Adultos e adolescentes fazem parte da turma inscrita nas aulas de teatro que acontecem na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal). O projeto é uma parceria entre a entidade e a Associação de Eventos Culturais (Assec) e o curso é facilitado pela atriz e diretora, Edemédia Pereira.
Os alunos começaram o processo de formação em setembro e devem seguir até março de 2023. Em um primeiro momento, foram introduzidos aos métodos básicos como o desenvolvimento da desinibição, criatividade, concentração e foco, além da execução de jogos de cenas propostos pela diretora.
No curso, os mais jovens se unem aos que têm mais experiência e, no mesmo ambiente, trabalham em conjunto para entregar o melhor à professora, que é uma artista premiada. Méia, como é conhecida, dirigiu e produziu 18 espetáculos entre 1987 a 1999, período em que atuou como orientadora de Artes Cênicas do Sesi Sorocaba.
Elisabete Germano, 57, teve o primeiro contato com o universo do teatro a partir desta parceria entre o SMetal e Assec. “Para mim é uma experiência nova e estou amando. Está sendo muito bom para o meu desenvolvimento”, conta. Ana Júlia Munhos, 14, a caçula do grupo, também comenta sobre sua vivência. “Eu acho que o teatro sempre foi uma coisa muito mágica na minha visão. Estou achando muito incrível”.
Durante os ensaios, que acontecem às segundas-feiras (das 19h às 21h) e às terças-feiras (das 19h às 21h30), os iniciantes vão, aos poucos, mergulhando nos roteiros, jogos corporais e outros exercícios. Alguns deles procuraram o teatro porque já se aventuravam em outras formas de arte.
Este é o caso de Ayron Gonçalves, 18, e Thiago Freitas, 17. A paixão por compor músicas os aproximou dessa nova faceta da arte. Ayron recorda que, quando pequeno, assistia à novela Carrossel (SBT) e se imaginava como um dos atores mirins. “Eu via as crianças atuando e pensava que poderia ser eu se eu tivesse essa oportunidade”, brinca o jovem.
Thiago vê no teatro uma forma de melhorar alguns dos principais requisitos para a profissão que planeja seguir. “Quero trabalhar com jornalismo. Eu sempre tive vontade de fazer teatro para desenvolver a comunicação e perder a vergonha. Cheguei aqui e me senti muito à vontade”, diz.
Montagem
O primeiro ato da turma será uma montagem agendada para estrear no mês de dezembro em um evento da Assec. Méia explica que a montagem traz novos desafios para os iniciantes. “Nós estamos num processo que avança um pouquinho. É a performance de cinco poemas que fazem ligação, um com o outro, e eles [alunos] estão tendo que lidar com outro tipo de dificuldade que é a memorização. Agora eles treinam as marcações de espaço e tem que decorar as poesias”, comenta.
A memorização é uma das barreiras que vem sendo superadas pelos alunos. “O maior desafio é conseguir guardar os passos e as marcações, mas todo mundo colabora, então fica tranquilo”, explica Ana Nunes, 51, que nos contou, ainda, que o teatro era um sonho de infância.
Esse também era um sonho para a aluna Ketylin Cação, 15, que teve no SMetal a primeira oportunidade de aprender as noções do teatro. “Na cidade em que eu morava não tinha esse curso, então fiquei sabendo do Sindicato dos Metalúrgicos e me inscrevi. Acho que o teatro é uma coisa que também quero no futuro”, comenta.
Nesta nova montagem, os atores em construção recitam e performam poemas de Bertolt Brecht, Vladimir Maiakovski, Patativa do Assaré e Oswald de Andrade – escritores conhecidos e importantes na luta pela democracia, direitos humanos e outras questões diretamente ligadas às pautas progressistas.
Pensamento crítico
Na visão de Méia, o teatro é uma ferramenta de mudança social. “Não estamos no momento de romantizar no sentido de fazer apresentações e pensar em coisas pequenas no sentido político. O momento ainda é de fortalecimento das questões que estamos vivendo neste país que virou um país de ódio e desamor. A gente tem, sempre que possível, denunciar isso”, diz.
O exercício do pensamento crítico também aparece como benefício das aulas. Andreia Vieira, 47, diz que após o início das aulas ela sentiu diferença em sua forma de olhar o mundo. “A Méia é uma professora de teatro e de língua portuguesa, então ela nos ensina como ter foco e como nos expressar. É uma melhoria até intelectual, parece que a gente está tendo mais percepção das coisas”, afirma Andreia.
Mantovanni
O local foi concebido como um núcleo de experimentação teatral em 1993. Encabeçando o projeto estava Carlos Mantovanni, um dos principais nomes artísticos em Sorocaba durante o século XX. O espaço foi responsável por formar toda uma geração de artistas na cidade durante 10 anos. “Nossa missão, enquanto Sindicato Cidadão, é continuar apoiando a arte em Sorocaba. A entidade defende o interesse da categoria metalúrgica, mas não se furta da responsabilidade de estar presente nos debates mais importantes da sociedade”, reforça Leandro Soares, presidente do SMetal.
“O SMetal sempre teve a tradição de acolher a abrigar a cultura de uma forma geral e irrestrita. Todas as formas de cultura e diversidade, então eu enxergo essa parceria de uma forma muito positiva”, finaliza a diretoria Edeméia Pereira.