O secretário de Saúde, Francisco Antônio Fernandes, reafirmou ontem, durante depoimento à CPI da Dengue, na Câmara Municipal, que a grande quantidade de lixo espalhado pela cidade – não o orgânico, mas os materiais inservíveis, muitos guardados dentro das casas, que acabam se tornando criadouros do Aedes aegypti – contribuiu muito para a epidemia da doença. A importância de realização, nos bairros, do serviço conhecido popularmente como cata-treco foi um dos assuntos mais debatidos entre os parlamentares e o representante da Prefeitura durante a sessão. Para falar sobre o assunto, o secretário de Serviços Públicos (Serp), Oduvaldo Denadai, deve ser um dos próximos convocados pela CPI.
O secretário de Saúde falou que não atribui à população a culpa pela epidemia que a cidade enfrenta, mas reforçou que as atitudes dos cidadãos têm muita importância na prevenção da doença, ao cuidar da eliminação de criadouros dentro das casas. “As pessoas realmente têm acumulado materiais inservíveis em demasia. Desde o dia 21 de fevereiro retiramos mais de 500 toneladas e continuamos num trabalho incessante.” Os vereadores Izídio de Brito (PT) e José Crespo (DEM) questionaram a falta de realização do serviço de cata-treco de forma contínua e, apesar do secretário de Saúde afirmar que a Serp faz a retirada do material inservível das casas com frequência, os parlamentares rebateram. “Esse assunto é recorrente aqui no plenário da Câmara há anos. Há muita reclamação sobre a falta do serviço. E sabemos que há um programa de uma emissora de TV para a limpeza da cidade que os dois últimos prefeitos, Vitor Lippi (PSDB) e Antonio Carlos Pannunzio (PSDB) foram convidados mas por dez anos se recusaram a participar”, acusou Crespo.
Fernandes voltou a reforçar que acredita que a população possui uma cultura errada sobre o manejo do lixo. “As pessoas colocam o lixo em frente à casa do vizinho, ao muro do terreno do lado de casa. O mais importante é colocar o lixo na rua no horário adequado. E não tem que jogar sofá, lixo em terreno. É óbvio que os contêineres melhoram a qualidade do lixo na rua, mas para mim é uma questão de cultura e educação que temos que começar a fazer em nosso município.” O secretário disse que a retirada de grande volume de lixo das casas, desde que as ações foram intensificadas, em fevereiro, chamou atenção. “Vi em algumas residências casos de pessoas acumuladoras.”
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O vereador Marinho Marte (PPS) perguntou ao secretário sobre os 190 casos de dengue registrados no segundo semestre de 2014 que, segundo Fernandes e a diretora da Vigilância em Saúde, Daniela Valentim, já eram atípicos para a época do ano. “Não era motivo para uma ação mais efetiva?”. Luis Santos (PROS) também questionou se não houve planejamento para tentar evitar a epidemia e para o enfrentamento da doença na cidade. O secretário, que assumiu a pasta em fevereiro deste ano, preferiu falar das ações que pretende adotar para que Sorocaba não enfrente uma nova epidemia em 2016. “Não tenho dúvidas que os 190 casos, se analisados com frieza, eram um sinal de alarme. Nossa ideia é no segundo semestre deste ano manter o mesmo movimento de atuação no combate do mosquito e da larva.” O secretário disse que assim que passada a fase mais crítica de combate à epidemia, a equipe da Secretaria de Saúde iniciará um planejamento das ações preventivas para serem implementadas no segundo semestre, não só de enfrentamento à dengue, mas à infestação de carrapatos, caramujos e chegada de possíveis casos importados de febre chikungunya.
Sobre o número de casos de dengue, Fernandes não quis adiantar o volume de novos doentes registrados na última semana na cidade – o dado será anunciado hoje à tarde, em coletiva de imprensa. Porém, disse que houve uma pequena queda nas notificações.
Apoio do Estado
O vereador Izídio de Brito (PT) questionou o secretário sobre o apoio da Superintendência de Controle de Endemia (Sucen) ao município. Fernandes falou que Sorocaba pediu auxílio ao órgão, porém foi informada que não havia efetivo disponível, pois as equipes estão voltadas ao atendimento de combate à dengue na região de Catanduva, que registra casos mais graves da doença. Porém, o secretário disse que a Sucen tem dado apoio na realização da nebulização, no fornecimento de inseticidas e auxílio técnico para o manejo deste material. O vereador sugeriu a convocação de um representante da Sucen para depor na CPI, o que deve ser feita, segundo o presidente da comissão, vereador Carlos Leite (PT).
Em nota, a Sucen informou que, conforme preconiza o Sistema Único de Saúde (SUS), o trabalho de campo no combate à dengue, a exemplo de controle de criadouros e investigação dos casos suspeitos, é realizado pelos municípios. O órgão afirmou que apoia os municípios neste trabalho, por meio de capacitação de pessoal e suporte em ações de nebulização, visitas domiciliares e de imóveis estratégicos, entre outras. A Sucen informa que foi disponibilizado para o município uma máquina nebulizadora que já está em atuação há cerca de três semanas, juntamente com três agentes, um motorista e um navegador, que realizam e supervisionam o trabalho. Também estão atuando na região outros 15 agentes, que realizam avaliações das ações realizadas, acompanham e orientam as ações de combate.