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Delação à vista?

Prisão de Loures em Brasília aumenta a pressão sobre Temer

Receptor de uma mala de 500 mil reais da JBS, homem de confiança do atual presidente foi detido na manhã deste sábado, dia 3

Carta Capital
Brizza Cavalcante / Câmara dos Deputados e Lula Marques / AGPT

O ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures, flagrado por investigadores ao receber uma mala de 500 mil reais da JBS, foi preso na manhã deste sábado 3 por determinação do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal.

Loures foi preso em sua casa, em Brasília, e está detido na Superintendência da Polícia Federal. O ex-deputado perdeu seu posto no Congresso na quinta 1º após o retorno à Câmara de Osmar Serraglio, substituído no Ministério da Justiça por Torquato Jardim.

A prisão foi solicitada também na quinta 1º por Rodrigo Janot, procurador-geral da República. No novo pedido de detenção, a Procuradoria apontou que a perda de foro privilegiado de Loures, alijado do cargo de deputado após Serraglio reassumir seu mandato parlamentar, não impunha mais barreiras à prisão do ex-assessor de Temer.

A postura de Serraglio favoreceu a prisão de Loures: após deixar a pasta, o ex-ministro da Justiça rejeitou assumir o Ministério da Transparência, o que garantiria blindagem ao ex-deputado detido, suplente da bancada do PMDB na Câmara.

Motivo de apreensão para o Planalto, uma delação de Loures contra Temer ainda é incerta. O “maleiro” acaba de mudar de advogado e contratou um criminalista gaúcho conhecido por suas críticas a delações. Para Cezar Roberto Bittencourt, elas são “traiçoeiras”, por partirem de interessados em “alguma vantagem pessoal” e, portanto, capazes de “mentir” e “manipular” informações.

Publicamente, o advogado de Loures não descarta enfaticamente um acordo de colaboração, mas afirma que buscará outras alternativas, como a anulação da delação da JBS. “Não tem sentido começar uma defesa pensando em colaboração”, afirmou na segunda-feira 29.

Apesar disso, comentava-se em Brasília antes da prisão de Loures que emissários seus sondaram a Procuradoria Geral da República sobre as possibilidades de um acordo. Filho de uma rica e tradicional família do Paraná, uma gente influente por lá há três séculos, Loures não levou uma vida capaz de endurecer-lhe o couro. Ficar no xadrez sem data para sair talvez seja demais para ele.

Vários ex-colegas parlamentares, alguns de seu partido, o PMDB, outros de seu estado, apostam que ele fará uma delação. “Se ele fizer, só vão querer uma frase: o dinheiro era para o Temer”, comenta um congressista paranaense.

O anexo 9 da delação premiada de Joesley Batista, dono da JBS, indica que o empresário da JBS prometeu a Michel Temer, enquanto este estava no cargo de presidente da República, 5% do lucro obtido por sua companhia na operação de uma usina termelétrica em Cuiabá. A promessa teria sido feita por Joesley a Loures, apontado por Temer em conversa com o dono do frigorífico como homem de sua “estrita confiança”.

Em um café em São Paulo, Loures e o lobista da JBS Ricardo Saud combinaram, de acordo com a investigação, o pagamento de 500 mil reais por semana ao longo de 20 anos, tempo em que vigoraria o contrato da termelétrica. Isso representa um total de 480 milhões de reais em propina. A mala com 500 mil reais teria sido a primeira parcela do acordo.

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