dos jovens, que não quer mais ser o futuro do Brasil e sim agora. Das manifestações pelo passe livre em 2013, às ocupações das escolas em 2015, eles tomaram para si o protagonismo da luta.

E são numerosos. 51,3 milhões de pessoas têm entre 15 e 29 anos em todo Brasil. É o que aponta a pesquisa Agenda Juventude Brasil, realizada pela Secretaria Nacional da Juventude. Nas 27 cidades da Região Metropolitana de Sorocaba, os jovens somam mais de 490 mil habitantes, segundo o Censo IBGE 2010.

De acordo com a cientista social Mirlene Simões Severo, é bastante complexo responder quem é o jovem. “O jovem, ao contrário do que é informado por alguns veículos de comunicação e por alguns desinformados, é dedicado ao trabalho, a entidades e associações civis, e sente que a educação é o caminho para ele melhorar de vida”.

Histórias de luta

Na luta por melhores condições de vida, se envolver com movimentos sociais é um caminho natural, uma vida de militância que começa cedo. Em geral, é na escola que eles têm o primeiro contato com organização em prol de um objeto comum. Foi assim com Vinícius Viana, 18, presidente da USES – União Sorocabana dos Estudantes Secundaristas; com Rafael da Guia, 25, do Levante Popular da Juventude de Sorocaba; e com Renata da Costa Marques, 19, militante petista e integrante do Conselho Municipal do Jovem de Sorocaba.

Ela começou enfrentando o machismo. “A gente criou um projeto de enfrentamento do machismo e criamos um vídeo sobre a Lei Maria da Penha. Fomos premiadas e chegamos ir para Brasília com isso”. Já Viana vem de uma família de militantes. Na escola, envolvem-se com o grêmio. “Fui presidente do grêmio e conheci a UJS (União da Juventude Socialista), que acabou me levando para o movimento estudantil”.

Rafael, por sua vez, foi levado por conta da circunstância. “Fomos proibidos pela direção de ficar na escola quando não estávamos em aula e a gente considerava ali nosso ponto de encontro. Ai conseguimos nos movimentar, escrevemos uma carta sobre nosso direito, distribuímos para os pais e fizemos uma paralisação com cerca de 200 alunos”.

Em alguns casos, o envolvimento chega um pouco mais tarde. Como aconteceu com Lenna Nascimento Borges, 25, que militou no movimento estudantil da USFCar Sorocaba. “Eu sempre tive uma sensação de que deveria fazer algo para mudar a realidade, porém minha ideia de atuar socialmente ficava sempre na filantropia. Quando entrei na universidade comecei a me questionar sobre muitas coisas que eu nunca tinha parado para pensar. E soube que movimentos sociais ainda existiam”.

Para Priscila dos Passos Silva, 28, dirigente e integrante da Juventude Metalúrgica, do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região, a luta começou longe dos movimentos estudantis. “Já tinha me envolvido em greve na primeira empresa, mas relutei em entrar para o sindicato. No segundo emprego, me falaram da necessidade de ter mulheres no meio sindical e acabei aceitando o desafio”.

O futuro e o agora

Organizados, os jovens querem mudar a realidade no presente. “Me falam muito que sou o futuro. Não, eu quero o agora”, diz Renata. E o agora está acontecendo. A exemplo de 2013, quando os governos recuaram no aumento da passagem de ônibus depois que os jovens tomaram as ruas; foi a juventude que impôs uma histórica derrota ao governo do Estado de São Paulo em 2015 no caso da chamada “reorganização escolar”.

As ocupações escolares fizeram o governador Geraldo Alckmin (PSDB) recuar e derrubaram o secretário de educação, Herman Voorwald. Viana atuou nas ocupações e comemora o resultado da luta. “Foi quando os estudantes puderam mostrar que também sabem fazer política. Muitos conheceram e quiseram fazer parte do movimento estudantil. Foi a primeira vez que eles sentiram que a escola é, de fato, um espaço democrático”.

Mas nem tudo traz resultado tão rápido. “No geral, os jovens que se integram a algum movimento social buscam melhorias para sua condição de vida (onde moram, estudam ou trabalham) e percebe que a união e a luta por direitos são os caminhos para salvaguardar sua vida presente, mas com perspectivas futura”, revela a cientista social Mirlene Simões Severo.

Rafael da Guia aponta que é preciso que a luta seja permanente para conquistar avanços duradouros. “Ficamos muito tempo na defensiva, precisamos resistir a um retrocesso, então vamos para rua. Só o trabalho de base permanente vai nos dar condições concreta para lutar por algum avanço. E quem vai fazer isso é a galera mais nova”.

Desafios e caminhos

Com tantas lutas, os desafios são muitos. De acordo com Lenna, é preciso efetivar a cultura da participação. Ou seja, levar em consideração o que o outro tem a falar, ter uma postura respeitosa no debate e pensar que o conhecimento vai surgir mesmo da tensão entre visões diferentes de mundo.

Ela salienta: “uma cultura em que toda a contribuição é bem vinda porque queremos a constante recriação, que todas as pessoas podem e devem participar como sujeitos da construção desse conhecimento, não apenas reproduzir o que foi dito por alguma autoridade qualquer”.

Na visão de Vinicius, além disso, tem que tentar mostrar para o jovem a realidade em que ele está inserido e de que forma isso pode ser mudado.

Outro ponto destacado pela juventude, na voz de Priscila, é que é preciso, também, falar a linguagem dos jovens em todos os espaços de luta. “Você olha para o sindicato e não vê muitos jovens, mulheres e negras, como eu. O meio sindical se distanciou da juventude. É preciso estar junto com outros movimentos juvenis para conseguir atraí-los”.

Para o futuro dos movimentos, o tripé organização, formação e luta é fundamental. “Essas três coisas têm que andar sempre juntas e nunca podem ser esquecidas. Não adianta nada você estudar e se formar e não ir para luta. Também tem muita gente vai para luta sem formação que produza algo real sociedade”, afirma Rafael da Guia.

A luta é a receita de Renata. “Só indo para rua, forçando e incomodando quem está no poder vamos conseguir mudanças”.

Silvio Ferreira, secretário de juventude pela CNM/CUT destaca que historicamente, a juventude sempre protagonizou a resistência e a luta, na década de 70 contra a ditadura, 80 pelas diretas, 90 caras pintadas. “A juventude é uma faixa de transição na qual podemos moldar o tipo de sociedade que queremos e, organizada, fortalece esse processo de luta e resistência”.

A cientista social Mirlene Simões Severo reforça ainda que os jovens militantes precisam entender as diferentes posições que o sistema apresenta e ter soberania para agir de forma independente pensando no grupo que representa e no nosso país. “Não há dúvida que vivemos um momento de guerras de posições, em que todas as riquezas do nosso país estão em disputa pelas nações mais ricas, e cabe aos movimentos juvenis saber como intervir no sentido de criar consciência, fazer denúncia e organizar as bandeiras de luta”, conclui.

Fala quem tem voz

RENATA: Me falam muito que sou o futuro. Não, eu quero o agora. Só indo para rua, forçando e incomodando quem está no poder vamos conseguir mudanças

RAFAEL DA GUIA: Ficamos muito tempo na defensiva, precisamos resistir a um retrocesso, então vamos para rua. Só o trabalho de base permanente vai nos dar condições concreta para lutar por algum avanço. E quem vai fazer isso é a galera mais nova

LENNA: Uma cultura em que toda a contribuição é bem vinda porque queremos a constante recriação, que todas as pessoas podem e devem participar como sujeitos da construção desse conhecimento, não apenas reproduzir o que foi dito por alguma autoridade qualquer

Movimentos

Levante Popular da Juventude: organização de jovens militantes voltada para a luta de massas em busca da transformação da sociedade. Tem como proposta organizar a juventude onde quer que ela esteja, organizando-se a partir de três campos de atuação: Frente Estudantil, Territorial e Camponesa.

União Sorocabana dos estudantes Secundaristas (USES): entidade que representa os estudantes do ensino fundamental, médio, técnico e pré-vestibular, com a missão de organizá-los para lutar pela construção de espaços, para o protagonismo da juventude e fortalecer a ação dos estudantes para buscar o cumprimento de seus direitos.

Conselho Municipal do Jovem (COMJOV): identifica as demandas dos jovens de nossa sociedade e, junto com a comunidade, ONGs e Poder Público, propõe Políticas Públicas para a juventude sorocabana.

Juventude Metalúrgica: tem objetivo de fomentar o debate de jovens metalúrgicos a respeito de temas como educação, emprego, qualificação profissional, acesso ao transporte público gratuito para estudantes, lazer e cultura, entre outros.

A juventude do agora

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