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Dia Mundial da Arte

Artistas se reinventam na pandemia e falam sobre processos criativos

Na data em que se celebra o Dia Mundial da Arte, o SMetal falou com artistas locais sobre formas de se reinventar durante a pandemia, leis de incentivo a produções e projeções futuras para o segmento

Imprensa SMetal

Antes da pandemia da Covid-19, a cantora e compositora tapiraiense, Paula Cavalciuk, tinha diversos projetos artísticos que conciliava com shows em barzinhos e instituições em Sorocaba. Vivendo da arte desde 2010, ela conta que, mesmo antes de tudo que o mundo vivencia, o cenário para o músico independente na cidade já era complicado.

De cachês baixos à desvalorização, ela e sua banda enfrentaram muita coisa. “Tinham dias que eu gastava um dinheiro para sair de casa e preparar o show e, depois de tudo, o dono do bar dizia que não deu muita gente e não pagaram o couvert. No fim, era um prejuízo e voltava para a casa com menos dinheiro do que sai”, recorda.

Ainda assim, Paula conseguiu se manter financeiramente por meio dos seus shows e atividades artísticas e, com o tempo, conta que o retorno financeiro passou a ser melhor. Em 2016, realizou o lançamento do seu disco “Morte & Vida” e colheu frutos desse projeto durante os anos que seguiram. Com equipe de músicos, rodou o país realizando shows e propagando seu som autoral por diversos estados, chegando a ir de carro até o Rio Grande do Norte para tocar na companhia de outros músicos.

Arquivo pessoal
Paula Cavalciuk aproveita o espaço virtual para propagar o seu trabalho

Paula Cavalciuk aproveita o espaço virtual para propagar o seu trabalho

Ela é uma das artistas locais que, durante a pandemia, precisaram pensar em formas para reinventar seu processo de criar e mostrar essa arte para o mundo. Dos projetos desse período, ela recorda de três especiais: o correio elegante musical, que desenvolveu em parceria com Anderson Charnoski (seu companheiro); um show especial no Natal e, o mais recente, “Ter Saudade” – um programa musical em cinco episódios, que compõem o “Paula Cavalciuk Ao Vivo”.

“Ter saudade” é uma série sobre as faltas, as privações e, claro, sobre música. Em entrevista à Imprensa do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), a cantora fala sobre o processo criativo. “O momento inédito pede que a gente também tenha esse ineditismo. Precisei estudar maneiras de deixar esse formato online atraente, com qualidade e, ao mesmo tempo, ter uma mensagem. Todo mundo sente falta de alguma coisa neste momento, acho que o projeto tem essa forma de se conectar com o público”, explica.

Aldir Blanc e leis de incentivo

Apesar das ressalvas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sancionou um projeto aprovado pelo Congresso que previa o pagamento de auxílio de R$ 600 mensais para artistas informais. A lei 14.017, que ficou conhecida como Lei Aldir Blanc, em homenagem ao artista que faleceu em 2020 vítima do coronavírus, trouxe um pacote de assistências para os artistas a nível regional e federal.

O projeto, de autoria da deputada Benedita da Silva (PT), tinha três pontos principais: pagamento de uma renda emergencial, em três parcelas, aos trabalhadores da cultura; repassar recursos mensalmente para micro e pequenas empresas e demais organizações comunitárias culturais; realização de ações de incentivo à produção cultural, como cursos, editais e prêmios. Ao todo, um montante de R$ 3 bilhões foi repassado a municípios e estados do país.

“Essa ajuda emergencial aos artistas foi fruto de uma luta muito grande. Muitas pessoas estão sobrevivendo desse recurso e dependendo disso para poder comer e viver”, comenta Paula Cavalciuk. O último projeto da compositora foi viabilizado pelo ProAC Expresso LAB – um edital de apoio e financiamento à cultura realizado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa de São Paulo (Lei Aldir Blanc).

Romulo dos Santos, Gustavo Macial, Fernanda Teka, Dj Noé, Lucas Silva (Sad Messias) e Karymy Gonçalves compõem o coletivo Colmeia. A ideia para a criação da organização cultural surgiu após perceberem a falta de esforços do poder público municipal para atender às demandas e fornecer suporte aos artistas locais.

Para eles, a Aldir Blanc é um dos mecanismos de grande importância neste período. “O cenário artístico conta com profissionais e pessoas que sustentam suas famílias através disso e o investimento no setor artístico reflete diretamente na economia geral. Com esses investimentos a sociedade pode se tornar muito mais saudável a longo prazo. Em países como a Holanda, por exemplo, para cada um euro investido em arte e cultura há um retorno de sete euros. Iniciativas como essa só beneficiam a nossa sociedade!”

Flor Maria oferece aulas de canto online

Diferente de Paula Cavalciuk, a cantora e compositora sorocabana, Flor Maria, não inscreveu nenhum projeto para os editais de apoio a cultura; no entanto, ela pôde participar como convidada em alguns projetos, como é o caso da aparição que faz no primeiro episódio de “Ter Saudade”.

Para complementar sua renda, Flor dava aulas de canto presencialmente antes da pandemia da Covid-19 e comenta que, naquele período, foi difícil viver da arte. “Eu tinha alguns trabalhos e shows. Carnaval, por exemplo, era a época que eu trabalhava todos os dias e era bem mais movimentado. Porém, não significa que eu tinha muitos trabalhos. Ser artista no Brasil já é difícil, imagina sendo travesti?”, afirma.

Foguinho/Imprensa SMetal
Antes da pandemia, Flor já se apresentou no Sindicato dos Metalúrgicos diversas vezes

Antes da pandemia, Flor já se apresentou no Sindicato dos Metalúrgicos diversas vezes

No final 2020, ela teve a ideia de realizar serenatas virtuais para pessoas que gostariam de presentar alguém. A princípio, ela pedia uma cesta básica para os clientes e os alimentos eram destinados ajudar a Associação Transgêneros de Sorocaba (ATS) – uma entidade de personalidade jurídica que tem como objetivo a busca pela integração social e cidadania de transexuais e travestis na cidade de Sorocaba.

Atualmente, a saída que ela criou para se reinventar foi retomar as aulas de canto online porque, de acordo com ela, o orçamento está apertado. Flor disponibiliza aulas semanais, com uma hora de duração, em que trabalha com os alunos exercícios de respiração, vocalizes, dicção, ressonância e outras técnicas. “Eu ainda não posso voltar com as aulas de canto coral que são as que eu mais amo, mas já é um primeiro passo”, diz.

Colmeia e a valorização do artista local

Durante a pandemia, os integrantes do coletivo Colmeia puderam participar e produzir diversos shows, festivais e outros produtos artísticos. Uma das grandes missões, de acordo com o grupo sorocabano, é “se conectar aos artistas para fortalecer e empoderar o cenário”. Isso, eles fizeram bastante nesses últimos tempos.

Bruno Cons
Para o futuro, Colmeia pretende engajar cada vez mais a sociedade através de eventos, festas, festivais, feiras, exposições e também projetos educacionais

Para o futuro, Colmeia pretende engajar cada vez mais a sociedade através de eventos, festas, festivais, feiras, exposições e também projetos educacionais

No canal do YouTube, é possível acessar, de forma gratuita, apresentações de teatro, música, dança e outras linguagens. Além disso, quem tiver vontade de entender melhor alguns termos e curiosidades sobre a cenário da arte sorocabana, pode assistir a vídeos e explicações.

As projeções para o futuro são animadoras. “Somos muito ambiciosos em relação ao projeto. A ideia é torná-lo uma potência artística civil e econômica cada vez maior. Uma vez em que venhamos a sair da pandemia, teremos um aumento exponencial por consumo de entretenimento, arte e cultura. Para o futuro a ideia expandir! Engajar cada vez mais a sociedade através de eventos, festas, festivais, feiras, exposições e também projetos educacionais, afim de atingir um nível Brasil e não somente a nossa região”, comentam.

Ao todo, seis pessoas fazem parte do Colmeia, sendo eles: Romulo Santos na produção audiovisual e cinegrafia; Gustavo Macial que comanda a produção audiovisual e direção fotográfica; a cantora Fernanda Teka que colabora na produção executiva e artística; o dj Noé da produção executiva e A&R; Lucas Silva (Sad Messias) na parte de Design; e Karymy Gonçalves, responsável por ilustração e design.

População e arte

“Os artistas estão sempre marginalizados, o que é engraçado porque a arte é o primeiro lugar de refúgio; principalmente na pandemia. Quem não sentou e assistiu um filme? Quem não parou para ouvir uma música? As pessoas esquecem que quem faz tudo isso são os artistas. Esquecem, principalmente, que os artistas existem e não são somente aqueles que estão passando na TV”, lamenta Flor Maria.

A percepção da população com a arte, também é comentada por Paula Cavaciuk. Para a cantora, é uma ferramenta usada, tantas vezes, pelas elites brasileiras que tentam distanciar as pessoas dos artistas. “Há uma tentativa de nos colocar contra a população, mas isso não deve ser aceito, na verdade, precisa ser combatido”, diz.

O Sindicato dos Metalúrgicos acredita que a cultura precisa ser democratizada e, quando possível, gratuita e de fácil acesso para a classe trabalhadora. “O acesso a mecanismos de lazer e entretenimento é uma pauta permanente no Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região. Acreditamos muito na potência dos artistas da cidade e da arte, como um todo, como uma força transformadora e revolucionária”, afirma Leandro Soares, presidente do SMetal.

Há mais de 30 anos, o Sindicato segue propondo a democratização da cultura. Desde a inauguração do Espaço Cultural dos Metalúrgicos, em 1992, até os memoráveis eventos do 1º de Maio. Na pandemia, não foi diferente, a entidade esteve preocupada em propor lives e chamar artistas locais para participar de seus eventos à distância. Para conhecer mais sobre a história do SMetal com a cultura regional, acesse essa reportagem.

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