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Editorial

Quanto VALE a vida para a empresa?

Confira o editorial desta semana, que fala sobre as duas barragens (Fundão e Santarém) de rejeitos tóxicos, que se romperam atingindo centenas de moradores de Bento Rodrigues, distrito de Mariana/MG

Imprensa SMetal
Arte: Lucas Delgado/Imprensa SMetal

A Samarco é controlada pela Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton. O grupo negligencia o número real de mortes por ter fechado o local

A mineração no Brasil precisa de uma regulamentação urgente e a imprensa não pode continuar sendo subserviente a seus anunciantes (omitindo informações), mesmo em casos de uma tragédia humana como a que ocorreu no interior de Minas Gerais, no dia 5 deste mês.

Duas barragens (Fundão e Santarém) de rejeitos tóxicos, derivados de processamento do minério de ferro, se romperam atingindo centenas de moradores de Bento Rodrigues, distrito de Mariana/MG, e isso não foi um acidente e sim um crime contra vidas humanas e contra o meio ambiente como um todo.

Até agora não se sabe quantas pessoas morreram porque as empresas Samarco/Vale/BHP, que deveriam estar contra a parede, sendo investigadas, estão controlando o acesso ao local do crime. Sabemos que a Vale é uma grande anunciante em veículos de comunicação. Por isso, o verdadeiro mar de lama que está por trás dessa tragédia anunciada não ganhará espaço nos noticiários.

Bento Rodrigues, o principal distrito atingido de Mariana, tinha cerca de 600 habitantes. As notícias dizem que cerca de 500 estão desabrigados. Onde estão os demais? Quantas famílias foram destruídas por negligência das empresas que deveriam dar atenção máxima a essa barragem tóxica, que recebia os rejeitos provenientes de seus lucros?

Precisamos ter a verdadeira noção do que representa essa tragédia. São 62 bilhões de litros de uma lama impregnada de metais que está chegando até o litoral do Espírito Santo.

O biólogo André Ruschi, diretor da escola Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi, em Aracruz (ES), aponta “assassinato da quinta maior bacia hidrográfica brasileira”, com impacto ambiental grave por, pelo menos, 100 anos. Ele diz que a empresa é reincidente e debochou da prevenção.

Quem está medindo e quem medirá o índice de contaminação desses metais para as futuras gerações humanas e animais? A lama, com resíduos de metais, está secando como cimento por onde passa. Subsolo, nascentes, presente e futuro poluído por irresponsabilidade de empresas que tem o consentimento de governos.

A Samarco é controlada pela Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton. O grupo negligencia o número real de mortes por ter fechado o local. O jornal Valor divulgou no próprio dia 5 que 25 funcionários da Samarco estavam desaparecidos, conforme informações do Sindicato dos Trabalhadores na Industria de Mineração de Mariana. Não há mais casas no distrito, há cerca de 600 pessoas desabrigadas e milhares de quilômetros contaminados.

Esse mesmo tipo de tragédia aconteceu em 2009 com o rompimento da barragem Algodões, no Piauí. Falha corporativa, negligência de governos. Como questionou o biólogo “barragens e lagoas de contenção de dejetos necessitam ter barragens de emergência e plano de contingência. Como licenciar o projeto sem estes quesitos cumpridos?”

O que realmente ocasionou o rompimento dessas barragens? Tudo deve ser investigado em respeito à vida humana. E para que nunca mais se repita.

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