O esquema de fraude nas licitações da merenda em prefeituras paulistas e no governo de Geraldo Alckmin (PSDB) pode ter desviado pelo menos R$ 7 milhões em contratos com o poder público e R$ 2 milhões em comissões em propinas, que eram entregues a lobistas e servidores públicos quase sempre em dinheiro, segundo o Ministério Público paulista.
Segundo o promotor de Justiça Leonardo Romanelli, documentos apreendidos na segunda fase da Operação Alba Branca mostram que a Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf), que operava o esquema, assinou ao menos R$ 7 milhões em contratos com 20 cidades paulistas entre 2013 e 2015, para fornecer alimentos, em especial suco de laranja, para a merenda das escolas estaduais paulistas.
“A gente tem certeza de que os valores calculados até agora são muito maiores. Certamente, atingem só de propina e comissões ilegais, de R$ 700 mil até R$ 2 milhões. E sobre os contratos com o poder público, nós acreditamos que essa estimativa de R$ 7 milhões possa até triplicar”, afirmou Romanelli, ao portal G1, destacando que as propinas variavam entre 10% e 30% do valor total dos contratos, que eram acrescidos ao valor final, superfaturando os produtos vendidos.
“Assim que a prefeitura transferia o dinheiro para a conta da Coaf, um funcionário sacava a parte referente à propina e às comissões. Cada vendedor da Coaf era ligado a um lobista, e este a um agente público”, disse.
As novas denúncias contra a cooperativa apontam que a instituição desviou dinheiro federal, que deveria indenizar a cooperativa pelos produtos que sobravam. No entanto, a instituição comprava alimentos nos interpostos do Ceagesp, fazia doações para entidades filantrópicas com recibos e recebia dinheiro dos cofres da União que deveria ser usado para remunerar os pequenos produtores.
A força-tarefa que investiga o esquema quer saber se agentes públicos facilitaram a fraude nas licitações. Pelo menos duas das sete pessoas presas na segunda fase da operação Alba Branca, deflagrada na terça-feira (29), já prestaram depoimentos, entre elas, o diretor da Coaf Carlos Eduardo da Silva e o lobista Luís Carlos Silva Santos, conhecido como Português, que era responsável por intermediar as compras entre a Coaf e as prefeituras.
Ontem (31), o lobista Marcel Júlio, tido como o principal elo entre os políticos do PSDB de São Paulo e a máfia da merenda, se entregou à Polícia Civil em Bebedouro, interior do estado. Seu pai, o ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo Leonel Júlio, foi um dos presos na segunda fase da operação. Marcel seria o encarregado dos contatos junto às prefeituras.
O esquema começou a ser investigado no segundo semestre de 2015. Em janeiro, seis suspeitos, entre eles dois ex-presidentes da Coaf, principal investigada no caso, foram presos. Após acordo de delação, todos foram soltos e respondem ao processo em liberdade.
Protesto
Na tarde de ontem, torcedores do Corinthians ligados à Gaviões da Fiel, maior torcida organizada do time, realizaram um protesto contra os desvios na merenda em frente à Assembleia Legislativa.
Entoando gritos como “Eu não roubo merenda/ Eu não sou deputado/ Trabalho todo dia/ Não roubo meu estado…”, os manifestantes tinham como um dos principais focos o presidente da Assembleia, Fernando Capez (PSDB), delatado por receber propinas em desvio de merendas. Quando foi promotor de Justiça, Capez tentou diversas vezes fechar a Gaviões e outras torcidas organizadas da cidade.