Busca
São Paulo

Seminário na Alesp discute o Futuro Indústria Paulista

Objetivo foi pautar parlamentares e o Governo do Estado sobre a reindustrialização; no seminário, foi proposta a criação de uma Frente Parlamentar para debater o tema

Imprensa IndustriALL-Brasil, com informações do SMetal
Carol Jacob / Imprensa Alesp

A atividade em prol do Futuro Indústria Paulista foi realizada pelo deputado estadual Teonilio Barba (PT), através da Frente Parlamentar em Defesa de uma Reforma Tributária Justa e Inclusiva

A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo recebeu, na última quinta-feira, dia 21, o seminário “O Futuro da Indústria Paulista”. A atividade foi realizada pelo deputado estadual Teonilio Barba (PT), através da Frente Parlamentar em Defesa de uma Reforma Tributária Justa e Inclusiva. Entre os encaminhamentos, esteve a proposta de criação da Frente Parlamentar pela Indústria de SP.

Durante a manhã, trabalhadoras e trabalhadores, parlamentares, empresários e outros atores e atrizes da sociedade participaram do debate, que buscou debater o cenário atual, mas também apontar caminhos e demandas para a reindustrialização, bem como as transições necessárias para que sejam mantidos empregos, salários e empresas.

Na abertura, o deputado estadual Teonilio Barba pontuou que é necessário pensar o modelo de política industrial em São Paulo para pautar o Governo. “São Paulo tem os 27 ramos que existem na Indústria, sendo responsável pelo processo de industrialização no Brasil. Nosso objetivo é discutir e formular qual é o modelo de política industrial que nós queremos”, comentou o deputado.

O presidente da CUT-SP, Raimundo Suzart, destacou a participação dos diversos atores. “A gente precisa do apoio dos empresários também, pois vão sentir as dores (da desindustrialização). Por isso eu quero parabenizar os empresários que estão aqui, pois é com esse olhar que vamos mudar o estado e o país juntos”, disse Suzart.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), Leandro Soares, a entidade propôs levar o debate sobre o tema também para o município de Sorocaba, envolvendo o poder público, empresários e a classe trabalhadores.

“A indústria tem um papel importantíssimo no PIB, no desenvolvimento econômico e social do nosso país. É o setor que gera os melhores empregos, que tem os melhores benefícios, que possui um movimento sindical bastante organizado e que tem, ao longo dos últimos anos, gerado preocupações enormes, pois cada vez mais o Estado de São Paulo vem perdendo indústrias com a guerra fiscal. Precisamos aprofundar esse tema nas nossas bases e discutir qual a indústria nós queremos para os trabalhadores nos próximos anos”, enfatiza Leandro.

Sobre o evento

Durante a primeira mesa de debates, o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), através do economista Fernando Lima, trouxe informações sobre a situação do setor. Segundo ele, por mais que São Paulo seja líder em produção em 50 dos 100 maiores produtos industriais (receita líquida), a indústria apresentou uma queda de 481 mil postos de trabalho entre 2011 e 2021, com uma queda de 22,6% na massa salarial. A situação gera preocupação nos mais diversos setores.

Na visão dos trabalhadores, para reindustrialização é necessário ampliar ou recriar programas de fomento, reorganizar cadeias de valor e pensar uma transição justa.

“Não tem histórico no mundo de um país desenvolvido que não teve Indústria forte. Além de ter cadeias grandes, gerar emprego perene e renda, o setor tem o papel de atender as demandas da população. O estado tem que dar o exemplo, e estruturar as demandas e reorganizar as cadeias de valor”, comentou o presidente da IndustriALL-Brasil, Aroaldo da Silva.

Além do deputado Barba, estiveram na organização da atividade a Bancada da Federação Brasil da Esperança, IndustriALL-Brasil e Federações de Trabalhadores na Indústria do Estado de SP da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Força Sindical e UGT (União Geral de Trabalhadores).

Estiveram no apoio da iniciativa TID-Brasil (Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento), FEM-CUT/SP, Fetquim-CUT, Fequimar (FS), FSCM-CUT/SP, Feticom (FS), Sinergia-CUT/SP, Eletricitários (FS), Fetracovest-CUT/SP, Fetiasp, FS/SP, UGT/SP e Agência de Desenvolvimento Econômico Grande ABC.

Janaina Caldeira

Dirigentes do SMetal Sorocaba participaram do seminário “O Futuro da Indústria Paulista”, na Alesp

Perspectivas para a indústria

Na segunda mesa, foram discutidas as perspectivas para o setor. O Gerente de Planejamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Thiago Mendes, detalhou linhas de créditos e como o banco de fomento tem se reestruturado para atender as demandas do mercado e da sociedade.

“A gente trabalha para que todos os setores produtivos se desenvolvam, sem descuidar de nenhum. Obviamente a indústria está no centro do fornecimento de todos os outros setores, então não podemos descuidar”, destaca.

O presidente da Federação dos Sindicatos de Metalúrgicos da CUT/SP, Erick Pereira da Silva, comentou sobre o objetivo da atividade. “Visto tantas referências, nós trabalhadores e trabalhadoras estamos mostrando que temos propostas para a Indústria, fundamentalmente na de capital nacional, pequena e média”, comentou.

O coordenador político da Federação dos Trabalhadores do Ramo Químicos da CUT SP, Airton Cano, comentou sobre os encaminhamentos e sobre a ausência dos trabalhadores e trabalhadoras no Conselho que debate o setor industrial no estado.

“Nós estamos encaminhando, com a liderança do Barba, a proposta para a criação de uma Frente ampla. Queremos também fazer parte do Conselho de Desenvolvimento no Estado, para conseguirmos avançar com as nossas pautas”, disse.

Participação do SMetal

Além de Leandro Soares, os dirigentes sindicais do SMetal André Rogério da Silva (Gerdau), Everson Souza (Clarios), Fábio Rossy Nogueira Fonseca (ZF do Brasil Planta 2), Luiz Otávio Ferreira (CNH Industrial), Marcelo José da Silva (Toyota), Marcelo Rodrigues (Scherdel) e Wagner Bueno (Robert Bosch) também participaram da atividade na Alesp. Confira abaixo os depoimentos de alguns sindicalistas sobre o tema.

Everton Souza, CSE da Clarios: Foi um seminário importante, que traz uma séria preocupação do movimento sindical e que o governador de São Paulo tem que dar a devida atenção aos desmontes de empresas que estão saindo do Estado por falta de políticas industriais, impostos e a guerra fiscal.

Isso gera um verdadeiro caos por falta de políticas públicas, deixando os trabalhadores sem expectativa, arrocho de salários, direitos e o pior, aumentando o desemprego.

Mesmo tendo algumas empresas querendo debater as sustentações em SP, o BNDES com acessos e propostas econômicas, infelizmente percebemos que o governador não mostra interesse.

Precisamos nos organizar e orientar os trabalhadores, buscar unir com todas as cadeias produtivas de São Paulo e que nossas reivindicações sejam atendidas de forma urgente pelo governador.

Fábio Rossy Nogueira Fonseca, CSE da ZF do Brasil Planta 2: Este é um tema de extrema importância para a atual conjuntura que estamos vivendo, por se tratar do maior polo de montadoras de automóveis do país e também de outros segmentos.

O processo de desindustrialização e a reforma trabalhista foi muito cruel com a classe trabalhadora e isso trouxe precarização e a volta da escravização no mercado de trabalho como um todo.

Agora com o atual governo, a classe trabalhadora volta a ver uma luz no fim do túnel e tudo isso baseado em estudos, como demonstrou o coordenador do Dieese, Fernando Lima.

Quando Aroaldo Oliveira da Silva da IndustriALL-Brasil fala que “o estado de São Paulo é um país”, ele tem toda a razão. São Paulo é a locomotiva do país, é ela que detém o poder de produção do país, pois temos as principais fábricas multinacionais e nacionais do mundo.

O SMetal vem intensificando esse debate na região para trazer mais fábricas e, consequentemente, mais postos de trabalho e sempre na luta de manter os postos já existentes. Essa é a luta do nosso Sindicato.

Luiz Otávio Ferreira, CSE da CNH Industrial: Eu achei muito interessante essa discussão na Alesp pois tratou da indústria no Brasil e principalmente no Estado de São Paulo. Ele desmontou a realidade das indústrias e dos trabalhadores, que estão sofrendo com a falta de investimentos no Estado.

Especialmente onde há governantes que não trabalham com o governo federal para que não haja a debandada das indústrias do Estado e também que o segmento não perca força no cenário nacional para outros países que estão entrando no Brasil, como a China.

Eu aprendi a ver o cenário da indústria e dos trabalhadores de uma forma diferente, pois uma pessoa desempregada pode afetar até 6 pessoas com a sua situação. E que uma indústria fechada pode afetar uma cidade e todas as pessoas que vivem ao seu redor, pois tem restaurante, loja de roupas, lanchonetes, etc. E tudo isso é afetado quando a fábrica vai embora, pois não vai gerar mais nada para os pequenos comércios que estão ao redor daquela empresa que fechou.

É importante que o Sindicato tenha meios e comece a discutir com os governantes de uma forma nacional, mostrando que o SMetal está entre as 10 cidades mais produtivas e está ali para defender o trabalho, demonstrando que uma indústria fora do estado é um prejuízo enorme para todos. Precisamos mostrar que há meios de fazer de forma diferenciada do que é feito atualmente.

Vou levar para o chão de fábrica um aprendizado de como devemos nos atualizar no cenário do trabalho e que também devemos cobrar dos nossos governantes para mais investimentos junto ao BNDES na nossa cidade, na qual não há investimentos visíveis para manter as empresas que aqui estão e nem para trazer novas indústrias.

Marcelo José da Silva (CSE da Toyota): Discutir o futuro da indústria paulista é extremamente necessário e não vejo outro fórum para tratar se não com essa provocação puxada pelo movimento sindical.

Porém, é necessário trazer para dentro desse debate os nossos deputados estaduais. Precisamos envolver também empresários, pois essa discussão é a que norteará o futuro da indústria no estado de São Paulo.

Ao longo dos últimos anos, a indústria paulista vem em queda e o principal prejudicado nesse cenário é o trabalhador, é a família paulista. O governador do estado quando foi mostrar preocupação com a indústria montou um grupo para a discussão do tema, porém deixou de fora nossos representantes da Assembleia Legislativa e, principalmente, o movimento sindical que há anos trava a luta junto aos trabalhadores.

A nossa maior preocupação é como discutir o futuro se no grupo que fizeram deixaram de fora os protagonistas dessa história que são os trabalhadores. O estado de São Paulo é um dos polos industriais mais importantes do país e também responsável pelo desenvolvimento industrial.

O que nos dá uma esperança maior é que, nesse momento, o governo federal dialogue com a categoria e a nossa bancada de deputados na Alesp está abraçando essa luta junto com os movimentos sindicais.

Sabemos que é um pequeno passo e que para sairmos vitoriosos dessa luta não será apenas um seminário para discutir. Porém, saímos dessa primeira atividade com o sentimento de que estamos no caminho certo.

Nosso presidente já se colocou à disposição para trazer o debate também para o interior paulista e fazer essa provocação para a região de Sorocaba, com trabalhadores e empresários locais. São esses os primeiros passos que acreditamos ser norte para uma valorização da indústria paulista e a manutenção do emprego das companheiras e companheiros do Estado.

Wagner Bueno (CSE da Robert Bosch): A indústria quer criar musculatura com os trabalhadores, para que sirva de acúmulo e consigamos emplacar o avanço no futuro do estado de São Paulo, com empregos de qualidade e uma sociedade igualitária. Os ‘PJs’ ainda são um problema para os sindicatos e o papel da central é debater sobre esta forma de trabalho para uma melhor organização.

A guerra fiscal que estamos vivendo adiciona mais um desafio para a nossa organização e os carros elétricos que entram sem pagar impostos basicamente montados no exterior encarecem a competitividade da nossa indústria.

Outro ponto importante mencionado é sobre o papel do governo do estado de São Paulo, que não faz a discussão sobre a indústria e, pior, tenta tirar os sindicatos para que o futuro fique ainda mais incerto. Lembrando ainda que a indústria farmacêutica está diminuindo no Estado ao longo dos anos, contudo, o impacto da não discussão e da privatização de estatais importantíssimas, como a Sabesp, serão incalculáveis pela falta de tato do governador sobre este tema.

O Estado de São Paulo é líder na produção do país e o BNDES tem sérios problemas em liberar estrutura de capital, especialmente para pequenas e até médias empresas, que não recebem este incentivo para gerar mais produção e ou postos de trabalho.

Vale lembrar que em um passado não muito distante, em 2014, o incentivo chegou a gerar 3 milhões de empregos para a área de máquinas e equipamentos. A partir deste histórico podemos entender que sem incentivo a indústria não evolui e, não evoluindo, não vamos conseguir chegar no amanhã com emprego e direito à classe trabalhadora.

tags
Alesp assembleia Debate estado futuro governo indústria Industriall leandro reindustrialização são paulo seminario
VEJA
TAMBÉM