Os professores estaduais de São Paulo decidiram hoje (25) iniciar “estado de greve”, com indicativo de paralisação para o dia 29 de outubro, quando vão lançar o Grito pela Educação, campanha por melhorias no sistema educacional público, que reunirá movimentos sociais, sindicatos, docentes e estudantes. Em assembleia na Praça da República, centro da capital paulista, os educadores repudiaram a proposta do governo de Geraldo Alckmin (PSDB) de separar totalmente os alunos das escolas estaduais por ciclo – fundamental I, fundamental II e médio.
“É um projeto de gestão empresarial, com o objetivo de demitir professores e fechar salas de aula para cobrir o rombo nas contas públicas paulistas. O governador Alckmin e o secretário (Herman Voorwald, da Educação) ainda não entenderam que educação é investimento e não custo”, afirmou Maria Izabel Noronha, presidenta da Apeoesp (sindicato da categoria).
A partir desta segunda-feira, dia 28, os professores vão iniciar uma campanha nas escolas e nos bairros para unir estudantes e seus familiares contra a proposta. Serão realizadas reuniões, abaixo-assinados e distribuição de folhetos explicando as razões pelas quais os professores avaliam que a medida vai prejudicar o já ruim ensino paulista.
“Não há nenhuma preocupação pedagógica. É simplesmente uma mudança física, que deve levar ao fechamento de, pelo menos, mil escolas. Vai desorganizar a rede pública, separar estudantes de uma mesma família e obrigar os pais a se desdobrarem para organizar a rotina”, defendeu Maria Izabel.
Os professores encerraram há três meses a maior greve da história da categoria. Foram 92 dias parados, reivindicando reajuste salarial e outras melhorias. Todos os pedidos foram rechaçados pelo governo Alckmin. Na quarta-feira, 23, Voorwald avisou que não haverá reajuste salarial em 2015.
A medida da mudança dos ciclos foi anunciada por Voorwald na terça-feira, 22, em entrevista ao telejornal Bom Dia São Paulo, da Rede Globo. “O movimento é para que escolas de três ciclos não existam mais e se aumentem as de ciclo único. A mãe que tem um filho de sete, oito anos tenha tranquilidade para que ele esteja em escola com crianças da idade dele”, afirmou Voorwald.
Na prática, as escolas de uma região passarão a ter somente um dos ciclos: fundamental I, fundamental II ou médio. Os alunos serão remanejados entre estas escolas, em uma distância não superior a 1,5 quilômetro, segundo o secretário. São Paulo tem hoje 5.108 escolas, das quais 1.443 são de ciclo único, outras 3.186 mantêm dois ciclos e 479 têm três ciclos. Essas últimas devem ser transformadas em ciclo único, assim como grande parte das de dois ciclos.
O secretário também justificou que com esse modelo “o aprendizado ocorre melhor, a formação do professor ocorre melhor” e que o momento é propício para fazer a mudança porque São Paulo tem hoje 2 milhões de vagas ociosas.
“É mais do mesmo. A ex-secretária Rose Neubaeur fez a mesma coisa em 1995, causando vinte mil demissões de professores, professores adidos (que ficaram sem aulas em suas escolas), desorganização e transtornos às famílias dos estudantes e uma série de outros prejuízos à educação pública estadual”, defendeu a presidenta da Apeoesp. Os professores avaliam ainda que a proposta busca viabilizar a meta incluída no projeto do Plano Estadual da Educação, de municipalizar o ensino fundamental. Com as escolas divididas, seria mais fácil transferir a gestão para os municípios.
E prosseguiu, apresentando a pauta atual dos professores. “Queremos que o governador e o secretário valorizem os profissionais do magistério, resolvam os problemas estruturais das escolas, estabeleça a gestão democrática na formulação e implementação do projeto político-pedagógico. E que se há espaço, reduza o número de estudantes por sala. Isso sim tem potencial para melhorar o ensino”, explicou Maria Izabel. Hoje as turmas têm entre 30 e 40 alunos, os professores defendem 20.
Também houve protestos contra o anúncio de reajuste salarial zero para os docentes, feito por Voorwald à imprensa. “O secretário mentiu para nós. Disse em várias ocasiões que o projeto sobre o reajuste estava pronto para ser encaminhado, que a greve não fazia sentido. Mas agora usa a crise como justificativa para negar qualquer aumento salarial. Porém, quando a economia estava bem, nós não ganhamos grandes reajustes. A política salarial em São Paulo sempre foi ínfima”, disse a presidenta.