Os metalúrgicos da Toyota em Sorocaba deram um significativo exemplo esta semana de como a campanha salarial da categoria está correta ao priorizar, no cenário atual, o combate à precarização do trabalho; e não apenas os índices de reajuste na remuneração.
Conforme defendido pelo SMetal e pela FEM/CUT, o acordo coletivo aprovado na Toyota tem como focos principais a manutenção das cláusulas sociais existentes em acordos anteriores; e ainda traz dois avanços pioneiros no momento: regras claras para a terceirização e proteções contra os prejuízos da reforma trabalhista, que entra em vigor no dia 11 de novembro.
Cabe aqui uma explicação. No caso da Toyota, que negocia por fábrica e não por grupo, como outros setores metalúrgicos, o resultado da negociação é chamado de Acordo Coletivo. Quando as negociações dizem respeito a toda a categoria profissional ou a setores específicos dela (grupos) o documento chama-se Convenção Coletiva de Trabalho (CCT).
Portanto, o acordo na Toyota tem o mesmo valor da Convenção Coletiva que o SMetal vem divulgando em sua campanha em defesa das cláusulas de salvaguarda contra a terceirização e a reforma trabalhista.
As garantias sociais aprovadas pelos trabalhadores da Toyota valem por dois anos, o que é uma conquista adicional, visto que os esforços do SMetal e da FEM/CUT nesta campanha salarial também envolvem a luta por esse prazo mínimo de validade.
Além da garantia de cláusulas sociais novas e pré-existentes, os metalúrgicos da Toyota tiveram ganhos financeiros. Conseguiram um aumento real de salário, plano de carreira e reajuste no vale-compra. Mas o mais importante é que eles estavam muito conscientes de que o mais importante no momento era evitar a precarização das relações de trabalho.
Essa tomada de consciência permitiu que houvesse unidade dos trabalhadores. E essa unidade, por sua vez, possibilitou que a pauta de reivindicações fosse ousada. Foi ousada o bastante para deixar claro que não haveria acordo se não houvesse renovação das cláusulas existentes e inclusão das garantias contra a terceirização irrestrita e contra a reforma trabalhista.
O acordo poderia ser melhor? Difícil afirmar. Antes, é melhor refletir que poderia não ter havido golpe no Brasil, a direita poderia não ter tomado o poder, os trabalhadores da região poderiam ter escolhido deputados que não aprovassem as leis golpistas; poderia ter menos preconceito e menos individualismo na sociedade.
Poderia haver mais fraternidade e mais companheirismo, poderia não haver fãs dos Bolssonaros da vida; poderia haver mais consciência de classe. Aí, sim, o conjunto dos trabalhadores não apenas poderia como estaria em situação muito melhor.
Temos conhecimento de que a mesma consciência e a mesma ousadia coletiva manifestadas na Toyota existem entre os trabalhadores de muitas outras fábricas da categoria. Aliás, essas características fazem parte da trajetória e do perfil dos metalúrgicos da CUT.
Mas nossa orientação aos metalúrgicos das demais fábricas da região é que ajudem a pressionar os patrões não por acordos individuais, mas para que eles procurem a Fiesp e exijam a assinatura imediata da Convenção Coletiva, com as garantias reivindicadas pelo SMetal e pela FEM/CUT; e que já se concretizaram na Toyota em Sorocaba.