Como já era previsto, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), anunciou na quarta-feira, dia 1º, a redução da taxa de juros básica da economia brasileira (Selic), que passa de 12,75% para 12,25%. A redução de 0,50 ponto percentual do índice acontece pela terceira vez consecutiva, em meio à pressão de diversos setores da sociedade civil contra os juros altos praticados no país.
“É fundamental que nas próximas reuniões o movimento de queda persista, para que o Brasil possa sair das primeiras colocações no ranking global de juros”, explica o economista da subseção do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) na Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro), Gustavo Cavarzan.
“A Selic mais baixa é fundamental para o dinamismo da economia brasileira, porque incentiva os investimentos produtivos e, portanto, gera emprego e renda. Além disso, acaba impactando no custo do crédito como um todo, barateando os juros bancários. Outro impacto importante é no orçamento público, já que boa parte da dívida do governo é corrigida pela taxa Selic”, resumiu.
Em nota de hoje, onde anuncia o novo índice, o Copom aponta para a continuidade de ciclo cortes de forma lenta. “Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, disse a entidade.
A economista Vivian Machado, também da subseção do Diesse na Contraf-CUT, explica que ainda não é possível observar um forte impacto da redução da Selic sobre os juros praticados pelo sistema bancário brasileiro e demais indicadores econômicos, como emprego, renda e endividamento das famílias, por exemplo, justamente porque o Banco Central segue com uma política lenta na redução da Selic. “Essa lentidão é usada como desculpa pelo sistema bancário brasileiro para justificar a manutenção da oferta de crédito com juros estratosféricos”, observou.
Protestos continuam
Com a decisão da última quarta-feira, 1º, o Copom mantém a política monetária expansionista, defendida pelos movimentos sindicais, porque estimula a prática de empréstimos mais baratos às famílias e empresas, encoraja investimentos e reduz a dívida do Estado brasileiro com o pagamento de juros dos títulos da dívida pública. Mas essa mudança de rota do Banco Central, ocorreu somente após intensa pressão do governo e dos trabalhadores, contra a política monetária oposta – contracionista à economia – iniciada em janeiro 2021 e mantida até agosto de 2023.
“Como sociedade civil organizada, como trabalhadores e trabalhadoras, precisamos manter a pressão para que a Selic caia ainda mais. Se puxarmos o histórico, veremos que as decisões do Copom são sempre baseadas no mercado e não nos interesses da população e do desenvolvimento do país. Essa inflexão, portanto, é fruto dessa clareza que a população vem ganhando sobre a obrigação dessa entidade nos rumos da economia do país”, avaliou a presidenta da Contraf-CUT e vice-presidenta da CUT Nacional, Juvandia Moreira.
O movimento sindical começou, no início do ano, uma série de protestos, incluindo atividades educativas nas redes sociais, sobre como a Selic impacta na vida da população. Entidades que representam a indústria e o governo federal também vinham se manifestando contra a política monetária do BC, de viés contracionista.
Em abril, uma pesquisa realizada pelo Datafolha já mostrava o resultado dessa estratégia de comunicação, quando apontou que 80% dos entrevistados concordam com a pressão que o presidente Lula (PT) fez sobre o BC pela redução da Selic.
Entenda
- O Copom, entidade do BC, se reúne por dois dias, a cada 45 dias, para definir a taxa básica de juros do país (Selic). Neste último encontro (entre 31 de outubro e 1º de novembro), a decisão foi pela redução de 0,50 p.p. no índice, que passa de 12,75% para 12,25% ao ano.
- Apesar do corte, que faz com que a Selic alcance o menor índice desde março de 2022, o Brasil segue com uma taxa básica de juros elevadíssima e com um dos maiores juros reais (resultado da Selic menos a inflação) do mundo.
- A Selic elevada torna os empréstimos mais caros às famílias e empresas, desencoraja investimentos e aumenta a dívida do Estado brasileiro com o pagamento de juros dos títulos do Tesouro Nacional.
- Logo, os principais beneficiados com a Selic elevada são os detentores dos títulos da dívida pública, que atualmente são as instituições financeiras.
Sondagem realizada pelo Dieese mostrou que cada ponto percentual na taxa Selic significa um aumento anual do custo da dívida pública de cerca de R$38 bilhões – valor que deixa de ir para educação, saúde ou infraestrutura. - Em três anos, sob a presidência de Roberto Campos Neto no BC, a Selic passou de 2% ao ano, em janeiro de 2021, para 13,75% em agosto de 2022 – nível mantido até agosto deste ano quando, finalmente, o Copom deu iniciou ao ciclo de redução do índice.
- Economistas de tendência desenvolvimentista avaliam que uma taxa básica de juros razoável deveria estar no patamar de, pelo menos, um dígito.
- Os países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que reúne 38 países de economias mais avançadas) trabalham com juros básicos muito mais baixos que o brasileiro. Na União Europeia, por exemplo, o índice está em 4%. Entretanto, o Brasil não poderia reduzir a Selic para esse nível por ter moeda menos valorizada.
- A expectativa do mercado, na próxima reunião do Copom, é de um novo corte de 0,50 p.p. e que, continuando a tendência de corte, a Selic alcance 11,75% no final do ano e um dígito (9%) apenas no final de 2024.