Só em Sorocaba, são 27.276 mil famílias vivendo em extrema pobreza
Com 10% da população sorocabana inscrita no Cadastro Único (CadÚnico) e enquadrada como sendo de baixa renda, a Prefeitura, na atual gestão, não desembolsou um centavo de seu orçamento – estimado para este ano em cerca de R$ 4 bilhões – na aquisição de cestas básicas para a distribuição à população carente.
Face à realidade de mais de 57 mil famílias inscritas no CadÚnico em Sorocaba, a média de entrega de cestas básicas é de 700 por mês, ou seja: se depender só da Prefeitura, os alimentos chegam a 1,22% dos que necessitam.
Mesmo durante o pior momento da pandemia de covid-19, quando Sorocaba registrou um aumento de mais de 30% de famílias em situação de vulnerabilidade social, os alimentos repassados pelo município foram fruto de doações e, mesmo assim, como informado pela própria Prefeitura, sem conseguir atender toda a demanda local.
De acordo com dados obtidos com exclusividade pelo PORQUE por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), atualmente a média de cestas básicas entregues pela Prefeitura é de pouco mais de 700 por mês, sendo que o ideal para atender – pelo menos –, os inscritos nos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) seria o triplo desse montante, de acordo com estatísticas do próprio município.
“Não atende a totalidade da demanda. O ideal seriam aproximadamente 2 mil cestas por mês para atender toda a demanda dos equipamentos do Cras”, respondeu a administração municipal ao ser questionada se o total de cestas recebidas pelo Fundo Social de Solidariedade (FSS) e repassadas à Secretaria de Cidadania (Secid) para fazer a distribuição à população é o suficiente.
Conforme a Secid, atualmente 57.682 mil famílias de Sorocaba estão cadastrados no CadÚnico, ou seja, 8,62% da população, se considerada a estimativa populacional da cidade, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2020, que apontou uma realidade de 668.973 mil habitantes em Sorocaba.
Desses cerca de 58 mil inscritos, 32.780 mil declararam viver em situação de pobreza ou extrema pobreza, ou seja, 4,9%. Só em Sorocaba, são 27.276 mil famílias vivendo em extrema pobreza, ou seja, famílias que têm renda mensal de até R$ 105 por pessoa. Outras 7.317 mil estão em situação de pobreza, ou seja, com renda mensal entre R$ 105,01 e R$ 210 por mês.
Esse número, no entanto, atualizado em maio de 2022, é 32% maior do que o total de famílias em situação de vulnerabilidade social no mesmo período em 2020, quando Sorocaba registrava pouco mais de 43 mil famílias inscritas. O aumento no número de famílias que procuraram a assistência do município ilustra bem o impacto que a pandemia da covid-19 causou na realidade econômica e social da população. Mesmo assim, esses dados foram incapazes de sensibilizar o município a adotar ou desenvolver algum tipo de política pública de assistência social efetiva e que, realmente, atendesse à demanda crescente da população sorocabana.
O Portal PORQUE questionou tanto a Prefeitura quanto o governo estadual, para saber se o Estado tem encaminhado cestas básicas para a população de Sorocaba, como ocorreu em 2020, no auge da pandemia, mas não conseguiu confirmar se ocorre, hoje, algum envio regular.
Entidades fazem o papel do Poder Público
Para tentar preencher, em parte ao menos, a lacuna deixada pela falta de investimento à assistência social deixada pelo município, as entidades e sociedade civil organizadas acabam se mobilizando em torno de campanhas para a aquisição e doação de alimentos à população em situação de vulnerabilidade social.
Para se ter um comparativo, apenas a Central Única das Favelas (Cufa) local atende mensalmente, com doações, um universo bem maior do que a própria Prefeitura. Conforme Drika Martim, presidente da entidade em Sorocaba, o repasse mensal de doações atende em torno de 1.200 a 1.500 famílias por mês. Esse montante varia, dependendo do total de arrecadações, mas, graças a uma campanha intensa e contínua a Cufa consegue proporcionar assistência não apenas alimentar como também de higiene, além de cobertores e agasalhos, principalmente nos momentos mais rigorosos do inverno.
Outra entidade que ocupa esse espaço deixado pela municipalidade é o Banco de Alimentos de Sorocaba (BAS), que há 17 anos atende famílias em vulnerabilidade social de Sorocaba e região. Para se ter uma ideia, o BAS conta com mais de nove mil famílias inscritas para receber as doações, por meio de 84 entidades, além dos projetos específicos e comunidades. Por conta das baixas doações, principalmente no período de pandemia, tanto a Cufa quanto o Banco de Alimentos reforçaram suas campanhas para conseguir atender mensalmente a população desassistida pelo município.
O que é vulnerabilidade social
Conforme definição no site Politize!, vulnerabilidade social é o conceito que caracteriza a condição dos grupos de indivíduos que estão à margem da sociedade, ou seja, pessoas ou famílias que estão em processo de exclusão social, perdendo sua representatividade na sociedade e que, geralmente, dependem de auxílios de terceiros para garantirem a sua sobrevivência.
“O termo vulnerabilidade social refere-se à situação socioeconômica de grupos de pessoas com poucos recursos financeiros, de moradia, educação e acesso a oportunidades para seu desenvolvimento enquanto cidadão.”
Como doar
Quem quiser ajudar a Cufa Sorocaba a continuar atendendo à demanda da população em situação de vulnerabilidade pode entrar em contato com a entidade por meio de suas redes sociais.
Para doar qualquer quantia ao Banco de Alimentos de Sorocaba, basta acessar o endereço da vaquinha on-line do projeto clicando aqui.
Para fazer doações à campanha A Fome não é Fake, do Fundo Social de Solidariedade de Sorocaba, é preciso telefonar para 15 3238-2503. A campanha costuma realizar coletas nos postos de vacinação e eventos oficiais. Não há link na homepage da Prefeitura.
