São Paulo – Os ferroviários paulistas decidiram suspender a paralisação iniciada hoje (3) e vão retomar gradativamente as atividades até o final da tarde. Segundo Eluís Alves de Matos, presidente do Sindicato dos Ferroviários de São Paulo – um dos quatro que organizam a categoria -, os trabalhadores avaliaram que a população deve ter “respeitada a volta pra casa”. O procedimento, no entanto, deve levar algumas horas, por conta da extensão da rede e de questões de segurança. A categoria decidiu parar hoje devido ao travamento da negociação salarial pela Companhia Paulista de Trans Metropolitanos (CPTM).
Dos quatro sindicatos que compõem a categoria, dois pararam as atividades: Os ferroviários da Central do Brasil (linhas 11-Coral e 12-Safira) e de São Paulo (linhas 10-Turquesa e 7-Rubi). O sindicato da Zona Sorocabana (linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda) e dos Engenheiros não aprovaram paralisação nas assembleias realizadas na noite de ontem (2). Todos, porém, rejeitaram as duas propostas apresentadas pela companhia.
Os trabalhadores voltam à mesa de negociação no Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT-2) no dia 11. Até lá, fica mantido o estado de greve, como possibilidade de nova paralisação na sexta-feira (12). A greve afetou totalmente a circulação das linhas 10, 11 e 12, e parcialmente a da linha 7.
Ontem, após quatro horas de negociação, a CPTM manteve a proposta de reajuste de 7,72% nos salários – apresentado na semana passada – e de 10% nos benefícios. Como opção, apresentou correção linear de 8,25%, para salário e benefícios. O primeiro valor defendido pela empresa era de 6,65%, equivalente à inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC), calculado pela Fipe, entre março de 2014 e fevereiro de 2013. A data-base é 1º de março.
Os trabalhadores querem um índice de 9,29%, equivalente à inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC, do IBGE) – acumulado em 7,68% em 12 meses, até fevereiro – com 1,5% de aumento real, além de equiparação dos benefícios com os valores pagos ao Metrô.
Acordo
O mediador das negociações no TRT, desembargador Wilson Fernandes, apresentou uma proposta de acordo de 8,5% de reajuste para salários e benefícios, que a categoria indicou aceitar. Pela proposta do desembargador, o vale-alimentação chegaria a R$ 268, ante os atuais R$ 247, e o vale-refeição iria de R$ 600 para R$ 651. A participação nos resultados passaria ter valor mínimo de R$ 3.849, com o reajuste de 8,5% aplicado também às parcelas fixa e variável.
“Temos de considerar que esse valor vai ser aplicado sobre a aposentadoria e o FGTS. E também sobre horas extras, adicionais noturno e de insalubridade”, avaliou Eluís Alves de Matos, presidente do Sindicato dos Ferroviários de São Paulo, explicando a concordância com a proposta. No entanto, após consultar a diretoria da empresa, os representantes da CPTM disseram que as propostas finais da companhia eram as citadas.
O desembargador criticou a postura da CPTM. “O que falta – 0,25 ponto percentual – equivale a cerca de 80% de um dia de arrecadação. Vai sair mais caro enfrentar a greve. Inclusive, fazendo as contas, é claro que o custo seria muito mais político do que financeiro”, afirmou Fernandes, ao final de reunião de ontem.
Sem acordo, parte dos trabalhadores decidiu pela greve “para dar um recado à CPTM”. Porém, na manhã de hoje o secretário Estadual de Transportes Metropolitanos, Clodoaldo Pelissioni, ameaçou os trabalhadores com descontos dos dias paradas e demissões. “Nós entraremos com pedido (no TRT) solicitando a ilegalidade da greve, o corte de ponto dos funcionários faltantes, inclusive com a possibilidade de demissões caso essa ilegalidade seja decretada. Esperamos que isso ocorra”, disse, em entrevista coletiva na manhã de hoje. Em nota divulgada a noite de ontem, a CPTM considerou “irresponsável” a decisão dos sindicatos, já que as negociações continuam.
“Isso não intimida ninguém. Não estamos no momento do julgamento da greve. Estamos em negociação e a empresa está intransigente. Não cometemos ilegalidade e vamos voltar ao debate na quinta-feira”, respondeu o presidente dos Ferroviários de São Paulo.
No dia 22, o TRT concedeu liminar à CPTM, proibindo a liberação de catracas pelos trabalhadores e determinando um contingente mínimo de operação do sistema em caso de greve. Nos horários de pico, deve ser mantido 90% do efetivo de maquinistas e 70% das demais atividades – e 60% de todos os trabalhadores nos demais horários. Os trabalhadores acreditam ter cumprido a liminar, mas não souberam precisar a adesão ao movimento.
Participação nos Resultados
Outro ponto que deve dificultar o acordo entre empresa e trabalhadores é a proposta da CPTM de condicionar o pagamento de Participação nos Resultados (PR) ao cumprimento de metas consideradas “inatingíveis” pelos trabalhadores. A proposta é semelhante a apresentada ontem pelo Metrô aos metroviários.
O pagamento mínimo do benefício já está atrelado a duas metas: assiduidade do trabalhador e número de passageiros transportados. No entanto, as parcelas fixa e variável teriam outras metas, que foram discutidas apenas no conselho administrativo da empresa. E que os trabalhadores não aceitam. A entrega da estação Poá e do pátio Varginha, e a instalação de cabines seccionadoras nas estações Grajaú e Pinheiros eram algumas delas.
“Essas metas não têm como ser atingidas. Não tem nem orçamento para essa obra ainda. São coisas inatingíveis e que não dependem dos trabalhadores”, afirmou o presidente do Sindicato dos Engenheiros, Feres Mohamad Amin. “Por que colocar metas que são inatingíveis? Aceitamos metas que tenham desafio, que a gente pode correr atrás e conseguir”, completou Matos. O desembargador Fernandes propôs que as metas sejam debatidas no núcleo de negociação do tribunal.