Os comitês de estudantes em defesa da democracia das universidades promoveram no sábado, dia 9, aula pública na praça Roosevelt, centro de São Paulo, para ouvir de lideranças análises sobre a crise política, que na próxima semana se aglutina com a votação do parecer sobre o impeachment da presidenta Dilma Rousseff na Câmara Federal.
A urbanista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) Raquel Rolnik pôs no centro da crise política a questão da privatização do Estado brasileiro, em um processo em curso. “A questão que está colocada, a crise, ela tem um nome, um responsável, que é a privatização do Estado brasileiro e a transformação da política e do Estado como negócio, de sua apropriação como propriedade privada, em uma coalização com empresários, bancos, redes de comunicação”, disse.
A professora também disse que a aliança conservadora busca estabelecer um Estado para servir aos interesses de dinheiro e poder de grupos econômicos, por meio de uma estratégia midiática e jurídica. Também disse que essa estratégia volta-se para a corrupção para estabelecer uma cortina de fumaça. “É como se a corrupção fosse o maior problema, mas este na verdade é a apropriação radical do Estado pelos interesses do mercado.”
Antes de Raquel Rolnik, o escritor, ator e humorista Gregório Duvivier se disse preocupado “porque cada vez mais o grito ‘não vai ter golpe’ torna-se obsoleto, o golpe está em andamento, esse golpe está sendo articulado há muito tempo”. Duvivier também disse que “se a Dilma continuar, continua em nome de quê? Que não seja com uma aliança conservadora, que é uma aliança das mais espúrias do mundo. Eu não vou comemorar votos (contra o impeachment) dados pelo PP em troca de ministério”.
Duvivier também fez um apelo ao público: “É uma coisa muito comum, eu acho, na esquerda de um modo geral, e também na direita, ver o outro que não pensa igual como um golpista, mas são milhões de mal informados, que recebem o pior tipo de informação. São milhões de vítimas, e não são golpistas. Existe um projeto de desinformação no Brasil, são milhões de pessoas que são vítimas. Então, quando eu vejo as pessoas indo pedir o impeachment, eu não vejo golpistas, mas vítimas”, disse, para em seguida conclamar as pessoas a provocar uma aproximação: “Temos de estender a mão a elas, e todos nós temos essas pessoas na família. Não dá para segregar e chamar de golpista e de fascista. O Brasil não tem milhões de fascistas. Existem sim pessoas que não sabem o que estão falando. Temos de estender a mão e informação de qualidade, afeto também, as pessoas só querem ser amadas, e lembrar que o amor vai vencer, que essa luta contra o golpe seja uma obra de amor”.
“Eu vejo muito o outro lado falando em ódio, xingando, mas não podemos usar das mesmas armas. A Janaína Paschoal é fascista, e temos de parar de usar a arma do lado de lá que é o ódio”, disse também Duvivier. “Vamos usar as nossas armas, o amor, o convencimento, o amor contra o golpe, precisamos de empatia, empatia com o lado de lá. Existem mil razões para estar insatisfeito com o PT, e é bom lembrar que nós estávamos insatisfeitos antes de as pessoas estarem nas ruas, estamos falando isso há muito mais tempo”.
Representando do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos falou que acha importante a sociedade entender o que está em curso no cenário político do país com a possibilidade de impeachment de Dilma. Para ele barrar o que chamou de golpe, é defender a democracia e não defender o governo Dilma e suas políticas.
“Muitos de nós, que estivemos e estamos nas mobilizações, não defendemos essas políticas. Não defendemos ajuste fiscal, não defendemos megaprojetos que passam por cima de comunidades, de tudo e de todos. Não defendemos reforma da previdência, não defendemos uma política que faz com que o andar de baixo, dos trabalhadores, da juventude, dos mais pobres, paguem a conta dessa crise”, disse Boulos.
Participaram também da aula pública Laura Carvalho, professora de Economia da USP; a presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel; a presidenta da União Nacional dos Estudantes, Carina Vitral; e Sandra Mariano, da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen). Integraram a organização do evento estudantes de diversas universidades, incluindo USP, Cásper Líbero, Pontifícia Universidade Católica , Mackenzie, Faculdades Metropolitanas Unidas, Metodista, Unicamp e a Fundação Escola de Sociologia e Política (Fespsp).