Após apenas seis meses da última data-base (setembro de 2021), o salário dos trabalhadores metalúrgicos já foi desvalorizado em 5,73%. O cálculo leva em consideração o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do período – de setembro do ano passado a fevereiro de 2022. O resultado é o maior desde 2016 e o segundo maior desde 2003.
No mesmo período do ano passado, o índice inflacionário da data-base estava em 5,37%
De acordo com os dados divulgados na manhã desta sexta-feira, 11, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o INPC teve um crescimento de 1% no mês passado, acumulando uma alta de 10,80% em 12 meses.
Para chegar ao valor do INPC, o IBGE analisa as variações de preços da cesta de consumo da população assalariada com mais baixo rendimento (famílias que recebem de um a cinco salários mínimos). Ele é verificado em 10 regiões metropolitanas.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), Leandro Soares, lembra que esse cenário é resultado de uma política desastrosa do atual governo. “Bolsonaro e Paulo Guedes não têm outro compromisso que não seja beneficiar os ricos, os empresários. Em três anos de governo, nada fizeram para conter a inflação e baixar os preços de tudo aquilo que é essencial para as pessoas. Pelo contrário, adotaram medidas de retirada de direitos e não garantiram nem ao menos aumento real nos salários”.
Cenário de caos
O índice divulgado pelo IBGE hoje (11) ainda não contabiliza o aumento nos preços da gasolina, diesel e do GLP (gás de cozinha), anunciados nesta quinta-feira, 10, pela Petrobras, mas deve ter reflexos em abril.
O reajuste da estatal, um dos maiores da história, eleva os preços nas refinarias da seguinte maneira: gasolina sobe 18,77%, diesel tem alta de 24,9% e, por fim, o gás de cozinha aumenta em 16,1%.
A decisão da Petrobras deve fazer com que o litro da gasolina e do diesel chegue ao consumidor acima dos R$ 7. Já o gás de cozinha tem previsão de atingir até R$ 140 por botijão de 13 quilos.
Para Fernando Lima, economista da subseção do Dieese do SMetal, se os preços reajustados pela estatal forem repassados integralmente ao consumidor, vai gerar um efeito cascata. “Com o diesel mais caro, sobe o valor do transporte, impactando diretamente no preço dos produtos. Além disso, o diesel é fundamental em diversos processos produtivos nas indústrias e o aumento do seu valor vai refletir no produto final”.
Leandro aponta que a política de preços praticada pela Petrobras só tem a finalidade de enriquecer os acionistas da empresa. “Com o processo de privatização da estatal, Bolsonaro adota a política de preço de paridade internacional (PPI). Isso quer dizer que os preços do nosso combustível seguem o mercado internacional e, com o dólar em alta, quem paga a conta é o trabalhador brasileiro, enquanto os acionistas – sobretudo os estrangeiros – chegaram a embolsar R$ 100 bilhões do lucro da empresa no ano passado”.
Leandro lembra que, nos governos Lula e Dilma, os preços para o consumidor não atingiam os valores exorbitantes de hoje. “Os governos progressistas, que defendiam o povo, a classe trabalhadora, tinham como política não repassar as variações de curto prazo dos preços internacionais do petróleo. Com isso, não tínhamos esse impacto tremendo como vemos atualmente”.
Tudo caro
Os dados apresentados pelo IBGE apontam que os produtos alimentícios aumentaram de 1,08% em janeiro para 1,25% no mês passado, já os itens de habitação saíram de 0,17% para 0,47% e educação de 0,23% subiu para 5,41%.
Em Sorocaba, a população continua pagando caro para garantir a alimentação básica. De acordo com levantamento do Laboratório de Ciências Aplicadas da Universidade de Sorocaba (Uniso), o preço da cesta básica sorocabana teve uma queda de 1,04% em fevereiro, quando comparada com o mês anterior.
Ainda assim, os R$ 977,44 pagos pelos sorocabanos na cesta básica consome 80,65% do salário mínimo, que atualmente é de R$ 1.212,00.
“Não é aceitável que o trabalhador viva dessa maneira. Quem levanta todos os dias cedo para ganhar o pão de cada dia deve ter direito à vida digna, sem preocupação se vai conseguir colocar um prato de comida na mesa da família. Afinal, quem produz e gera a riqueza desse país é a classe trabalhadora”, destaca Leandro.
Campanha Salarial 2022
Com a atual situação, a Campanha Salarial 2022 será um momento de grande desafio para os metalúrgicos. O secretário de finanças da Federação Estadual dos Metalúrgicos da CUT (FEM/CUT), Adilson Faustino (Carpinha), membro da diretoria do SMetal, diz que a categoria precisa estar preparada para a mobilização.
“O cenário que se desenha é parecido com o do ano passado e a inflação tende a continuar subindo. Seja qual for o resultado em setembro, nós sabemos que será uma campanha salarial difícil e que o patrão vai chorar muito na hora de negociar o reajuste. Por isso, o apoio e a mobilização dos trabalhadores serão fundamentais para dar forças a FEM e ao Sindicato nas negociações com as bancadas patronais”, afirma ele.
Leandro destaca que o SMetal está pronto para defender a categoria. “No ano passado, que fechamos a data-base com 10,42% de inflação, enfrentamos os empresários que queriam pagar um reajuste menor que esse valor e, em alguns casos, dividido em até três vezes. Com muita garra, conseguimos garantir a reposição integral do índice inflacionário ou mesmo aumento real para 96% da categoria. Portanto, que os patrões saibam que o Sindicato e os trabalhadores estão prontos para lutar e que não duvidem da nossa capacidade de mobilização”, finaliza.