Os trabalhadores na fábrica da Marcedes-Benz em São Bernardo cruzaram os braços e decidiram paralisar a produção durante esta quarta-feira (04/05). A decisão foi tomada em assembleia nesta manhã, junto ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC para mobilizar a categoria e “mandar um recado à empresa”, após declarações emitidas pelo presidente da montadora na semana passada sobre descartar a possibilidade de renovação do PPE (Programa de Proteção ao Emprego), que vence o período de estabilidade no final de agosto.
A produção está prevista para voltar ao normal nesta quinta-feira (05/05). O diretor do sindicato, Moises Selerges, ressaltou a importância de enfrentar as dificuldades e lutar para manter os empregos dos cerca de 9.800 funcionários na fábrica.
“Não podemos ficar esperando o prazo acabar para discutir alternativas com a empresa e estamos dispostos ao diálogo, mas isso ainda não começou. O presidente [da Mercedes] mentiu ao afirmar que estamos em negociação e ainda teve a intenção de colocar medo nos trabalhadores dizendo que não vai renovar acordo. Se a empresa quer nos amedrontar, temos que mostrar a nossa força”, disse.
O diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Moises Selerges, ressaltou a impotância de luta aos trabalhadores. Foto: Adonis Guerra
O diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Moises Selerges, ressaltou a impotância de luta aos trabalhadores. Foto: Adonis Guerra
De acordo com Selerges, representantes da área de Recursos Humanos da fábrica entraram em contato com o sindicato para marcar reunião nesta sexta-feira (06/05). O conteúdo a ser discutido não foi revelado. “O nosso recado com essa paralisação é lutar caso a conversa seja sobre demissões ou falta de disposição para buscar alternativas de manter empregos. Hoje [a paralisação] é recado, mas se continuar esse comportamento, semana que vem tem mais”, afirmou o sindicalista.
SEM COMEMORAÇÕES
A insegurança sobre os rumos que a empresa pode adotar é motivo de preocupação para o soldador Francisco Carvalho Sá, que trabalha na montadora há 25 anos e está a seis anos para se aposentar. “A chefia pressiona e ao mesmo tempo comemora os 60 anos de empresa falando que não vai renovar o PPE. Não temos o que comemorar nesse momento. Minha família está apreensiva e eu não sei o dia de amanhã”, disse.
Já um dos trabalhadores na linha de montagem, que não quis ser identificado, apontou a preocupação a respeito da falta de transparência da empresa e apoiou a paralisação da produção por um dia. “Não sabemos o que é melhor neste momento, mas tenho certeza que precisamos lutar pelo nosso emprego e pelo sustento da nossa família”, relatou.
LICENÇA REMUNERADA
Atualmente, a montadora mantém 1.500 trabalhadores em licença remunerada desde fevereiro deste ano. A medida foi adotada para adequar a queda nas vendas à produção. Esses trabalhadores estão contemplados pelo PPE (Programa de Proteção ao Emprego) e têm a jornada reduzida em 20%, o que significa que já não estavam trabalhando um dia por semana desde setembro de 2015, quando o acordo foi firmado.
Entre os trabalhadores deste grupo, o temor das demissões é ainda maior. “Parece que estão deixando a gente de molho e ficamos apreensivos com a decisão de nos afastar para depois sermos os primeiros demitidos”, desabafou Celso Lino, que trabalha como funileiro há cinco anos na unidade.