Estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) nesta segunda-feira, 28, mostra que, apesar do crescimento da população ocupada, o número de pessoas que procuram emprego há mais de dois anos aumentou e atinge 30% dos 12,1 milhões de desempregados.
Segundo o Ipea, o percentual é o maior em toda a série histórica, iniciada em 2012. Os dados desta segunda-feira revelam que 23,5% estavam nessa situação há dois anos ou mais no primeiro trimestre do ano passado. Esse número subiu para 25,7% no segundo trimestre e chegou a 28,9% no terceiro trimestre. Já no quarto trimestre, atingiu 30,3%.
Em entrevista ao jornal Estadão, a técnica de planejamento e pesquisa Maria Andréia Parente, uma das autoras do estudo, explicou que as pessoas menos qualificadas acabam sobrando no mercado de trabalho. “Todo mundo que está mais bem qualificado vai começando a conseguir um emprego, então o estoque de desempregados vai caindo. Mas esse grupo de pessoas de baixa qualificação, que já não estão conseguindo vaga de emprego há bastante tempo, vão permanecendo quase que intactos”.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), Leandro Soares, destaca a falta de políticas públicas para combater a situação. “No governo Bolsonaro, o que se notícia é sempre a tentativa de retirar direitos, o que não é surpresa vindo de quem disse que as pessoas teriam que escolher entre direitos e emprego. Não existe nenhuma medida efetiva para garantir a criação de postos de trabalho e muito menos a recolocação de quem perdeu a vaga há muito tempo. O cenário só se agrava e a população, especialmente a mais pobre, é mais penalizada”.
Informalidade cresceu
Outro ponto destacado pelo Ipea é que o crescimento do emprego informal (sem carteira assinada) foi maior do que os com carteira assinada.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, do IBGE, divulgada em 18 de março, estima-se que o número de trabalhadores sem carteira assinada seja de 12,3 milhões, um aumento de 3,6% no trimestre e 19,8% em 12 meses.
O mesmo cenário se repete com quem trabalha por conta própria, que aumentou 10,3% em um ano. Os dados apontam, ainda, para 5,6 milhões de trabalhadores domésticos, que representam o setor com maior informalidade e com a menor renda. Nesse caso, o crescimento anual foi de 19,9%.
Com isso, a taxa de informalidade segue elevada – e corresponde a 40,4% dos ocupados, ou 38,5 milhões. Perto do registrado no trimestre anterior (40,7%) e acima de igual período de um ano atrás (39,2%).
Leandro lembra que o movimento sindical sempre alertou que a retirada de direitos não criaria empregos. “A realidade está aí para comprovar: desde a Reforma Trabalhista, o desemprego cresceu e jogou os trabalhadores em postos de trabalho precários e na informalidade. Com isso, vemos as pessoas mal conseguindo colocar um prato de comida na mesa da família. É um cenário de caos, de desrespeito com que garante a produção e, consequentemente, gera riqueza e faz a economia do país. Isso precisa mudar”.
Desemprego teve recuo pequeno
O estudo da Pnad apontou que a taxa de desemprego no Brasil foi de 11,2%, considerando o trimestre finalizado em janeiro de 2021. No total, são 12,04 milhões de pessoas sem emprego no país. O resultado representa uma queda em relação a outubro (12,1%).