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Hora de fazer valer a força das mulheres

Só mesmo com muita união e força de vontade as mulheres poderão enfrentar os desafios de sociedades que, apesar de todos os discursos favoráveis a elas, acabam por elegê-las como alvos de preconceito

Iara Bernardi (Deputada Federal PT)

Mulheres de todo o mundo, uni-vos! Se Karl Marx vivesse na nossa época, poderia parodiar o seu Manifesto Comunista (co-autoria com Friedrich Engels) para abrir assim um estudo sobre as mulheres no mundo de hoje. Só mesmo com muita união e força de vontade as mulheres poderão enfrentar os desafios de sociedades que, apesar de todos os discursos favoráveis a elas, acabam por elegê-las como alvos de preconceito, violência e discriminação.

Estas preocupações devem servir de base para as nossas reflexões neste início de mais uma programação pelo Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março. Temos a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, a presidente da Petrobrás, Maria das Graças Silva Foster, e no mundo há mulheres também em postos de comando como a chanceler alemã Angela Merkel. Estas mulheres comprovam a capacidade feminina de ocupar cargos de direção de forma competente e exemplar. No entanto, esses casos são exceções. Para a maioria das mulheres, há um imenso caminho a percorrer na luta por direitos, participação e espaços nas sociedades contemporâneas.

Na Câmara Federal, em Brasília, a bancada feminina diminuiu, num flagrante contraste de representatividade em comparação com o número de mulheres na população. Preocupadas, as deputadas que compõem a bancada feminina elegeram o empoderamento, o combate à violência e a profissionalização da mulher como os principais aspectos a serem debatidos neste mês em que ela é o centro de todas as atenções.

Na política, temos poucas prefeituras dirigidas por mulheres.

A Câmara de Sorocaba, que tinha uma mulher na legislatura passada, agora não tem nenhuma. É uma Câmara com plenário só de homens, 20 no total, num contraste em que mais da metade da população do município é de mulheres. Isto explica a existência de ações destinadas ao atendimento à mulher que podem estar equivocadas e serem ineficientes.

Um exemplo disso são as atividades de profissionalização oferecidas às mulheres do conjunto habitacional “Ana Paula Eleutério”, conhecido como Habiteto, em Sorocaba e em outros bairros também. Os cursos oferecidos inevitavelmente são de pintura de pano de prato, tricô, crochê, manicure, etc. Como entender esse perfil de ações numa região da cidade de Sorocaba localizada a apenas três quilômetros da multinacional Toyota e do Parque Tecnológico de Sorocaba? Certamente esse tipo de ação para as mulheres foi pensado e criado por grupos majoritariamente compostos de homens e é essa espécie de situação que precisamos mudar.

Na educação, a necessidade de evolução feminina também é grande, apesar dos reconhecidos avanços. Segundo dados da Unesco, a proporção de mulheres matriculadas em cursos de nível superior no mundo saltou de 8% para 28% entre 1970 e 2009, enquanto a de homens subiu de 11% para 26%. No convívio doméstico, os dramas têm dimensões de calamidade: seis em cada 10 brasileiros conhecem alguma mulher que foi vítima de violência doméstica, segundo apurou o Mapa da Violência 2012. Lei Maria da Penha nos agressores.

Felizmente, a sociedade reconhece o diagnóstico dos problemas e urgências da mulher e se dispõe a colaborar para que as relações tendam a evoluir favoravelmente.

Ninguém é capaz de negar que empoderar as mulheres e promover a igualdade de gêneros em todas as atividades sociais e da economia garantem o efetivo fortalecimento dos municípios, dos estados, da nação. Além de impulsionar negócios, melhorar a qualidade de vida de mulheres, homens e crianças.

Valorizar a mulher é também uma questão de desenvolvimento sustentável.

Essas vertentes são tão sérias que a ONU Mulheres criou os princípios de empoderamento da camada feminina das sociedades como diretrizes de ações. Entre eles, estão a necessidade de estabelecer liderança corporativa sensível à igualdade de gênero, no mais alto nível, e a garantia de tratar todas as mulheres e homens de forma justa no trabalho, respeitando e apoiando os direitos humanos e a não-discriminação.

Não é à toa que estes problemas são debatidos um mês após o carnaval, período em que as mulheres são muito valorizadas como corpo e imagem.

As comemorações do Dia Internacional da Mulher exigem uma qualificação no debate desses problemas. As mulheres precisam ser valorizadas socialmente, culturalmente, politicamente. Nós não somos apenas corpo e audiência de televisão. Somos trabalhadoras, mães, esposas, irmãs, amigas, estudantes, e precisamos fazer valer a nossa força de transformação nesta sociedade para a qual tanto contribuímos.

A hora e a vez das mulheres é agora.

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