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Movimento Sindical e a Democratização da Comunicação

Bastante oportuna a realização, em maio deste ano, do seminário de comunicação, organizado pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba para toda a sua diretoria

Enio Taniguti (Jornalista)

Bastante oportuna a realização, em maio deste ano, do seminário de comunicação, organizado pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba para toda a sua diretoria. Essas iniciativas evidenciam que o assunto começa a ser incorporado no dia-a-dia da ação sindical, não mais como simples discussão sobre a utilização dos instrumentos comunicacionais na organização dos trabalhadores, mas acima de tudo, como direito a cidadania e fator estratégico de disputa de hegemonia sobre quais valores e qual modelo de sociedade são fundamentais para melhoria e benefícios de todos.

A democratização da comunicação no país fica cada vez mais necessária, uma vez que os grandes meios não repercutem a pluralidade e a diversidade cultural e política brasileira. A chamada grande imprensa, infelizmente reduzida a um monopólio de pouquíssimas famílias, criou nos últimos anos um filtro ideológico que busca criminalizar as ações dos movimentos sociais e sindical, a desqualificar os modelos de participação popular, e ignorar as experiências de administrações públicas democráticas e transparentes.

Existe um arsenal preparado que coloca no mesmo balaio uma tropa de choque de colunistas e especialistas, com único foco de atacar frontalmente o atual modelo sócio-econômico implantado pelo governo Lula e defender o modelo neoliberal que trouxe para o Brasil desemprego e exclusão social.

Além disso, ações institucionais foram estabelecidas em 2009 que parecem fortalecer essa conduta, como fim abrupto do direito à resposta que, apesar de ter sido criado pela Lei de Imprensa do período militar, não poderia ter sido extinto sem a criação de novas garantia jurídicas contra o abuso do poder da grande mídia.

O famoso caso da Escola Base em São Paulo justifica a necessidade de um arcabouço jurídico para o direito à resposta a quem for atacado sem provas. Outra iniciativa foi o fim do diploma para jornalistas que, além de colocar em risco a qualidade de formação destes profissionais, cria uma reserva de mão-de-obra barata e subserviente aos desmandos dos interesses da empresa jornalística.

Porém, essas ações demonstram no fundo uma negação a nova realidade vivida pela população brasileira, baseada no avanço das políticas sociais e no crescimento econômico dos últimos anos. Mais de 24 milhões de pessoas superaram a pobreza entre 2003 e 2008, e a classe C tornou-se a maioria da população, cuja participação passou de 43%, em 2003, para 53,6%, no ano passado. Por isso, a tentativa constante de desqualificar os programas e políticas originados deste modelo includente , democrático e que contempla a participação popular.

Para a nova direita, os meios de comunicação não são tratado mais como instrumento de manutenção de poder. Eles são em si o próprio mecanismo de poder já que muitas empresas tem ligações com grandes incorporações multinacionais de outros ramos de produção como as de telecomunicações e até com a indústria de armamento. Não foi à toa que recentemente a presidente a Associação Nacional dos Jornais, entidade patronal, Maria Judith Brito, da Folha de S. Paulo, disse que a grande imprensa está de fato fazendo o papel de partido de oposição.

Por ser alvo direto do ataque empreendido pela nova direita no país, o movimento sindical tem o dever de contrapor as manipulações e falta de democratização dos meios de comunicação a que é sujeitado. As reações podem ser múltiplas, mas exigem capacitação e definição estratégica em relação ao momento pelo qual passa o nosso país, em que dois modelos distintos de governar estão colocados na balança. Um que durou até o início dos anos 2000 e outro que colocou o Brasil na rota do desenvolvimento com inclusão social, além de proporcionar o reconhecimento internacional como ator fundamental das novas relações multipolares.

As ações nesse sentido terão que passar pelo fortalecimento dos instrumentos de comunicação hoje empreendidos, como jornais, panfletos, carros de som, bem como a implantação e reconfiguração do papel da internet junto aos sindicatos e movimento sociais. Novas e interessantes situações são criadas a todo momento no mundo da rede digital que permitem ampla repercussão e divulgação das iniciativas das entidades organizadas. É necessário também direcionar o foco editorial e de conteúdo que leve em consideração o novo momento pelo qual passa o Brasil, com uma sociedade mais plural e participativa.

Outra situação é a oportunidade de consolidar novos tipos de gestão de comunicação, em muitos casos de cunho estratégico para a democratização da informação e da comunicação no país. Será importante os sindicatos entrarem na luta pelo Plano Nacional de Banda Larga, empreendidos pelo governo federal, para possibilitar o acesso à internet de boa qualidade e com preços acessíveis. Hoje somente três empresas privadas monopolizam esse acesso oferecendo um serviço de qualidade duvidosa e excludente por conta da tarifa cobrada.

Outra luta é a consolidação das diretrizes da 1ª Conferência Nacional da Comunicação (Confecom) , realizada em dezembro de 2009, pelo governo federal. Entre elas estão a criação de conselhos, junto aos entes federados, de comunicação social. O controle social será fundamental para melhoria da qualidade dos meios, o combate a manipulação de informações, ao direito a uma comunicação que proporcione valores mais voltados a solidariedade, aos serviços de cidadania e a justiça social.

Enio Taniguti, Jornalista, é Assessor Especial de Gabinete da Prefeitura de Diadema (SP), foi delegado pela região do ABCD na 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom); foi coordenador de comunicação do Ministério das Cidades, na gestão Olívio Dutra; foi assessor de imprensa em diversos sindicatos de trabalhadores, entre os quais o dos metalúrgicos de Sorocaba e região.

VEJA VÍDEO DO SEMINÁRIO DE COMUNICAÇÃO

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