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Opinião

Editorial: O chefe que mora em você

Editorial da Folha Metalúrgica nº948 explica o que está por trás das mudanças na organização do trabalho, na qual o trabalhador/funcionário virou colaborador ou cliente interno, ampliando a competição

Imprensa SMetal
Divulgação

Entre as mudanças mais recentes ocorridas no mundo do trabalho, está a mistura entre a gestão do trabalho taylorista, fordista e toyotista. A psicóloga especializada em saúde do trabalho e perita judicial Renata Paparelli destaca em seus estudos que, a partir da década de 90, começou a se delinear novas formas de se dividir o poder no trabalho.

“Nessas novas formas de organização do trabalho, eu não quero obediência, eu quero adesão, para vestir a camisa da empresa. E eu não conquisto essa adesão com os mesmos instrumentos que eu conquistava obediência. Para conquistar obediência eu ameaço, para conquistar a adesão eu seduzo”, afirma em suas palestras.

Os nomes mudaram e não é à toa. Trabalhador/funcionário virou colaborador e/ou clientes internos. Não é mais necessário tantos controladores nas fábricas, porque os próprios trabalhadores se avaliam entre si, aumentando exponencialmente a competição.

Essa mudança na organização do trabalho é muito profunda, não se trata apenas de uma nomenclatura. Querem ‘mistificar’ o trabalho. O trabalhador ou a trabalhadora tem que ser polivalente na empresa moderna. Querem fazer acreditar que o (a) trabalhador (a) é parte da empresa e que não está sendo explorado para render lucros e sim, atuando por uma missão.

‘Caro colaborador’, diz a empresa, enquanto isso você adoece por ultrapassar seus limites de ser humano. Não sois máquina, nem tem o ritmo de um atleta de alto desempenho.

A perita Renata Paparelli ressalta que quando se é obrigado a ultrapassar esse limite subjetivo, de modo sistemático e continuado, ocorre o processo de adoecimento, com essas novas formas de avaliação e controle. “É como se o chefe morasse dentro do trabalhador”.

Lembramos desse estudo aqui porque estamos em pleno acirramento de Campanha Salarial, numa dura negociação com as bancadas patronais – que contam com a passividade da classe trabalhadora, com a neutralidade, com a isenção, e com o medo que é imposto a cada um. Medo de perder o emprego, etc.

Mas quando ouvir a palavra colaborador novamente lembre-se de que se trata de pura sedução, uma ferramenta para tentar te tirar do coletivo, para tentar te fazer se sentir melhor e maior que o outro colega ao lado. E assim, enfraquecer a luta por direitos.

Nesse espaço de “colaborador”, o assédio moral encontra terreno fértil. Te enchem de responsabilidades, cobram um ritmo acelerado, colocam pressão e, muitas vezes, humilham. De que forma você responde? Como um colaborador ou como um trabalhador explorado e com direitos ameaçados?

A reposição da inflação não está garantida. Não cai do céu, nem é dada pelo patrão. É com muita mobilização que se conquista! Sabe qual é a pauta patronal? Acabar com cláusulas da Convenção Coletiva, é negar aumento real. O discurso não é para gerar postos de trabalho e sim, para aproveitar a apatia dos trabalhadores para explorar e lucrar mais.

Qual a pauta do movimento sindical? Exige que as empresas cumpram a Convenção Coletiva e que concedam aumento real, porque o gás de cozinha, o combustível, o alimento, foram reajustados. E o seu salário vai ficar aquém?

Unidade e ação sindical já garantiram muitas vitórias e somente juntos, no coletivo, seremos capazes de conquistar ainda mais!

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