A discussão levantada na Câmara de Sorocaba, sobre o destino da área da Gerdau na rua Padre Madureira, é pertinente e merece ser continuada, mesmo que o veto da Prefeitura ao projeto de lei do vereador José Crespo (DEM), que declarou aquele imóvel de utilidade pública para efeito de desapropriação, seja acatado pelos vereadores. O veto foi assinado pela vice-prefeita Edith Maria di Giorgi, que estava em exercício no dia 13 de novembro, com o argumento de que, embora os propósitos do projeto sejam “nobres”, o Executivo não teria dotação orçamentária suficiente para dar cumprimento à lei e concretizar a desapropriação.
A área ficou disponível com a decisão da Gerdau de desativar sua unidade local, anunciada no meio do ano. Com 240 mil metros quadrados e localizada a 1,7 km da praça Coronel Fernando Prestes, o imóvel representa uma reserva territorial estratégica que pode ser importante para a instalação de equipamentos necessários na região próxima ao Centro. São poucas as áreas disponíveis no centro da cidade e no chamado Centro expandido, o que faz com que a desocupação de imóveis com grandes dimensões seja cercada, sempre, de especulações sobre os aproveitamentos possíveis pelo setor público ou iniciativa privada.
O prefeito Antonio Carlos Pannunzio (PSDB) sabe disso, pois foi num desses imóveis gigantescos e sem uso — a área da antiga Companhia Nacional de Estamparia (Cianê) anexa aos prédios históricos das fábricas Santo Antônio e Nossa Senhora da Ponte, na avenida Afonso Vergueiro –, que ele, em seu primeiro mandato como chefe do Executivo sorocabano (1989-1992), auxiliado pelo então presidente da Urbes e atual vereador José Crespo, viabilizou a implantação do terminal urbano de ônibus Santo Antônio. Mais recentemente, os prédios tombados daquelas fábricas foram adaptados para receber o Patio Cianê Shopping, cuja instalação corroborou a força econômica do Centro e sua importância para a dinâmica da cidade.
Nos últimos 30 anos, a região central passou a sofrer a concorrência de núcleos comerciais dos bairros e dos shoppings, levando muitos a declará-la decadente. Na prática, embora o comércio central tenha sofrido alterações profundas — especialmente no setor de lazer e alimentação de funcionamento noturno, que se deslocou quase que inteiramente dali –, o que se percebe é que o Centro continua desempenhando uma função essencial, com ênfase crescente para os serviços. A centralização de atividades — ditada, em grande parte, pelo modelo radial dos transportes — tem sido reforçada pela instalação de serviços que atraem um público numeroso, como o Poupatempo, inaugurado em 2011.
É necessário, portanto, seguir monitorando, pensando e orientando o desenvolvimento do Centro e do Centro expandido, enquanto polos geradores de receita, empregos e bem-estar social cujas demandas em infraestrutura viária, equipamentos públicos e serviços de apoio — como áreas de estacionamento, um dos gargalos mais dramáticos — constituem um desafio constante. E isso inclui, naturalmente, a análise das possibilidades que se abrem quando uma área de 240 mil metros, estrategicamente localizada, torna-se disponível (em tese, ao pelos) pelo encerramento das atividades industriais ali desenvolvidas.
É importante que os setores da Prefeitura encarregados de planejar a cidade estudem possíveis destinações de interesse público para a área da Gerdau e, caso elas sejam mesmo relevantes, que o governo municipal assegure sua posse antes que a iniciativa privada a ocupe (o que, obviamente, não é ruim em princípio, a não ser pelo fato de impossibilitar algum equipamento público de maior utilidade). É possível que alguns projetos para a área sejam inviabilizados pelo sistema viário do entorno, hoje propenso a congestionamentos. Mas, se existe uma destinação útil ao desenvolvimento urbano, é preciso descobri-la enquanto a possibilidade de incorporar a área ao patrimônio público está em aberto.