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Sindicalistas e economistas defendem reforma do sistema financeiro

Bancários e Unicamp lançam livro no qual defendem mudanças para que o setor, especialmente o privado, possa estimular o desenvolvimento do país

Rede Brasil Atual

O sistema financeiro no Brasil precisa ser reformulado com urgências para atender às necessidades de desenvolvimento, afirmaram, em síntese, os participantes de seminário realizado em São Paulo na manhã desta segunda-feira (10), mediado pelo jornalista Luís Nassif, que marcou o lançamento de livro editado em parceria entre o Sindicato dos Bancários de São Paulo e o Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O economista Ricardo Carneiro, da Unicamp, lembrou que o setor privado ainda se envolve muito pouco com financiamento de longo prazo. “Continua concentrado no curto prazo e cobrando spreads elevados. Temos que acabar com a cultura de curto prazo dos bancos privados nacionais”, afirmou, defendendo a modernização do sistema ecitando a crise financeira internacional. “Vivemos nos últimos 30 anos sob a hegemonia de um sistema capitalista dominando pelas finanças. Estamos vendo agora o resultado dessa hegemonia”, afirmou. “Jamais na história do capitalismo o sistema financeiro custou tanto às nações.”

Ao mesmo tempo, Carneiro observou que, apesar da necessidade de mudanças, esse ainda é um debate difícil de ser feito, inclusive no país onde se originou a crise. “O presidente dos Estados Unidos não está conseguindo encaminhar a reforma do sistema financeiro”, afirmou o economista, acrescentando que se trata de uma questão fundamental inclusive para a economia brasileira. “Se a reforma do sistema financeiro internacional avançar mais rapidamente, será mais fácil fazer isso no Brasil.” Para ele, o governo Lula deveria ter enfrentado mais os interesses desse sistema.

Para o deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP), o Brasil não tem um sistema financeiro à altura dos desafios do país, enfrentando problemas como a carga tributária e as limitações de financiamento. “O BRasil tem pior padrão de financiamento da economia”, afirmou. Ele destacou alguns avanços, como o gerenciamento do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), cujo valor disponível para financiamento multiplicou-se na atual gestão, a criação do crédito consignado e o desempenho dos bancos públicos, especialmente durante a crise. “O Brasil poderia ter seguido o mesmo caminho dos Estados Unidos e da Europa no sentido da contração do PIB, e consequentemente do mercado de trabalho, o que seria um desastre”, observou Berzoini, vendo um bom momento para esse debate, devido ao “efeito pedagógico da crise”, apesar das dificuldades enfrentadas no Congresso.

O presidente do sindicato, Luiz Cláudio Marcolino, que assina o livro juntamente com Ricardo Carneiro, lembrou que as propostas expostas na publicação representam apenas o início do debate. “Se não houver sistema financeiro forte, voltado para o desenvolvimento, teremos dificuldades de levar o Brasil à condição de quinta economia internacional”, afirmou. “O capital privado também deve ter o seu papel no desenvolvimento nacional.”

O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Carlos Cordeiro, observou que o sistema financeiro brasileiro é altamente concentrado, com apenas seis bancos concentrando mais de 80% do total, apesar da existência de mais de 160 instituições. Ele também dirigiu críticas ao Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que deveria considerar também metas sociais e não apenas de inflação. “A economia deve ter metas sociais, assim como a sociedade deve ter metas econômicas”, reforçou o assessor-chefe da presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Milko Matijasci. Para Carneiro da, Unicamp, as taxas de câmbio e de juros, pouco estáveis, produzem “um desestímulo ao financiamento e ao investimento”.

Milko Matijascic, do Ipea, afirmou que o sistema financeiro não cumpre seu papel de indutor do desenvolvimento e inclusão social, mantendo-se em uma “zona de conforto relativamente covarde”. “O nosso volume de crédito em relação ao PIB é pífio”, afirmou, lembrando que nos últimos anos houve redução na quantidade de bancos públicos e aumento dos bancos estrangeiros. “O atendimento bancário é uma politica pública e deve ser desenvolvida como tal”, disse o assessor. Segundo ele, há quase 500 municípios brasileiros sem agências e os bancos públicos, apesar de representaram 9,6% do total, concentram 40% das agências.

Berzoni afirmou que existem, basicamente, dois projetos para o país. Um prega o fortalecimento do Estado, “sem hipertrofias”, capaz de cumprir as suas funções constitucionais e infraconstitucionais. De outro, pelos próprios exemplos recentes, “há um histórico de privatização que tende a continuar em caso de vitória do candidato da oposição”. Ele também considera exageradas as atuais taxas de rentabilidade sobre o patrimônio líquido obtidas no setor financeiro, que podem chegar a 30% ou mais. “Os bancos vão migrar para taxas mais baixas. Esses 30% nada mais são do que expropriação da riqueza alheia.”

Fonte: Rede Brasil Atual

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