Quando se fala da importância de exames preventivos, como o próprio nome diz, a intenção é prevenir uma doença. Porém, além disso, um dos principais papéis desses procedimentos é o diagnóstico precoce para que, uma vez comprovada uma determinada patologia, o tratamento possa ser antecipado e haja mais chances de cura.
Quando o assunto é saúde da mulher, os números não mentem. O câncer de mama, por exemplo, quando descoberto no início, tem 95% de chance de cura. No caso do câncer de colo de útero, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), com a realização do Papanicolau em 80% das mulheres público alvo, unidos ao diagnóstico e tratamento adequados em casos alterados, é possível reduzir, em média, de 60 a 90% a incidência do câncer agressivo.
“O exame preventivo não previne exatamente, ele se antecipa”, é o que explica o ginecologista e obstetra, Jefferson Delfino. “Se falarmos, por exemplo, da prevenção do câncer ginecológico, a ideia é eliminar alguns fatores que possam desencadear a doença ou, caso a pessoa já esteja enfrentando essa situação, que consigamos o diagnóstico o mais precoce possível. Quanto mais cedo realizamos esse diagnóstico, mais benefícios há e a chance de cura aumenta bastante. Portanto, a função da prevenção é evitar uma consequência pior”, completa.
Samantha França, de 32 anos, é um exemplo da importância desse acompanhamento. Em 2018, com menos de um ano desde o último exame de rotina, ela percebeu que estava com um sangramento discreto no fim das relações sexuais. Não era frequente, porém acendeu um alerta e foi procurar um médico.
“Fiz o papanicolau e nesse exame já apareceu uma alteração. Conversei com o meu médico e ele solicitou uma colposcopia com biopsia e o resultado desse exame comprovou que era câncer de colo útero”, relembra.
O sentimento era de desespero ao ler o resultado. Logo após a biópsia, Samanta conta que, entre outros vários exames e muito diálogo com o seu médico, decidiram pelo melhor tratamento naquele momento: cirurgia. “Fiz uma histerectomia total. Após 30 dias, comecei um protocolo de 25 sessões de radioterapia, seis sessões de quimioterapia e quatro de braquiterapia”, lembra.
Segundo ela, o tratamento foi tranquilo e repete os exames de sangue e imagem a cada seis meses, mas assegura: “qualquer coisa que eu ache estranho ou sinta diferente, eu marco uma consulta com o meu médico”.
Um médico para chamar de seu
Samantha conta que hoje, depois de todo o processo, acredita ser muito importante ter um médico para “chamar de seu”, alguém que a mulher se sinta à vontade para conversar e que te conheça, para poder acompanhar qualquer alteração.
A importância dessa aproximação entre médico e paciente também é destacada pelo ginecologista. “O histórico da mulher é muito importante e o ideal é que ela consiga ficar com o seu médico por um tempo maior. Quanto mais ele te conhece, maior a probabilidade de acertar um diagnóstico”, explica.
Porém, nem sempre isso é possível, seja no Sistema Único de Saúde (SUS) ou por convênio médico. Foi o que aconteceu com a metalúrgica Lindalva Linhares da Silva Martins, 45 anos, da Flextronics. “Em 2014, fui diagnosticada com um cisto no útero, que aparentemente não representava perigo se ele não crescesse. Em 2018, passei em outro médico, pois o anterior havia saído do convênio. Ele observou que o cisto havia se desenvolvido muito e não dava para esperar, eu sentia muita dor”, lembra.
A metalúrgica conta que passou por uma cirurgia para retirar o cisto e, por não ter “enraizado”, não havia necessidade de fazer radioterapia. Só que não acabou por aí: “no ano passado, devido à pandemia, não pude fazer o exame de rotina. Na consulta deste ano, com uma nova médica indicada pelo profissional da empresa, no papanicolau apareceu uma alteração e foi solicitada colposcopia e biopsia”.
Felizmente o resultado dos exames foi de que o tumor era benigno, mas por orientação do ginecologista e do oncologista, a trabalhadora foi submetida a um tratamento leve e acompanhamento a cada três meses. “A médica falou que provavelmente seja resquício do cisto que retirei anos atrás, até porque não tinha feito esses exames mais detalhados após a cirurgia”.
Segundo ela, todo esse processo foi bastante desafiador porque, entre idas e vindas, “a cabeça fica uma loucura, há muita insegurança”. E assegura: “por isso mesmo a importância de as mulheres irem ao médico para fazer acompanhamento. Quanto mais cedo for diagnosticada a doença, mais fácil é o tratamento”.
Cuidados em todas as idades
No caso da Lindalva, ela possui idade e histórico familiar que faz com que seja aceso um alerta maior sobre possíveis cânceres ginecológicos e outras doenças mais frequentes para a mulher. Já para Samantha, sem histórico e com apenas 20 e poucos anos, foi uma alteração em seu corpo que fez com que ela procurasse um médico e identificasse a doença logo no início.
De acordo com o ginecologista Jefferson Delfino, é difícil saber a partir de quando devemos nos preocupar com uma doença. “Se você mantiver um ritmo frequente de consultas ao seu ginecologista, anual ou até mesmo bianual, e estando bem orientada e esclarecida de que à primeira manifestação de que há algo fora do normal, deve-se procurar o médico, isso permite que haja qualquer diagnóstico muito precocemente”, alerta.
Segundo ele, os cuidados com a saúde são essenciais durante toda a vida e, para a mulher, há uma divisão em três fases: de dentro da barriga da mãe até a primeira menstruação (menarca); da primeira menstruação até a última e da última menstruação até o seu falecimento. “Nessas três fases, temos situações bastante frequentes e comuns nas quais vamos buscando uma antecipação para cada uma delas”.
A atuação do ginecologista começa a partir do princípio da puberdade. “Nessa fase, o interessante é que, quando começar sinais da puberdade, como surgimento de pelos, de mama ou a própria menstruação, levar a menina para o ginecologista para conversar, orientar e começar um acompanhamento – inclusive sobre educação sexual”, enfatiza o ginecologista.
O médico esclarece que esse tipo de orientação, inclusive sobre contraceptivos, gera uma segurança ampla para que aquela menina saiba exatamente o que está acontecendo com o seu corpo e, caso haja algum evento desagradável, saiba reconhecê-lo. “Nessa fase, entre 8 e 12 anos, também é importante fazer a vacinação contra HPV (papilomavírus humano), que vai ter um efeito benéfico mais pra frente, que é evitar o câncer genital”, alerta.
Os benefícios da vacina
A vacina contra o HPV para meninas começou a ser disponibilizada pelo SUS gratuitamente em 2014, no governo Dilma Rousseff (PT). Segundo informações do INCA (Instituto Nacional do Câncer), a infecção pelo HPV é muito frequente, mas rápida e regride espontaneamente na maioria das vezes.
No pequeno número de casos nos quais a infecção persiste, pode ocorrer o desenvolvimento de lesões que, se não forem identificadas e tratadas, progridem para o câncer, principalmente no colo do útero, mas também na vagina, vulva, ânus, pênis, orofaringe e boca.
Samanta conta que a primeira vez que ouviu falar da vacina de HPV foi em 2017, um ano antes de ter o diagnóstico do câncer de colo de útero. “Não sabia da importância dela. Nunca foi indicada ou mencionada, mesmo eu sempre passando por consultas particulares”.
O ginecologista alerta: “é importante que todo mundo se vacine, ainda mais antes do primeiro contato sexual. As vacinas em geral não evitam tudo, mas tem sempre um ganho e, por isso, independentemente de ter contato ou não, o efeito é sempre benéfico. A doença é sempre pior que a vacina”.
Principais exames na fase adulta
Quando a mulher tem seu primeiro contato sexual, os principais exames que são realizados é o clínico, no próprio consultório ginecológico, e o papanicolau. Segundo o médico, os demais exames serão solicitados conforme a realidade da paciente, como histórico familiar e sintomas. “Se não tem sintoma, vive-se uma vida absolutamente normal, com as consultas e análises de rotina. E, em torno dos 35, 40 anos, nós damos início à mamografia”.
De acordo com o médico, o papanicolau é um exame de triagem muito amplo, bom e barato. “A partir dele, vamos subindo de degrau e nos aprofundando nos casos. Depois, vem a colposcopia, que é olhar a vagina com uma lente de aumento, mais minuciosamente, porque reduz a zona de investigação. E por último, a biopsia”.
Jefferson defende ainda que, às vezes, durante o próprio exame clínico, pode-se identificar uma infecção e tratá-las conforme as características da doença. “Há um leque de doenças, como gonorreia, sífilis, candidíase, tricomoníase, clamídia, que eu não diria nem que são sexualmente transmissíveis mais, mas sim de contato humano. E isso pode ser diagnosticado somente com o exame ginecológico, o que reforça a importância da visita de rotina”.
Pós-menopausa
Na terceira fase da mulher, a pós-menopausa, os cuidados são mais amplos. “O ginecologista nada mais é do que o clínico geral da mulher. Se houver algo não muito legal, independente de ser ginecológico ou não, ele vai verificar e encaminhar ao médico responsável, como cardiologista, endocrinologista. Depois, ele junta todas essas informações e fornece o melhor tratamento para a paciente”, assegura.
E finaliza: “o principal é você ir ao médico, de preferência um de confiança, e ele é quem vai te orientar sobre o melhor tratamento. A função de ficar preocupado numa consulta é do médico e não do paciente”.
Como buscar atendimento no público e privado
De acordo com Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em Sorocaba, das 320.552 pessoas que utilizam convênio médico em Sorocaba, 166.565 são mulheres – ou seja, 52%. Na categoria metalúrgica, grande parte dos trabalhadores também possuem plano de saúde.
Na maioria deles, para agendar uma consulta, basta entrar em contato diretamente com o médico conveniado ou na central do convênio. No SUS, há duas portas de entrada na cidade: as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) ou o Ônibus Rosa.
Na UBS, caso a mulher deseje passar por um médico, ela precisa agendar pelo telefone ou pessoalmente. Ou pode ainda ir até a unidade mais próxima da sua residência e se consultar com enfermeira para o acolhimento, triagem e encaminhamento de exames.
Já para o atendimento pelo Ônibus Rosa, a Prefeitura de Sorocaba divulga no início de cada mês a agenda com os locais e horários (confira aqui a agenda de março). Para ser atendida, é necessário que a mulher leve um documento de identidade com foto, o cartão do Sistema Único de Saúde (SUS) e o cartão da UBS, para encaminhamentos e agendamentos.
Mais informações podem ser obtidas de segunda a sexta, das 8h às 17h, pelos telefones da Secretaria da Saúde: (15) 3238-2430 e (15) 3238-2332.