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Segurança alimentar

Apesar de esforços do Governo Federal, preço dos alimentos segue alto; entenda

Segundo dados do IBGE, em 2023, 24,4 milhões de pessoas deixaram a situação de fome no Brasil

Gabriela Guedes/Imprensa SMetal
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Eventos climáticos extremos, como muito ou pouco chuva e calor, afetam as lavouras e encarecem os produtos, e isso tem tido impacto, especialmente, sobre os alimentos vendidos in natura.

Incertezas econômicas globais; grande dependência de importação de petróleo refinado; altas taxas de juros nos EUA, desafios climáticos e políticas do governo anterior são as principais razões que mantêm a alta dos alimentos no Brasil.

Segundo informações da subseção dos metalúrgicos de Sorocaba do Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas (Dieese), os preços de abril indicam uma aceleração na inflação dos preços da cesta de alimentos in natura, composto por itens essenciais como, por exemplo, o tomate, que sofreu aumento de 31,71% nos últimos 4 meses, e a cenoura, com elevação de 56,83% no mesmo período. Os dados são do panorama inflacionário no primeiro trimestre de 2024.

“Cada pessoa tem uma inflação, que varia de acordo com os hábitos de consumo de cada um”, explica o economista do Dieese, Felipe Duarte. Isso significa que o aumento do preço dos alimentos impacta cada um de forma singular.

O economista ressalta ainda que os eventos climáticos extremos, como muito ou pouco chuva e calor, afetam as lavouras e encarecem os produtos, e isso tem tido impacto, especialmente, sobre os alimentos vendidos in natura, como hortifruti, consumidos muito no Brasil, e também nos grãos.

“E isso se reflete na inflação, porque a alimentação é muito relevante nos índices inflacionários. O último governo, com a alta na demanda internacional por alimentos durante a pandemia, liberou a venda e desfez os estoques regulatórios da CONAB, principalmente os grãos, como arroz, feijão e milho”. 

O estoque regulador total de arroz, por exemplo, caiu de pouco mais de 20 mil toneladas para menos de 2 mil toneladas entre 2021 e 2022. No mesmo período, o estoque regulador total de milho caiu cerca de 88%, de mais de 311 mil toneladas para algo em torno de 35 mil toneladas.

Consequentemente, sem os estoques regulatórios de grãos, que foram praticamente zerados e ainda não foram reconstituídos, os preços tendem a variar muito mais, respeitando a Lei da Oferta e da Demanda: se um produto passa a ser mais demandado e começa a faltar na prateleira do mercado, seu preço tende a aumentar.

Cenário externo

O economista do Dieese esclarece que o cenário internacional acumula uma série de fontes de pressão inflacionária.

Um dos fatores que influencia na alta dos preços dos alimentos no Brasil é o preço do petróleo, que impacta tanto nos combustíveis, porque grande parte da circulação de mercadorias no país é feita por meio de rodovias, como também nos fertilizantes e em uma série de outros produtos.

O valor do barril de petróleo registrou alta de 14,50% em seu preço, entre fevereiro e abril, devido às guerras e tensões geopolíticas que ocorrem no mundo, envolvendo importantes territórios de extração de petróleo, como na Rússia e Oriente Médio. 

Na visão da direção do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), essa situação poderia ser amenizada se o Brasil tivesse uma cadeia produtiva do petróleo nacionalizada, mas essa não é a realidade atualmente.

“Isso é consequência do desmonte da Petrobrás, no governo anterior, que deixou o Brasil mais dependente do mercado internacional, mesmo o Brasil sendo um dos maiores produtores de petróleo bruto do mundo e tendo todas as condições de construir toda a cadeia produtiva desse insumo, da matéria prima aos produtos finais”, afirma o presidente da entidade, Leandro Soares.

Aceleração inflacionária nos EUA

A inflação alta e resistente nos Estados Unidos da América (EUA), acima da meta e das expectativas, tem alterado o que se espera com relação ao ciclo e à velocidade dos cortes nos juros do país, o que pode fragilizar o setor bancário e as empresas endividadas. Com os juros altos nos EUA, o país atrai para si os dólares do mundo.

“O problema disso é que o dólar é a moeda internacional e todos os países precisam dele para fazer comércio. Com o dólar escasso, maior é o seu custo, fazendo com que os produtos importados fiquem mais caros, reduzindo a nossa capacidade de importar bens e serviços. O que impacta especialmente a economia brasileira, que sofre com uma densidade produtiva industrial aquém do necessário, exigindo a importação de uma série de bens e serviços essenciais”, afirma Duarte.

Isso significa que, com o aumento do preço do dólar, aumenta-se o preço dos produtos importados, elevando também o preço desses bens internamente.

Esforços do Governo Federal

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE), em 2023, 24,4 milhões de pessoas deixaram a situação de fome no Brasil.

Em relação à alimentação dos brasileiros, há uma série de iniciativas que contribuem para superar a situação econômica atual, como a volta do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), a volta do Programa de Aquisição de Alimentos, ou a inserção de alimentos in natura na cesta básica. Políticas transversais como o reajuste do salário mínimo e do Bolsa Família também contribuem com o aumento da renda da população.

Outra iniciativa recente é o Projeto de Lei Complementar encaminhado ao Congresso Nacional que reduz o imposto sobre 15 itens da cesta básica, zerando o tributo de alguns deles.

“Os acordos de cesta básica ou vale-alimentação são conquistados por meio de negociação sindical. São muito importantes as iniciativas do governo federal e é fundamental que o preço dos alimentos reduza, para que o trabalhador possa escolher com o que vai se alimentar, com saúde, ao invés de somente comprar aquilo que é mais barato”, ressalta Leandro.

Além disso, considerando os impactos na produção de arroz e feijão, devido às enchentes no Rio Grande do Sul, o Governo Federal anunciou que deve facilitar a importação dos grãos para evitar que os preços subam ainda mais.

Glossário

Fuga de capitais: processo no qual investidores retiram seu dinheiro investido em um país.

Inflação: a inflação é um aumento geral nos preços de bens e serviços em uma economia.

Taxa de câmbio: é o preço de uma moeda estrangeira medido em unidades ou frações (centavos) da moeda nacional.

Taxa básica de juros (Selic): influencia outras taxas de juros do país, como taxas de empréstimos, financiamentos e aplicações financeiras. 

CONAB: A Companhia Nacional de Abastecimento atua na formação de estoques públicos, que tem como objetivo executar a política governamental de intervenção no mercado, para garantir o preço e a renda do produtor. 

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