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Vacina sim!

O país que foi exemplo de vacinação patina contra o coronavírus

Nove de Junho é comemorado o ‘Dia Nacional da Imunização’, mas, neste ano, não há muito o que se celebrar; relembre momentos em que o Brasil já foi exemplo de vacinação para o mundo todo

Imprensa SMetal
Ricardo Stuckert
Em um ato simbólico, ex-governador de São Paulo, José Serra, brinca de vacinar o ex-presidente Lula, deixando as diferenças políticas de lado

Em um ato simbólico, ex-governador de São Paulo, José Serra, brinca de vacinar o ex-presidente Lula, deixando as diferenças políticas de lado

Os mais jovens podem não se recordar, mas o país já vivenciou uma doença epidêmica antes do coronavírus. Foi em 2010 quando líderes e governantes do mundo foram pegos de surpresa pela H1N1, conhecida à época como Influenza A, um vírus da gripe responsável por causar a chamada “gripe suína”.

Aos moldes da Covid-19, a Influenza era transmitida pelo ar e, dentre seus sintomas, reunia reações parecidas com a doença enfrentada desde 2020 em território mundial. O paciente diagnosticado podia sentir dores de cabeça, febre, tosse, cansaço, falta de ar e diarreia – como ocorre nos casos de infecção pelo coronavírus. O tratamento era realizado por meio de medicamentos específicos e repouso, além de isolamento social indicado durante o período em que a doença estivesse “ativa” no organismo.

Infelizmente, pelo desconhecimento do vírus que resultou na primeira crise global do século XXI, no Brasil cerca de duas mil pessoas perderam a vida para a H1N1. À época, para que a população fosse preservada, o governo federal aderiu a uma série de ações assertivas no controle à pandemia. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) respondeu ao pedido da Organização Mundial da Saúde (OMS) e, de imediato, solicitou a implantação de um sistema de barreira sanitária nos aeroportos das capitais brasileiras.

O Ministério da Vigilância e Saúde, cuja pasta era dirigida por Gerson Penna (hoje pesquisador da FioCruz), criou um Comitê de Gerenciamento de Crise que contava com governadores e prefeitos, além de representantes da vigilância, que trocavam informações e dados sobre os casos registrados no Brasil. Na época, uma foto emblemática do ex-governador José Serra (PSDB) com o ex-presidente Lula, em que um simula aplicar a vacina no outro, virou símbolo de que é possível (e necessário) colocar as divergências políticas de lado para beneficiar a população.

Lula incentivava publicamente a vacinação

Foram 16 meses da pandemia no mundo todo. Durante o período, bem como vemos atualmente, a “corrida da vacina” já havia começado e os países se organizavam para imunizar a população. No Brasil, não foi diferente. Em três meses de campanha, o país já havia imunizado cerca de 88 milhões de pessoas (quase metade da população) e viu o número de casos e óbitos caírem consideravelmente. Nenhum lugar no mundo vacinou com tanta qualidade quanto aqui.

Uma nova vacina pode causar estranhamento à população, mas o ex-presidente Lula fez diversas campanhas em apoio ao imunizante, circulou informativos e promoveu comerciais na televisão que, além de explicativos, se apoiavam na ciência para tranquilizar as pessoas e mostrar que, apenas desta forma, os impactos da pandemia poderiam ser reduzidos.

Antes mesmo do imunizante estar pronto e apto para ser aplicado, o Ministério da Vigilância e Saúde propôs um “mutirão” que tinha como objetivo fazer com que a população se protegesse, primeiramente, contra a gripe comum. Isso porque, desta forma, se evitaria que um caso viral simples pudesse evoluir para a “gripe suína” mais letal e agressiva.

Na vanguarda do retrocesso

Neste ‘Dia Nacional da Imunização’, comemorado em 9 de Junho, não há muito o que se celebrar. “A pandemia do coronavírus segue descontrolada no país e, o que causa indignação, é ver nossos entes e amigos queridos sendo levados por uma onda de negacionismo promovida pelo presidente da república. São pessoas que morrem de uma doença que já possuí vacina”, lamenta Leandro Soares, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região.

De acordo com dados organizados pela plataforma Our Word Data, da Universidade de Oxford, o país vacinou apenas 23 milhões de pessoas com as duas doses da vacina desde janeiro de 2021. Somente, 10,23% dos brasileiros tem sua vida protegida contra a Covid-19. Se dependesse de Jair Bolsonaro (sem partido) essa porcentagem seria ainda menor já que a vinda das vacinas – seja Coronavac, AstraZeneca ou Pfizer – foi mais negociada pelos governadores dos estados do que pelo próprio governo federal.

“Como se não bastasse, a CPI da Covid ainda expôs que o Ministério da Saúde de Bolsonaro rejeitou diversas ofertas de imunizantes. Só da Pfizer foram 53 e-mails não respondidos. Agora, os aliados do presidente tentam limpar a barra nos depoimentos, em sua maioria mentirosos, que fornecem aos relatores da Comissão”, aponta o secretário-geral do SMetal, Silvio Ferreira.

Negacionismo e movimento anti-vacina

Muito além de enviar as pessoas às covas, negar que uma vacina pode ser a salvação de uma patologia é um caminho perigoso. A Organização Pan-Americana de Saúde faz um alerta: doenças erradicadas estão voltando. Em 2016, durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, o país recebeu o certificado de eliminação da circulação do vírus do sarampo. Apenas dois anos depois, em 2018, um surto da doença foi confirmado – registrando ao menos 10 casos confirmados (e 12 mortes).

Com exemplos ruins, vindos de pessoas que ocupam cargos importantes, o Brasil também registra baixa adesão da imunização de doenças como a poliomielite. De acordo com dados do Ministério da Saúde, há 312 municípios brasileiros com menos de 50% da população vacinada contra a paralisia infantil – a recomendação da OMS é que esse percentual seja de 95% para erradicar a doença.

Além das doenças citadas, se o movimento negacionista e anti-vacinas perpetuar suas ideais, a rubéola e a difteria também podem voltar a solo brasileiro.

Vacina sim!

Diante desse cenário, a diretoria do SMetal endossa o coro dos cientistas, infectologistas e médicos e pede para que a categoria se vacine quando tiver a oportunidade. “O ato de aderir ao imunizante é um pacto social que vai muito além do individual. Ao me proteger estou, também, cuidando da vida das pessoas que amo”, comenta o secretario de organização do SMetal, Izidio de Brito, que, aos 60 anos, aguarda a segunda dose da AstraZeneca.

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