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SMetal entrevista a vereadora mais jovem eleita em Ribeirão Preto

Duda Hidalgo foi eleita, aos 21 anos, com 3.481 votos nas eleições de 2020; em entrevista, ela fala da atuação do seu mandato na cidade, além de perspectivas para a juventude na política institucional

Imprensa SMetal
Letícia Maciel
Entre suas pautas estão os direitos das mulheres, da população LBGTQIA+, acesso à moraria e outras questões sobre Direitos Humanos

Entre suas pautas estão os direitos das mulheres, da população LBGTQIA+, acesso à moraria e outras questões sobre Direitos Humanos

Mulher, estudante de Direito e jovem. Duda Hidalgo, hoje com 22 anos, fez história nas últimas eleições realizadas para a escolha de prefeitos e vereadores nos municípios brasileiros. Ela, aos 21, foi eleita a vereadora mais jovem da história de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.

Com 3.481 votos, Duda pode assumir a responsabilidade neste ano e, até aqui, já soma diversas histórias sobre o seu mandato. O Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal) conversou com a vereadora sobre os desafios e conquistas neste quase um ano ocupando um gabinete e, acima de tudo, espaço dentro da Câmara dos Vereadores de Ribeirão Preto.

SMetal: Você foi a mulher mais jovem a se eleger na sua cidade (Ribeirão Preto). Nós gostaríamos de saber a quais fatores você atribui esse fato?

Duda Hidalgo: Na última eleição nós vimos uma demanda por renovação. A população, em geral, tem estado insatisfeita em como a política tem tratado das grandes pautas que concernem à nossa sociedade. Acho que essa renovação veio de várias formas. Através de juventude, de mulheres, através da ocupação desses espaços por pessoas LBGTQIA+, negros e negras. Eu me coloco neste pacote.

Mais do que isso, minha campanha foi muito diferente de outras que eu vi por aí. Foi construída a muitas mãos. Tivemos vários grupos de trabalho, cada um deles idealizado para pensar diversas pautas como saúde, educação… Isso acabou se consolidando dentro do mandato, já que a gente mantém esses grupos. No final do dia, a minha eleição acabou virando um grande movimento de pertencimento à política, em que a gente entende que pode, sim, ocupar esses espaços e debater esses temas.

SMetal: Neste quase um ano de atuação, se pudesse destacar uma vitória que você observa no seu mandato, o que você nos contaria?

Duda Hidalgo: A gente conseguiu pressionar a prefeitura para que tivéssemos a criação de uma coordenadoria de Direitos Humanos dentro da Secretaria de Justiça, que é uma vitória muito importante. Antes, a gente não tinha nenhum órgão dentro do município que fosse voltado para tratar desta pauta. Agora, temos essa coordenadoria que é responsável pela promoção da igualdade racial; pela pauta de diversidade sexual e de gênero; pela equidade de gênero e pela questão da pessoa com deficiência. Então tem esse espaço, com diretores, que tem um fundo próprio e um outro específico. Essa foi uma vitória muito grande!

SMetal: Duda, tanto Sorocaba quanto Ribeirão são cidades com a quantidade de habitantes parecidas, orçamento relativamente grande e, também, concentram uma camada de políticos conservadores e, consequentemente, apoiadores. Você acredita que existe espaço para diálogo e, de certa forma, para trazer essas pessoas para um lado mais “humanizado” das questões sociais?

Duda Hidalgo: Uma infelicidade que temos hoje dentro de um cenário político é que o debate é muito ‘à flor da pele’. Por exemplo, quando se tem grandes brigas com bolsonaristas dentro da cidade. Eu fui muito perseguida politicamente, pediram a cassação do meu mandato, tudo que você pode imaginar. São ataques que não estão na esfera política de debates de projetos; são coisas que vem do fígado, sabe? Eu não sinto nesta ala mais radical um espaço para diálogo, embora eu sempre esteja aberta para dialogar.

Já recebi pessoas dentro da minha sala, em outros espaços também já conversei com essas pessoas, mas tende a ser um trânsito muito difícil. A felicidade é que, a camada que estava mais estática vem se mobilizando. Você vê o crescimento da esquerda mesmo dentro da cidade. Você vê que essa parte mais extrema continua igual, mas nós estamos crescendo.

SMetal: Para o futuro, as mulheres esperam muito ver mais representatividade nas plenárias e nas casas de leis. Como você enxerga a importância dessa equidade entre homens e mulheres na política?

Duda Hidalgo: É triste que isso já não aconteça hoje. Infelizmente nós somos maioria em número e uma minoria política. Eu, por exemplo, sou uma mulher jovem e bissexual, então o espaço que eu ocupo hoje como vereadora é um espaço que nos foi negado durante muito tempo.

Hoje em dia a gente precisa reivindicar cada vez mais e não só debater as pautas que concernem diretamente às mulheres. […] Temos muito a contribuir em todas as áreas porque somos tão cidadãos quanto qualquer outra pessoa que está aí. Não é porque somos mulheres que precisamos estar dentro de uma caixinha. Acho que, às vezes, se tem essa noção e se faz uma participação artificial. Precisamos participar de outros espaços.

O que a gente quer é o mínimo: garantir a nossa participação política.

SMetal: A juventude é uma potência de criação e mudança social. Porém, como boa parte da população, muitos jovens estão descrentes da política institucional. O que podemos fazer para trazê-los para perto?

Duda Hidalgo: A gente precisa superar o ‘etarismo’. Todas as vezes que se cria um debate com os jovens, as pessoas colocam os jovens para sentar na mesa das crianças. Francamente, a juventude está cansada disso. Não há erro nenhum em ser jovem e, muitas vezes, as pessoas tratam isso como uma coisa negativa. Às vezes eu estou falando alguma coisa ou defendendo uma pauta dentro da cidade e a pessoa quer desmerecer me chamando de ‘menina’, como se fosse algo ruim.

Temos muitos jovens Brasil afora e eles são os mais afetados por toda essa situação que a gente está vivendo hoje. Pensa no desemprego, por exemplo, quem é a maior faixa etária desempregada? São os jovens normalmente por falta de oportunidades. Precisamos entender que os jovens têm muito mais a dizer sobre outras áreas. Esse tema tem que ser tratado com interseccionalidade. Às vezes, a juventude tem uma distorção sobre o tamanho do seu poder, mas a própria história dos movimentos políticos de jovens se confundem com a própria democracia. Então, temos sim muita força e garra para andar.

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