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Reportagem da “Isto É” expõe conflitos entre membros da família Beldi

Reportagem revela acusações de evasão de divisas contra o empresário Antônio Beldi, de Sorocaba. Toninho, como é conhecido, é controlador do Grupo Splice e diretor regional do Ciesp

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Isto É - Dinheiro
Reportagem publicada na edição 815 da revista estima em R$ 2 bilhões enviados irregularmente para paraísos fiscais

Reportagem publicada na edição 815 da revista estima em R$ 2 bilhões enviados irregularmente para paraísos fiscais

Reportagem revela acusações de evasão de divisas contra o empresário Antônio Beldi, de Sorocaba. Toninho, como é conhecido, é controlador do Grupo Splice e teria enviado R$ 2 bilhões para paraísos fiscais. O empresário é diretor regional do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) em Sorocaba.

As denúncias foram feitas à revista por quatro irmãs do empresário. Em Sorocaba, Toninho é conhecido no meio político por suas fortes ligações com o PSDB, tendo financiado várias campanhas eleitorais do partido na região nos últimos anos.

A disputa pelo espólio da família envolveu inclusive tentativa de interdição judicial da matriarca, Heloísa, pelo filho que comanda o Ciesp em Sorocaba. Toninho conta com o apoio de dois irmãos, Marco e Teresa, na briga contra as irmãs Inês, Heloísa, Lourdes e Cláudia.

O recém-inaugurado Parque Tecnológico de Sorocaba, presidido pelo ex-prefeito Vitor Lippi, recebe o nome do patriarca da família e fundador do grupo empresarial Alexandre Beldi.

Confira a íntegra da reportagem, publicada na edição 815 da revista, que está circulando esta semana nas bancas.

O inferno dos Beldi

A família dona do grupo paulista Splice briga por uma fortuna estimada em mais de R$ 3 bilhões. Nessa disputa, a matriarca, Heloísa, foi interditada e um inquérito policial apura se houve evasão de divisas e sonegação

Por Rodrigo CAETANO

A família Beldi, de Sorocaba, no interior de São Paulo, ficou nacionalmente conhecida em 29 julho de 1998. Naquele dia, o grupo Splice, fundado pelo patriarca Alexandre Beldi em 1971, disputou lance a lance com a France Telecom a Tele Centro Oeste Celular (TCO), no leilão de privatização da Telebras, holding estatal de telecomunicações. No final, levou a melhor, arrematando uma operadora com clientes nas regiões Centro-Oeste e Norte por R$ 440 milhões. À frente do grupo já estava o filho mais velho de Alexandre, Antônio Beldi, conhecido como Toninho. Desde então, o grupo Splice, basea­do na vizinha Votorantim, não parou de crescer. Os Beldi são donos de dez empresas, organizadas sob a holding Splice.

O patriarca: Alexandre Beldi, morto em 2010,

criou o grupo de telecomunicações em 1971

Entre elas, está a BR Vias, concessionária pública que administra duas rodovias no interior de São Paulo, a Universidade Newton Paiva, de Minas Gerais, e empresas nas áreas imobiliárias e de telecomunicações. O patrimônio atual dos negócios no País é avaliado em R$ 1,4 bilhão. A TCO já não faz mais parte dos ativos da família. A operadora foi vendida para a Telesp Celular, da Telefônica, em 2003, por R$ 1,4 bilhão.Todo esses ativos, aos quais se soma um quantia bilionária no Exterior, estão no centro de uma disputa familiar, deflagrada com a morte de Alexandre, em 2010, com lances que envolvem a interdição judicial da matriarca, Heloísa, acusações de agressões e ameaças e um inquérito policial para apurar crimes de evasão de divisas e sonegação.

De um lado, estão os irmãos Toninho, Marco e Teresa, que controlam a holding Splice. De outro, alinham-se as quatro irmãs: Inês, Heloísa, Lourdes e Cláudia. Fábio, o oitavo filho de Alexandre e Heloísa, é o único que adotou uma posição neutra. Além dos bens que constam do inventário no Brasil, os Beldi brigam por uma fortuna estimada em R$ 2 bilhões, que teria desaparecido no Exterior, segundo a versão das quatro irmãs. Atualmente, 19 ações judiciais estão em curso contra Toninho e seus filhos Thaís, André e João, por conta do inventário que está parado. As brigas familiares começaram logo depois da morte de Alexandre. Inês, a filha mais velha, afirmou à DINHEIRO que Toninho, sem motivo aparente, passou a perseguir as quatro irmãs, despojando-as da maior parte de seus bens.

O primogênito: Antônio Beldi, o Toninho, é quem comanda a empresa.

Quatro de suas irmãs o acusam de esconder uma fortuna em paraísos fiscais

Seus filhos, por exemplo, foram despejados de apartamentos pertencentes ao espólio do patriarca. Parentes que trabalhavam na Splice foram demitidos. Mas o golpe mais duro foi dado contra dona Heloísa. Toninho tentou interditar judicialmente a própria mãe. O pedido foi negado, inicialmente. Meses depois, no entanto, dona Heloísa sofreu um AVC e ficou incapacitada. Sem um acordo sobre quem ficaria responsável pela matriarca, a Justiça nomeou um curador independente. Seus filhos não podem mais visitá-la livremente. Para evitar atritos, ficou decidido que cada um terá um dia para se encontrar com a mãe. Durante essas visitas, nenhum dos outros herdeiros pode nem sequer aparecer na porta de sua residência.

No condomínio onde vivia boa parte dos herdeiros, em Sorocaba, o clima também ficou pesado. Construído por Alexandre, que deu uma casa para cada um dos oito filhos, o local se transformou em um ringue das brigas entre os irmãos. Toninho, que administra o empreendimento, utilizava a empresa de segurança do condomínio para intimidar os irmãos, ainda segundo a versão de Inês. Sempre que um deles passava pela portaria, era seguido por um homem de terno, com cara de poucos amigos. “Eles agiam de forma truculenta”, afirma Inês, que foi obrigada a se mudar. “Temia tanto por minha segurança que sempre parava no posto de gasolina que fica perto do condomínio antes de sair, para verificar se os parafusos das rodas do meu carro estavam apertados.”

Retrato na parede: Toninho (à esq.) ao lado de Fábio, dona Heloísa,

Teresa e Lourdes. Embaixo, estão Heloísa (à esq.), Cláudia, Inês e Marco.

Por decisão judicial, os filhos só podem visitar a mãe um de cada vez

Seu filho Cássio, o neto mais velho de Alexandre e Heloísa, chegou a ser agredido dentro da própria casa pelos seguranças, de acordo com a herdeira. Não foram esses episódios de violência, no entanto, que levaram o conflito dos Beldi a acabar na polícia. No primeiro semestre do ano passado, Cássio, que era estagiário do banco Santander na Suíça, levantou a suspeita de que Toninho poderia estar escondendo dinheiro no Exterior. Ele descobrira uma série de transações envolvendo empresas pertencentes ao avô, em sociedade com Toninho e os outros filhos homens, em paraísos fiscais como Bahamas, Antígua e Barbados, Ilhas Virgens Britânicas e na cidade de Delaware, nos Estados Unidos, de acordo com documentos a que DINHEIRO teve acesso.

Os recursos utilizados nessas transações, segundo Cássio, seriam oriundos das empresas do grupo Splice. Ele calcula que a fortuna da família escondida lá fora seja de, no mínimo, US$ 1 bilhão. Em pelo menos duas ocasiões, segundo esses documentos, Toninho teria transferido as ações que possuía em empresas localizadas nesses paraísos fiscais para outras, também controladas pelo primogênito ou por seus filhos. Caso da venda da Freegold, no Uruguai, para a Kennington Fund, localizada nas Bahamas. “Essas transações configuram crime de evasão de divisas, sonegação fiscal e manutenção de conta no Exterior sem declaração”, afirma o advogado Frederico Crissiúma de Figueiredo, do escritório Castelo Branco Advogados Associados, contratado pelas quatro irmãs para defender os interesses da família.

A partir dessas constatações, as quatro irmãs que não participam do controle do grupo Splice decidiram lavrar um boletim de ocorrência contra Toninho no 15º Distrito Policial, no bairro do Itaim Bibi, na capital paulista. Um inquérito foi instaurado para apurar as denúncias. Trata-se de uma medida que pode prejudicar a todos. Se ficar comprovado que Toninho realmente transferiu ilegalmente recursos da Splice para o Exterior, o patrimônio da família pode ser comprometido. Mais do que isso, o nome do patriarca da família, Alexandre, pode ficar manchado. Isso porque parte dessas transações suspeitas foi feita antes de sua morte. Ou seja, a família feliz que aparece nesta página não passa, hoje, de um retrato na parede. Procurado, Antônio Beldi não concedeu entrevista.

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