Busca
Busca
São Paulo

Trabalhadores da CPTM decidem retornar ao trabalho

Categoria mantém estado de greve e pode parar novamente no dia 12, se não houve avanços na negociação do dia 11. Retomada da operação vai ser gradativa até o final da tarde

Rede Brasil Atual/Rodrigo Gomes
FERNANDO STANKUNS

Segundo a empresa, a paralisação afetou cerca de 500 mil dos 3,5 milhões de passageiros diários

São Paulo – Os ferroviários paulistas decidiram suspender a paralisação iniciada hoje (3) e vão retomar gradativamente as atividades até o final da tarde. Segundo Eluís Alves de Matos, presidente do Sindicato dos Ferroviários de São Paulo – um dos quatro que organizam a categoria -, os trabalhadores avaliaram que a população deve ter “respeitada a volta pra casa”. O procedimento, no entanto, deve levar algumas horas, por conta da extensão da rede e de questões de segurança. A categoria decidiu parar hoje devido ao travamento da negociação salarial pela Companhia Paulista de Trans Metropolitanos (CPTM).

Dos quatro sindicatos que compõem a categoria, dois pararam as atividades: Os ferroviários da Central do Brasil (linhas 11-Coral e 12-Safira) e de São Paulo (linhas 10-Turquesa e 7-Rubi). O sindicato da Zona Sorocabana (linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda) e dos Engenheiros não aprovaram paralisação nas assembleias realizadas na noite de ontem (2). Todos, porém, rejeitaram as duas propostas apresentadas pela companhia.

Os trabalhadores voltam à mesa de negociação no Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT-2) no dia 11. Até lá, fica mantido o estado de greve, como possibilidade de nova paralisação na sexta-feira (12). A greve afetou totalmente a circulação das linhas 10, 11 e 12, e parcialmente a da linha 7.

Ontem, após quatro horas de negociação, a CPTM manteve a proposta de reajuste de 7,72% nos salários – apresentado na semana passada – e de 10% nos benefícios. Como opção, apresentou correção linear de 8,25%, para salário e benefícios. O primeiro valor defendido pela empresa era de 6,65%, equivalente à inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC), calculado pela Fipe, entre março de 2014 e fevereiro de 2013. A data-base é 1º de março.

Os trabalhadores querem um índice de 9,29%, equivalente à inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC, do IBGE) – acumulado em 7,68% em 12 meses, até fevereiro – com 1,5% de aumento real, além de equiparação dos benefícios com os valores pagos ao Metrô.

Acordo

O mediador das negociações no TRT, desembargador Wilson Fernandes, apresentou uma proposta de acordo de 8,5% de reajuste para salários e benefícios, que a categoria indicou aceitar. Pela proposta do desembargador, o vale-alimentação chegaria a R$ 268, ante os atuais R$ 247, e o vale-refeição iria de R$ 600 para R$ 651. A participação nos resultados passaria ter valor mínimo de R$ 3.849, com o reajuste de 8,5% aplicado também às parcelas fixa e variável.

“Temos de considerar que esse valor vai ser aplicado sobre a aposentadoria e o FGTS. E também sobre horas extras, adicionais noturno e de insalubridade”, avaliou Eluís Alves de Matos, presidente do Sindicato dos Ferroviários de São Paulo, explicando a concordância com a proposta. No entanto, após consultar a diretoria da empresa, os representantes da CPTM disseram que as propostas finais da companhia eram as citadas.

O desembargador criticou a postura da CPTM. “O que falta – 0,25 ponto percentual – equivale a cerca de 80% de um dia de arrecadação. Vai sair mais caro enfrentar a greve. Inclusive, fazendo as contas, é claro que o custo seria muito mais político do que financeiro”, afirmou Fernandes, ao final de reunião de ontem.

Sem acordo, parte dos trabalhadores decidiu pela greve “para dar um recado à CPTM”. Porém, na manhã de hoje o secretário Estadual de Transportes Metropolitanos, Clodoaldo Pelissioni, ameaçou os trabalhadores com descontos dos dias paradas e demissões. “Nós entraremos com pedido (no TRT) solicitando a ilegalidade da greve, o corte de ponto dos funcionários faltantes, inclusive com a possibilidade de demissões caso essa ilegalidade seja decretada. Esperamos que isso ocorra”, disse, em entrevista coletiva na manhã de hoje. Em nota divulgada a noite de ontem, a CPTM considerou “irresponsável” a decisão dos sindicatos, já que as negociações continuam.

“Isso não intimida ninguém. Não estamos no momento do julgamento da greve. Estamos em negociação e a empresa está intransigente. Não cometemos ilegalidade e vamos voltar ao debate na quinta-feira”, respondeu o presidente dos Ferroviários de São Paulo.

No dia 22, o TRT concedeu liminar à CPTM, proibindo a liberação de catracas pelos trabalhadores e determinando um contingente mínimo de operação do sistema em caso de greve. Nos horários de pico, deve ser mantido 90% do efetivo de maquinistas e 70% das demais atividades – e 60% de todos os trabalhadores nos demais horários. Os trabalhadores acreditam ter cumprido a liminar, mas não souberam precisar a adesão ao movimento.

Participação nos Resultados

Outro ponto que deve dificultar o acordo entre empresa e trabalhadores é a proposta da CPTM de condicionar o pagamento de Participação nos Resultados (PR) ao cumprimento de metas consideradas “inatingíveis” pelos trabalhadores. A proposta é semelhante a apresentada ontem pelo Metrô aos metroviários.

O pagamento mínimo do benefício já está atrelado a duas metas: assiduidade do trabalhador e número de passageiros transportados. No entanto, as parcelas fixa e variável teriam outras metas, que foram discutidas apenas no conselho administrativo da empresa. E que os trabalhadores não aceitam. A entrega da estação Poá e do pátio Varginha, e a instalação de cabines seccionadoras nas estações Grajaú e Pinheiros eram algumas delas.

“Essas metas não têm como ser atingidas. Não tem nem orçamento para essa obra ainda. São coisas inatingíveis e que não dependem dos trabalhadores”, afirmou o presidente do Sindicato dos Engenheiros, Feres Mohamad Amin. “Por que colocar metas que são inatingíveis? Aceitamos metas que tenham desafio, que a gente pode correr atrás e conseguir”, completou Matos. O desembargador Fernandes propôs que as metas sejam debatidas no núcleo de negociação do tribunal.

tags
cptm Eluís Alves de Matos ferroviários greve IBGE são paulo Sindicato dos Ferroviários de São Paulo Tribunal Regional do Trabalho TRT Wilson Fernandes Zona Sorocabana
VEJA
TAMBÉM