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Editorial

Um retrocesso que causa dor e custa vidas

O editorial da Folha Metalúrgica nº 872 aborda o aumento dos excluídos no país. Com a falta de políticas públicas sociais, por parte do governo golpista, o Brasil pode voltar ao Mapa da Fome.

Imprensa SMetal

Sabe aquelas cenas de pedintes nos semáforos, de cidadãos tentando sustentar a família por meio de trocados obtidos com “bicos”, de aumento no número de moradores de rua, de construção de moradias precárias, de adultos e crianças implorando por moedas para comprar um salgado que seja para comer?

Infelizmente essas cenas não são casos isolados, nem na região de Sorocaba, nem no Brasil. São sintomas. São indícios de que o país recuou em décadas no combate à fome e à miséria.

A volta do Brasil ao mapa da fome mundial consta em uma relatório elaborado por mais de 40 instituições sociais que monitoram o controle da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a miséria no planeta.

O relatório será entregue oficialmente à ONU na próxima semana, durante a reunião do Conselho Econômico e Social, em Nova York.

Não foi fácil nem rápido tirar o Brasil do desumano mapa da fome. Foram décadas de esforços coletivos de uma parcela da sociedade, potencializados por políticas públicas de transferência de renda e inclusão social.

Durante a ditadura militar, a miséria no país era escondida ou romantizada pelo regime, como se a injustiça social fosse uma espécie de prova de resistência da população carente que conseguia sobreviver à penúria.

O combate sistêmico à miséria, com participação das organizações sociais, começou a tomar forma em 1993, quando o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, divulgou o primeiro Mapa da Fome do Brasil. O estudo revelou existirem 32 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza na época.

Milhares de comitês da Ação da Cidadania, criada por Betinho, espalharam-se pelo país. Uma das medidas emergenciais foi a campanha Natal Sem Fome, que tinha por finalidade pôr comida à mesa das pessoas e famílias carentes no final do ano, enquanto as organizações sociais articulavam formas de gerar emprego e renda para a parcela mais pobre da sociedade.

Em Sorocaba, por quase duas décadas, um dos principais articuladores do Natal Sem Fome foi o Sindicato dos Metalúrgicos, que, ainda nos anos 90, organizou iniciativas complementares de inclusão, como o Movimento pela Qualificação do Trabalhador e o Fórum de Desenvolvimento Regional. Todos com ampla participação de entidades assistenciais, sindicatos de trabalhadores, Igrejas, associações, movimentos sociais, estudantes, acadêmicos, lojistas e empresários progressistas.

Em 2003, o programa Fome Zero do presidente Lula deu novo impulso às iniciativas do gênero. Bancos de Alimentos, como o que foi implantado em Sorocaba em 2005, foram organizados em todas as regiões do país.

O esforço social se concretizou com a implantação do Bolsa Família, pago às famílias carentes que mantinham seus filhos na escola, o que colaborava também na erradicação do analfabetismo e na formação cidadã das crianças.

Em 2015, um relatório da ONU informou que o número de pessoas que passavam fome do Brasil havia caído 82% em 12 anos (2002 a 2014). O país havia, finalmente, conseguido sair do mapa da fome. Isso significa ter menos de 5% da população abaixo da linha da miséria.

Agora, dois anos depois, a população está ameaçada com um recuo tenebroso. Mais do que estatísticas, são seres humanos, brasileiros, vizinhos, amigos, irmãos, pais e mães de família, filhos que estão submetidos à dor da fome e ao desespero da miséria.

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