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Último dia da FLIS estimula acesso à leitura e cultura

Mais de 500 pessoas passaram pela 1ª Feira Literária do SMetal, que reuniu editoras e artistas ao longo do sábado e domingo, aberta para o público geral; confira a galeria de fotos

Gabriela Guedes/Imprensa SMetal
Foguinho/Imprensa SMetal

A última palestra da FLIS foi do escritor Fernando Morais, que contou sobre “Como escrever um best-seller”.

Encerrou neste domingo, 29, a 1ª FLIS, Feira Literária do SMetal (Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região), realizada na sede da entidade, que reuniu editoras, escritores e artistas brasileiros com o objetivo de incentivar a leitura e promover o acesso à arte e à cultura. A FLIS encerra no Dia Nacional do Livro e, neste ano, teve o tema “Ler para conhecer, conhecer para transformar”.

O presidente do SMetal, Leandro Soares, esteve presente e deixou sua saudação. “Nós do SMetal estamos muito felizes em receber esse evento aqui. A cultura sorocabana está muito viva, falta apenas vontade do poder público em valorizá-la através de políticas públicas”, afirma.

Tiago Almeida do Nascimento, dirigente do SMetal, destaca que mesmo com chuva, o evento foi um sucesso. Ele aponta que mais de 500 pessoas passaram pela atividade ao longo dos dois dias.

“Não existe sociedade que não preserve sua cultura. O sindicato preserva e reconhece que a leitura é uma das poucas formas que nós temos de ampliar, desenvolver e compartilhar conhecimento. Por isso, não somente a feira literária, mas todos os serviços e atividades que o sindicato desenvolve, terão sempre a cultura compondo de fundo”, conta o dirigente.

Fernanda Ikedo, jornalista que foi curadora do evento, destaca a troca de conhecimento e saberes entre público e artistas do evento. “Foi muito rica. Mostra que Sorocaba tem muitos escritores, artistas e público para prestigiar. Só precisa de espaço e investimento, por isso o apoio do SMetal é muito importante”.

Confira aqui como foi o primeiro dia da FLIS.

Uma nova colonização 

Após um sábado recheado de atividades culturais (hiperlink), o domingo começou com a palestra do professor e sociólogo Sérgio Amadeu sobre “Big Techs e IA: uma nova colonização”, que discutiu os problemas da dependência tecnológica do Brasil em relação à grandes corporações que monopolizam a estrutura que armazena dados no mundo, como o Google.

O professor explica que é necessário que o Brasil busque constituir a soberania digital e de dados, pois hoje até o ato de abrir e fechar as portas pode gerar uma imensa quantidade de informações e é a partir delas que se automatizam as máquinas – chamadas de Inteligência Artificial.

“A maior expressão cultural de uma sociedade é a tecnologia. No mundo digital, os metadados geram uma infinidade de dados que estão sendo coletados e  92% deles estão armazenados nos EUA. E temos como reverter isso,  tem como sermos soberanos”, ressalta.

Palestras sobre literatura

Fabiana Ferraz, é escritora e moderadora do Clube de Escrita de Sorocaba, premiada pelo livro “Se eu morresse amanhã” pela Associação Brasileira de Romance Policial Suspense e Terror (ABERST) em 2022, um romance policial que se passa no Rio de Janeiro na década de 1950. Fabiana ressalta a importância deste evento para o conhecimento. 

 “É importante que esse tipo de evento aconteça para que possamos atingir novos públicos, além de conhecermos novos autores e trabalhos”. 

Lançamentos

No período da tarde do domingo, a editora Baderna lançou seu selo infantil “Baderninha”, contando a história do livro “Riso de Luiza”, de Bruna Burkert.

Outro livro lançado na FLIS foi o “Histórias para quem dormir: expondo os contos de fadas para o despertar”, com a presença das escritoras, Nicole Aun e Alessandra Rodrigues, participantes do Movimento Atreva-se, que questionam o machismo nas histórias infantis para meninas.

Encerramento com chave de ouro

A última palestra da FLIS foi do escritor Fernando Morais, que contou sobre “Como escrever um best-seller”. Ele é autor de diversas biografias que foram líderes de venda, como “Olga”, lançado em 1994, e sua mais recente biografia, “Lula, vol. 1”, que conta parte da trajetória do presidente do Brasil.

O escritor aponta cinco principais passos para escrever uma boa reportagem de fôlego: escolher um bom personagem ou tema; realizar uma pesquisa aprofundada com entrevistas, análise de documentos e acervos públicos ou privados; em um terceiro momento, organizar a pesquisa para, assim; organizar o material em introdução, desenvolvimento e conclusão do livro ou reportagem; depois, é necessário revisar e editar o material e, por fim, constituir relações com o ambiente editorial.

Ele alerta, porém, que apenas bons leitores são bons escritores, o que por si só não é o suficiente. “A sorte me ajudou muito”. Além disso, destaca que “não basta ter informação importante se você não faz um esforço brutal e se você não escrever com elegancia”.

Por fim, ele deixa uma dica: termine os capítulos “para cima”. Ele enfatiza que os capítulos devem deixar no leitor a vontade de seguir lendo. 

Saúde mental e a luta antimanicomial

Neste domingo também aconteceu uma roda de conversa com o Fórum de Luta Antimanicomial de Sorocaba (FLAMAS), que abordou a importância de tratar a saúde mental sem estigmas. 

Um dos exemplos citados é a técnica da redução de danos, utilizada por profissionais para combater a dependência química. A psicóloga Ingrid Hobuss destaca que “falta muita informação sobre a questão das drogas. Se a pessoa sabe como funciona e os efeitos que causa, ela entende como se cuidar”.

Sorocaba já foi considerada um pólo de manicômios no Brasil, que em sua maioria foi denunciado pelo FLAMAS por mortes acima da média e maus tratos de pacientes.

Cultura e música

Ao longo do dia, diversas apresentações musicais e culturais foram realizadas. Teve apresentação do Slam das Minas; do músico Rolando Beltran e do quarteto de jazz, Toog.

Além disso, foi realizada uma oficina de Haikai, um gênero japonês de poesia, com o tema “De Haikai em Haikai se chega a Shangai”, onde os participantes aprenderam a escrever neste estilo.

Simultâneo às apresentações, tendas de editoras como Expressão Popular, Leitura e No Caminho do Sol disponibilizaram seus livros para venda, além de artesanatos e roupas, que também estavam sendo vendidos.

“Achei incrível toda a experiência que vivi aqui porque é uma troca que reúne pessoas com várias vivências diferentes”, conta João Vinícius Darienço, escritor amador que participou dos dois dias do evento.

A FLIS foi encerrada com apresentação de Rosa Paiva, com “Em pele de folha, rio me criou” e logo após com um sarau de microfone aberto para quem quisesse participar.

Confira a galeria de fotos

Confira os 30 livros-reportagens de leitura indispensável para profissionais do jornalismo de não ficção indicados por Fernando Morais.

1 – A aventura de Miguel Littín clandestino no Chile – G.G. Márquez (Record)

Reconstrução emocional de uma aventura, driblando riscos e ameaças do poder militar. Relata a visita clandestina do diretor de cinema chileno Miguel Littín em 1985 a seu país, sob a ditadura Pinochet, depois de 12 anos de exílio.

2 – A Canção do Carrasco – Norman Mailer (Nova Fronteira)

Um épico americano que transformou a história real do assassino Gary Gilmore, condenado à cadeira elétrica,  em uma potente balada sobre o amor, violência e morte. Valeu ao autor o prêmio Pulitzer de 1979.

3 – Coleção Ditadura (Volumes I, II, III, IV e V) – Elio Gaspari (Intrínseca)

A mais aclamada obra sobre a ditadura militar de 64 no Brasil. Concebido a partir de centenas de entrevistas e de documentos secretos legados ao autor pelo general Golbery do Couto e Silva. Cobre todos os anos do regime militar. Fundamental para a compreensão da história recente do Brasil.

4 – A festa do Bode – Vargas Llosa (Alfaguara)

A Festa do Bode é um dos livros mais importantes do peruano Mario Vargas Llosa. Com uma pesquisa histórica rigorosa e uma preocupação obsessiva pelos detalhes, ele recria uma República Dominicana para recontar a história do general Rafael Leônidas Trujillo – o Bode – que culmina com o assassinato das irmãs Pátria, Minerva e Antônia Mirabal, opositoras da ditadura.

5 – A grande guerra pela civilização – David Fisk (Planeta)

Mescla de relato de guerra e memórias do jornalista britânico David Fisk, que entrevistou Osama bin Laden três vezes e passou as últimas três décadas embrenhado nos campos de batalha do Oriente Médio. O livro é um apaixonado grito contra as mentiras que mandaram soldados para a morte e mataram milhares de homens e mulheres ao longo do século passado.

6 – A sangue frio – Truman Capote (Companhia das Letras)

Relata o brutal assassinato de uma família no interior do Kansas, desde a ideia inicial do crime até a execução dos assassinos. É considerado um dos pioneiros do chamado “new journalism”.

7 – Aos olhos da multidão – Gay Talese (Companhia das Letras)

Uma série de reportagens também no estilo “new journalism”. Histórias de gente famosa e de trabalhadores anônimos. Um verdadeiro manual de como escrever boas reportagens.

8 – Bom dia para os defuntos – Manuel Scorza (Civilização Brasileira)

Juntando realismo mágico e novo jornalismo, Scorza relata a luta de indígenas peruanos para recuperar suas terras, roubadas com o apoio do governo por grandes latifundiários e por uma empresa norte-americana, a Cerro de Pasco Corporation.

9 – Dez dias que abalaram o mundo – John Reed (Penguin/Companhia)

Narra os acontecimentos na cidade de Petrogrado durante a Revolução Russa de 1917. Foi adaptado para o cinema com o nome de “Reds”.

10 – Um diário do ano da peste – Daniel Defoe (L&PM)

Uma inquietante e informada reportagem sobre a peste bubônica que dizimou setenta mil vidas em Londres em 1665. A tragédia ocorreu seis anos antes do nascimento do autor, que se celebrizou por outro livro, o clássico “Robinson Crusoé”.

11- Dias e noites de amor e de guerra – Eduardo Galeano (L&PM)

Pequenas histórias e relatos vividos pelo autor uruguaio em tempos de violência e intolerância, numa época em que as ditaduras militares com enorme violência ocupavam quase a totalidade dos países latino-americanos.

12 – Esqueleto na Lagoa Verde – Antonio Callado (Companhia das Letras)

Callado, neste livro, conta a história, ocorrida em 1925, em que o oficial britânico Percy Fawcett tenta localizar um Eldorado na selva brasileira, mas acaba desaparecendo misteriosamente para sempre.

13 – Esta noite a liberdade – Larry Collins e Dominique Lapierre (Ediouro)

Livro-documento que descreve com riqueza de detalhes a epopeia do povo indiano e os acontecimentos que resultaram na independência da Índia.

 

14 -Getúlio (I, II e III) – Lira Neto (Companhia das Letras)

Nesta trilogia o autor acompanha Getúlio Vargas desde suas origens em São Borja até o suicídio em agosto de 1954.

15 – Marighella – Mário Magalhães (Companhia das Letras)

Ao contar a história pessoal do líder guerrilheiro Carlos Marighella, o autor traça um painel mais amplo, apresentando a história dos movimentos radicais de esquerda no Brasil e no mundo.

16 – Minha razão de viver – Samuel Wainer (Planeta e Amazon)

Relato autobiográfico de um dos mais importantes jornalistas brasileiros, Samuel Wainer, criador do jornal Última Hora. O livro é resultante de uma sucessão de depoimentos gravados por Wainer, editados por Augusto Nunes e pela artista plástica Pinky Wainer, filha do personagem. Reeditado pela Planeta o livro está disponível em sebos digitais e, em e-book, na Amazon.

17 – Notícia de um sequestro – Gabriel García Márquez (Record)

A partir do sequestro de Maruja Pachón e Beatriz Villamizar, em novembro de 1990, este livro-reportagem trata de diversos raptos e aprisionamentos de figuras proeminentes da Colômbia pelos narcotraficantes do Cartel de Medellín, liderado por Pablo Escobar.

18 – O anjo pornográfico – Ruy Castro (Companhia das Letras)

Biografia do dramaturgo Nelson Rodrigues onde o autor mostra os bastidores, o cotidiano, as tragédias e emoções que inspiraram sua vida.

19 – O Imperador – Ryszard Kapuściński (Companhia das Letras)

A partir de criados e serviçais do monarca, o repórter polonês Ryszard Kapuściński retrata o tempo de governo do Imperador HailéSelassié I, que passou 40 anos à frente da Etiópia.

20 – O rei do mundo – David Remnick (Companhia de Bolso)

Reconstituição da história de Muhammad Ali, o maior lutador de boxe de todos os tempos. Repleto de detalhes saborosos e fotos reveladoras, o livro mostra Ali como uma invenção de si mesmo: desde o menino Cassius e sua infância em Louisville até os treinos obsessivos e a mu- dança de nome e de religião.

21 – O reino e o poder – Gay Talese (Companhia das Letras)

Neste livro, considerado um clássico do “new journalism”, Talese retrata a história do jornal The New York Times desde sua fundação, em 1896 até atingir o auge de confiança de público e credibilidade de notícias.

22 – O verão perigoso – Ernest Hemingway (Bertrand Brasil)

O livro narra a ascensão de Antonio Ordóñez (o filho de Cayetano Ordóñez, o toureiro que havia inspirado Hemingway a criar o personagem Pedro Romero de “O sol também se levanta”) durante a temporada de touradas de 1959 na Espanha.

23 – O voo da águia – Ken Follet (Record)

A história real do megaempresário americano Ross Perot e sua missão para salvar dois reféns do regime dos aiatolás. O romance foi escrito a partir de depoimentos verídicos e narra a operação de resgate que o empresário organizou quando descobriu que dois de seus diretores estavam presos no Irã.

24 – Operación Carlota – Gabriel García Márquez

Extensa reportagem feita por García Márquez para publicação em série em alguns veículos latino-americanos. Trata da participação do Exército cubano na guerra de libertação de Angola. Foi lançada em livro apenas em Cuba, em edição esgotada. Disponível em espanhol, pode ser acessada aqui.

25 – Os sertões – Euclides da Cunha (Penguin/Companhia)

Obra narrativa que mistura literatura, sociologia, filosofia, história, geografia, geologia e antropologia, cujo tema principal é a Guerra de Canudos. Escrito originalmente para o jornal O Estado de S. Paulo, onde foi publicado em série.

26 – Relato de um náufrago – G.G. Márquez (Record)

História real do naufrágio de um destroier colombiano no qual, de oito tripulantes, só um sobreviveu. O título completo, o mais longo de toda a obra de García Márquez, é “Relato de um náufrago que esteve dez dias à deriva numa balsa, sem comer nem beber, que foi proclamado herói da pátria, beijado pelas rainhas da beleza e ficou rico com a publicidade e depois foi malquisto pelo governo e esquecido para sempre”.

27 – Santa Evita – Tomás Eloy Gutierrez (Companhia das Letras)

Este livro é considerado uma das melhores biografias de Eva Perón. Quando ela morreu, em 1952, seu marido, o general Juan Domingo Perón, ordenou que seu corpo fosse embalsamado e exposto à nação argentina numa redoma de vidro. Escrita sob a forma de romance, a obra do falecido escritor argentino é integralmente baseada em pesquisas e entrevistas jornalísticas.

28 – Tiradentes – Lucas Figueiredo (Companhia das Letras)

O autor reconstitui a trajetória do alferes desde a juventude, como mascate, até seu envolvimento na Conjuração Mineira.

29 – Vietnã do Norte – Antonio Callado (Civilização Brasileira)

Resultado da cobertura que o autor fez naquele país durante a guerra, trazendo preciosas informações da selvagem agressividade norte-americana contra o povo vietnamita.

30 – Xá dos Xás – Ryszard Kapuściński (Companhia das Letras)

Retrato minucioso do último monarca iraniano Mohammad Reza Pahlevi, deposto pelos aiatolás em 1979.

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