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Recuo de Alckmin é ‘estratégico’ e mais escolas serão fechadas, alertam professores e alunos

Governador admitiu fechar 'apenas' 94 escolas, mas novas listas são esperadas. Prefeitura de São Paulo não foi informada da reorganização, nem da possibilidade de receber prédios das unidades fechadas

Rede Brasil Atual/Rodrigo Gomes
ANDRÉ BUENO/CMSP

Professores, estudantes e seus familiares reclamaram aos vereadores da capital do fechamento de escolas

São Paulo – A presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel de Azevedo Noronha, a Bebel, afirmou na noite de ontem (28) que a lista de 94 escolas que serão fechadas pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) em 2016 está incompleta e foi divulgada apenas para desmobilizar estudantes e professores. “Ele recuou momentaneamente com o objetivo de esvaziar a luta contra a desorganização. Mas vai levar o fechamento adiante, assim como também vai fechar turnos de escolas. Não importa se é uma, 94 ou 160, não vamos aceitar o fechamento de escolas”, afirmou Bebel.

Pelos cálculos da Apeoesp, a chamada reorganização do ensino proposta por Alckmin vai fechar ao menos 163 unidades no estado. Na tarde de ontem, o governo divulgou uma lista de 94 escolas a serem fechadas, e afirmou que pretende repassar os prédios às prefeituras locais ou outros órgãos públicos.

A proposta visa a deixar somente alunos de um mesmo ciclo – fundamental I ou II e médio – na mesma escola, alegando redução de alunos na rede. Alckmin defende que isso vai melhorar a qualidade do ensino no estado.

“Desafio o secretário e todos os que propuseram essa medida a explicar qual é o embasamento pedagógico dessa medida. Não tem. Dizer que as crianças têm de conviver só com outros da mesma idade é como querer colocá-las em uma redoma de vidro. Por que é que não se aproveita essa redução global do número de alunos e se reduz o número de alunos por sala? Quer discutir qualidade ensino? Vamos discutir o número de alunos por professor”, afirmou Bebel, durante audiência pública na Câmara Municipal paulistana, sobre o impacto da reorganização na capital paulista.

O presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas (Umes), Marcos Cauê, acredita que a redução do número de escolas fechadas anunciada pelo governador é um indicativo importante de que as mobilizações precisam continuar. “Mais escolas tinham sido notificadas do fechamento. Porém, depois de toda a mobilização, muitas foram retiradas do plano. Justamente as que mais se mobilizaram. É isso que temos de fazer e seguir com as manifestações”, afirmou.

Fechamento das escolas

Para o vereador Toninho Vespoli (Psol), os paulistanos poderão ser muito prejudicados pelo fechamento de 19 escolas na capital, conforme a lista. “Vamos ter problemas muito grandes por conta dessa reorganização. Pais e filhos vão ter de se deslocar muito mais e a evasão escolar pode ser aprofundada, justamente por isso. Fechar escolas é um absurdo”, afirmou.

A preocupação do vereador é compartilhada pelo diretor regional de ensino municipal da região de Pirituba, zona noroeste de São Paulo, Marcos Manuel. Segundo ele, a prefeitura de São Paulo não foi informada sobre a reorganização proposta por Alckmin. “Todas as informações que recebemos na secretaria municipal vieram por meio da imprensa ou dos professores. Infelizmente, nenhuma veio por meios oficiais ou teve confirmação da secretaria estadual”, afirmou.

Como a prefeitura aplica o ensino fundamental em colaboração com o governo estadual, as áreas técnicas das duas secretarias se reúnem várias vezes ao longo do ano para organizar o processo, definindo quantos estudantes cada rede vai atender, por exemplo. A portaria que define o funcionamento do ano de 2016 foi publicada em 27 de agosto e naquele momento não havia qualquer menção à reorganização. “Não houve previsão de diminuição de unidades ou transferência de alunos seja para onde for”, disse Marcos.

A gestão do prefeito Fernando Haddad (PT) teme que ocorra uma corrida às escolas municipais, caso as famílias sejam prejudicadas pela distância das unidades para onde os filhos serão mandados ou pela separação de irmãos, por exemplo. Além disso, a lista do governo Alckmin informa que 15 das escolas que serão fechadas na capital paulista poderão ser repassadas à gestão municipal. “Assim como não existem conversações oficiais sobre a reorganização, essa história de receber prédios não foi tratada até o presente momento com a prefeitura de São Paulo”, afirmou.

O vereador Eliseu Gabriel (PSB) exaltou a reação da sociedade contra a medida e cobrou do governo estadual que haja diálogo com a população. “O estrago só não é maior por conta da reação da sociedade contra essa medida. A explicação que está sendo dada não está convencendo. É uma ideia de enxugar a máquina, economizar. Justamente o contrário do que se pode querer para a educação. Se tinha alguma proposta devia ter conversado longamente com a comunidade escolar, estudantes, professores, famílias”.

Chamada

O secretário Estadual da Educação, Herman Voorwald, foi convidado para a audiência, mas não compareceu nem enviou representante – assim como a Ordem dos Advogados do Brasil e o Ministério Público Estadual. “É lamentável como alguns temas parecem preocupar muito mais algumas autoridades do que o fechamento de escolas”, criticou o vereador Antônio Reis (PT), presidente da Comissão de Educação, Cultura, Esportes e Lazer da Câmara, que organizou a audiência.

Reis afirmou que vai encaminhar a discussão e as propostas da audiência para o governo estadual e as demais autoridades. “Queremos, primeiro, explicações sobre essa medida que está sendo tomada de forma absolutamente arbitrária. Esta casa não vai aceitar que se prejudique os estudantes da cidade com um absurdo fechamento de escolas que não foi discutido com professores, estudantes e seus familiares”, concluiu.

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