Busca
Falta de decoro

Comentários endossam o caráter machista da sociedade

Agressão à vice-prefeita e comentários sobre o ocorrido denunciam que ainda há muito trabalho a ser feito para que a sociedade evolua e se livre do machismo e do preconceito contra a mulher

Imprensa SMetal
Elaine Campos/Marcha Mundial das Mulheres
Casos em que mulheres são agredidas são rotineiros, apesar da legislação brasileira ser uma das mais rigorosas, como a Lei Maria da Penha (11.340), que pune crimes domésticos.

Casos em que mulheres são agredidas são rotineiros, apesar da legislação brasileira ser uma das mais rigorosas, como a Lei Maria da Penha (11.340), que pune crimes domésticos.

Comentários na internet sobre a agressão sofrida pela vice-prefeita Jaqueline Coutinho e o secretário – no gabinete do prefeito Caldini Crespo (DEM), na sexta-feira, 23 – demonstram o quanto a sociedade continua a ser machista e patriarcal.

“A vdd é q a mulher foi feita pra cuidar da casa e não pra querer se meter em assuntos sérios, assuntos aquém de sua capacidade…”.Esse foi um dos comentários no portal G1 de Sorocaba publicados na manhã desta segunda-feira, dia 26.

Houve outros preconceitos destilados na mesma postagem da página do site de notícias e que, infelizmente, são comuns. Entre eles, o de que mulher deveria ficar em casa e ‘não se meter em assuntos sérios’. Sob perfil falso do pensador Nicolau Maquiavel o(a) autor(a) desse comentário destila suas discriminação e rancor.

A violência contra a mulher sempre esteve presente na sociedade sorocabana e para além dos boletins de ocorrência. Na própria Câmara Municipal, durante alguns discursos do então vereador Waldomiro de Freitas (PSD) e de Hélio Godoy (então no PSDB) já se envolveram em episódios nos quais atacaram verbalmente as mulheres.

Em 2013, conforme o jornal Ipanema publicou na época, “Waldomiro subiu na tribuna para negar que teria falado mal da parente de Tonão [Silvano, do PMDB na época], após o parlamentar ter sido retirado da plenária. “Falei vagabunda é a mãe, mas não falei de quem é a mãe. Pode ser até a minha”. Waldomiro disse ainda que pensava em propor uma ação por injúria contra Tonão. O mesmo Waldomiro que, em outro mandato, disse que lugar de mulher é na pia da cozinha.

Desequilíbrio

Na prefeitura, na última sexta-feira, em mais um momento de desequilíbrio e agressividade o prefeito Caldini Crespo (DEM), ofendeu a vice-prefeita quando ela questionou o caso de uma assessora da prefeitura nível III, com salário entre R$ 8 e 9 mil com suspeita de falsificação dos diplomas de ensino fundamental e médio.

Em entrevista ao portal G1 de Sorocaba Jaqueline disse: “Sempre zelei pela legalidade. Ele [Crespo] ficou tenso, o clima ficou tenso, então ele falou que eu deveria pegar minhas coisas e ser vice-prefeita de casa. Exaltado, bateu na mesa e disse que não era mais para eu aparecer”, afirma.

Ainda de acordo com Jaqueline, o secretário interveio e também foi confrontado pelo chefe do Executivo, que teria dito “que, se quisesse, deveria pedir as contas”. “Eu segurei o prefeito e não houve agressão, ele apenas empurrou a minha mão e chamou um Guarda Municipal”.

Antes de assumir o cargo de vice-prefeita, Jaqueline foi delegada da Delegacia de Defesa da Mulher, em Sorocaba e em entrevista ao Jornal Ipanema, nesta manhã, ela disse que o comportamento agressivo de Crespo é “inadmissível por parte do chefe do Executivo”.

Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), Leandro Soares, “é inadmissível que um prefeito tenha uma conduta preconceituosa, arrogante e truculenta como Crespo (DEM) vem demonstrando”.

O dirigente lembrou que, em vários momentos como vereador, durante a campanha para prefeito e agora no cargo de Chefe do Executivo Crespo teve atitudes de intolerância extrema e de destempero agressivo, como o caso em que chamou homossexuais de ‘anormais’, em 2015, e também quando atacou a então presidenta Dilma Rousseff, chamando-a de vagabunda em postagem na rede social, em 2016”.

Veja os links para as repercussões dessas atitudes no final do texto. Leandro ainda ressalta que esses escândalos não podem continuar a ocorrer e de que é preciso uma mudança de pensamento e de atitudes. “A sociedade já está farta da intolerância, seja religiosa, contra mulheres, negros, contra homossexuais e do ódio generalizado. É preciso urgentemente mudar os pensamentos e atitudes para construir uma sociedade justa. Isso depende de nós, da população e dos nossos representantes”, destaca o metalúrgico.

‘Fora Crespo’

A Câmara Municipal estuda a possibilidade de pedir o afastamento do chefe do Executivo. A proposta é do vereador Renan Santos (PC do B), que anunciou que deve entrar com um pedido com essa finalidade até o fim da tarde desta segunda-feira (26).

O pedido teria por base o decreto-lei 201/67, que prevê a possibilidade da cassação do mandato de prefeitos diante de infrações político-administrativa, entre elas, “Proceder de modo incompatível com a dignidade e o decoro do cargo” e “omitir-se ou negligenciar na defesa de bens, rendas, direitos ou interesses do Município sujeito à administração da Prefeitura”.

Também foi criado um abaixo assinado eletrônico por um munícipe chamado Junior Barros para ser encaminhado à Câmara de Sorocaba pedindo pela retirada de Crespo do poder público municipal. O endereço para aderir ao documento é http://www.peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR100501

Já a vereadora Fernanda Garcia (PSOL) propõe a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Câmara Municipal de Sorocaba para investigar a acusação de que o prefeito José Crespo teria acobertado uma ilegalidade para manter no cargo em comissão uma assessora com suspeita de fraudar diploma escolar.

Leia alguns dos comentários

Reprodução

Reprodução

Reprodução

Links sobre o desequilíbrio de Crespo aqui e aqui.

Entenda o caso

À rádio Ipanema, Jaqueline relatou que a assessora de Crespo, Taty Polis – escolhida pelo prefeito José Crespo para o posto que foi ocupado por Sumie Hiranobe por 35 anos – não tinha ensino fundamental 2 e portanto, não poderia ter diploma de ensino médio e de ensino superior.

Na sexta-feira, Crespo chamou Jaqueline, o secretário Zuliani, com a presença do corregedor da prefeitura, Gustavo Barata e Taty Polis para que a vice-prefeita se retratasse com a assessora. Diante a negativa e da exigência de Jaqueline pela apresentação da documentação da assessora Crespo ofendeu, bateu a mão na mesa e gritou: “a senhora pegue suas coisinhas e vá ser vice-prefeita na sua casa. Aqui no sexto andar a senhora fica proibida de entrar”.

Quando o secretário foi defender a vice-prefeita, Crespo, mais exaltado ainda, disse para que Zuliani pedisse as contas. Tanto Jaqueline quanto Zuliani foram expulsos do gabinete por um Guarda Municipal.

A Prefeitura ainda não se pronunciou sobre o ocorrido.

Divulgação do caso via Facebook

A agressão veio à tona por meio de uma postagem na rede social Facebook, no domingo 25, feita pela mãe da vice-prefeita de Sorocaba, Jaqueline Barcelos Coutinho, Neide Andrade Barcelos Coutinho. Veja abaixo a nota na íntegra. Ela diz que o prefeito José Crespo (DEM) “age com agressividade e destempero”, e tentou “agredir, em seu gabinete, um secretário e a vice-prefeita”.

Casos em que mulheres são agredidas são rotineiros, apesar da legislação brasileira ser uma das mais rigorosas, como a Lei Maria da Penha (11.340), que pune crimes domésticos.

tags
agressão assédio coutinho crespo Jaqueline Machismo moral mulheres patriarcado prefeito Sorocaba vice violência
VEJA
TAMBÉM