Elas são 8.215. Com nomes, sobrenomes, funções e uma história particular que apenas elas sabem. As mulheres, atualmente, são 19,29% da base do SMetal, segundo dados de 2021, e elas desafiam diariamente a ideia de que a metalurgia é feita somente de homens – e para os homens.
De acordo com um levantamento feito pela subseção dos metalúrgicos de Sorocaba do Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicos (Dieese), em 19 anos houveram avanços significativos para elas nas metalúrgicas.
A começar pelo fato de que, ao longo do tempo, elas se profissionalizaram mais do que os homens. Os dados apontam que, em 2003, cerca de 18% das mulheres metalúrgicas tinham um diploma de ensino superior. Já em 2021, última base de dados disponibilizada, esse percentual saltou para 28%. Ao passo em que pouco mais de 17% dos homens da base possuem um diploma de graduação.
Mulheres ocupam espaços
Na visão de Gisele Alves, trabalhadora da Apex Tool há 21 anos, as mulheres possuem competência e formação, mas precisaram enfrentar, ao longo das décadas, questões mais complexas como o machismo e a falta de oportunidades. “Quando eu entrei no mercado de trabalho não tinha muita mulher trabalhando na área de maquinário, mas hoje em dia em qualquer setor que você vai na firma tem. Acho isso muito bacana porque a gente tem competência para isso”, comenta.
Ela dedicou 26 anos de sua vida para progredir na carreira metalúrgica, passando por diversos setores da fábrica até chegar à atual posição no Centro de Distribuição (CD) da empresa e atuar com a coletagem e envio de materiais para clientes da Apex. Para ela, desde então muita coisa mudou.
Assim também pensa Jayanne Nicácio, de 29 anos, que atualmente é operadora de produção na Nal do Brasil. A metalúrgica utiliza o exemplo das montadoras para falar sobre o avanço que observa. “A gente vê a indústria hoje e o cenário é diferente porque tem mais oportunidades. Em uma montadora que antes só tinha homens – a Toyota por exemplo – hoje é um espaço que tem bastante mulheres na linha de produção”, reforça.
Quem chegou há pouco tempo na metalurgia também observa desafios atuais. Marisa Inada está há dois anos como funcionária na Dana. “Ingressei na área no fim da pandemia e tinha perdido dois empregos, tive a oportunidade e agarrei. Digo que é desafiador pois mudar de profissão radicalmente não foi fácil”, conta.
Para ela, as empresas têm um papel fundamental de fomentar a participação de mulheres na metalurgia. “Penso que as fábricas deveriam conscientizar os funcionários a terem mais respeito e acolhimento ao gênero feminino”, comenta. Ainda nesse sentido, Marisa reforça que diretrizes e programas que privilegiam a contratação feminina são essenciais “para garantir mais equidade no ambiente de trabalho”.
Gerência e liderança
Os números do Dieese também mostram que mais de 40% das mulheres metalúrgicas trabalham predominantemente em cinco funções: alimentadoras de linha de produção; operadoras de linha de montagem de aparelhos eletrônicos; assistentes administrativo; operadoras de máquinas operatrizes e auxiliares de escritório.
A metalúrgica Gisele Alves diz que, para o futuro, seu sonho é “ver mais mulheres em cargos de liderança”. Os dados levantados pelo Dieese apontam que, em 19 anos, a porcentagem de mulheres em cargos de diretoria, gerência e supervisão saltou de 12% para 21%.
“Tem um tipo de preconceito, né? Acham que a mulher é o sexo frágil e que tem trabalhos dentro de uma fábrica que somente os homens conseguiriam fazer e a realidade não é essa”, afirma Jayanne Nicácio.
Na concepção do Sindicato, ainda há margem para avanços mais significativos. “Nossa direção luta para que a paridade entre os gêneros seja um assunto cada vez mais abordado dentro das empresas metalúrgicas e, futuramente, espera que o tema da diversidade esteja ainda mais avançado, alcançando recortes de raça, orientação sexual e inclusão social”, diz o Coletivo de Mulheres do SMetal.