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Entrevista

“Vivemos sob a égide de gigantescas fake news”, afirma Frei Betto

O escritor e jornalista Carlos Alberto Libânio Christo, Frei Betto, concede entrevista à Imprensa SMetal, na qual aborda a atual conjuntura política e social.

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Foguinho/Arquivo Imprensa SMetal
Frei Betto já realizou palestras no SMetal, em junho de 2017 para lançamento de livros e antes, em setembro de 2015

Frei Betto já realizou palestras no SMetal, em junho de 2017 para lançamento de livros e antes, em setembro de 2015

O escritor e jornalista Carlos Alberto Libânio Christo, Frei Betto, concede entrevista à Imprensa SMetal, na qual aborda a atual conjuntura política e social.

Diante a necessidade de resistir e compreender esse avanço da incitação à violência, ele afirma que “vivemos sob a égide de gigantescas fake news”.

Autor de 64 livros – acaba de publicar, “Por uma Educação Crítica e Participativa” (Editora Anfiteatro) – e ex-coordenador de Mobilização do Programa Fome Zero, Frei Betto é enfático ao dizer que nossa frágil democracia poderá sofrer um forte choque autoritário.

Imprensa SMetal: Como o senhor avalia o crescimento do PSL, partido de Bolsonaro, nas bancadas legislativas (estadual e federal), elegendo o ator Alexandre Frota, por exemplo?

Frei Betto: Todos nós precisamos de uma narrativa, uma cosmovisão que imprima sentido à nossa vida. Havia isso na esquerda até a queda do Muro de Berlim. Então a narrativa da esquerda se esfarelou. E as Igrejas evangélicas souberam preencher este vácuo, oferecendo aos fieis um discurso lógico, coerente e, sobretudo, transcendente – a chamada teologia da prosperidade. Além disso, em 13 anos de governo PT não cuidamos da alfabetização política do povo. Nosso discurso foi muito mais de melhorias de status – casa, carro, luz, escolaridade etc – do que de densidade subjetiva calcada em uma ideologia libertária.

Imprensa SMetal: Os discursos dos eleitores de Bolsonaro giram em torno dele ser um político “diferente”, mas como esse discurso pode ser aceito, se ele forma um clã político familiar? Da mesma forma, que alguns eleitores dele pregam que ele não é corrupto, sendo que há diversas denúncias de aumento de enriquecimento ilícito?

FB: Ninguém se deu conta dos 28 anos de mandatos do Bolsonaro, exatamente por ser ele um político obscuro. E frente ao descrédito com a política e os políticos, ele irrompe como um avatar de armas em punho pronto a enfrentar a vencer “o mal”… Exatamente como Hitler foi democraticamente eleito na Alemanha em 1933. E o único selo de corrupção que goza de veracidade junto à opinião pública é o da Lava Jato. E ele escapa disso. Portanto, nenhuma denúncia convence os eleitores dele, que a recebem como fake news.

Imprensa SMetal: O senhor publicou recentemente, a cartilha “Sexo, Orientação Sexual e Ideologia de Gênero”. Temas que são ainda tabus para muitos fiéis de várias religiões e que nestas eleições, acabam se tornando alvo de fake news (mentiras). Um exemplo: é o card que viralizou da candidata a vice-presidente, Manuela D´Avila, com uma camiseta escrita Jesus é trans. Por que mesmo sendo mentira, acabou repercutindo para alguns eleitores como verdade?

FB: Porque há uma predisposição mental nos eleitores conservadores de não acreditarem no discurso do PT, assim como os eleitores de Haddad não acreditam nas acusações feitas pelos bolsonaristas. E todos nós vivemos sob a égide de gigantescas fake news, como associar capitalismo e democracia; riqueza e felicidade; falta de escolaridade e ignorância; livre mercado etc.

Imprensa SMetal: Para o senhor, o que está em jogo nesse segundo turno das eleições 2018?

FB: O futuro do povo brasileiro. Se Bolsonaro vencer, nossa frágil democracia sofrerá um forte choque autoritário, como a criminalização dos movimentos sociais, a pecha de terrorismo nas ocupações de terras e tetos, e as forças policiais com sinal verde para matar com garantia de total impunidade. O futuro só verá luz se Haddad for eleito!

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