Recentemente, uma notícia falsa sobre a eficácia da CoronaVac (produzida pelo Instituto Butantan) colocou novamente em debate sobre os “sommeliers de vacina”. Apelidados desta forma por internautas, os “sommeliers” são pessoas que, baseadas na desinformação, estão escolhendo qual imunizante tomar e quando chegam ao posto de vacinação, e não encontram o desejado, decidem não se vacinar.
Algumas cidades, como a vizinha de Sorocaba, Votorantim, já começaram a colocar quem se recusa a tomar o imunizante disponível naquele momento no final da fila para receber a vacina. A medida, que para alguns é radical, parece ser a única forma de dizer o óbvio: vacina boa é a que tiver no braço.
Atualmente, o Brasil tem 15,98% de sua população completamente imunizada e os dados mostram, após sete meses do início da aplicação dos imunizantes, que houve queda na média geral de mortes por covid-19, desaceleração nas internações e diminuição de óbitos entre os idosos.
Mesmo assim, histórias falsas e boatos parecem ter mais força para se espalhar do que as boas notícias sobre as vacinas disponíveis no Brasil. O Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), com informações do Instituto Butantan, vai explicar como cada uma delas funciona.
1 – CoronaVac: a rodeada de mitos
Transformação em jacaré, brigas políticas e notícias falsas. A CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan, foi a primeira vacina aplicada no Plano Nacional de Imunização (PNI) na enfermeira paulista, Mônica Calazans.
A vacina do Butantan utiliza a tecnologia de vírus inativado (morto), uma técnica consolidada há anos e amplamente estudada. Ao ser injetado no organismo, esse vírus não é capaz de causar doença, mas induz uma resposta imunológica.
Os ensaios clínicos da CoronaVac no Brasil foram realizados exclusivamente com profissionais da saúde, ou seja, pessoas com alta exposição ao vírus. A eficácia global pode chegar a 62,3% se o intervalo entre as duas doses for igual ou superior a 21 dias. Nos casos que requerem assistência médica, a eficácia pode variar entre 83,7% e 100%.
2 – Pfizer: a que virou meme
https://www.youtube.com/watch?v=zwlsfrTHb8Y
Aqui quem fala é ela: a PAFAIZER. É claro que você já deve ter visto este vídeo do comediante “Esse menino”. O mais legal desse conteúdo está longe de ser as boas risadas que a publicação tirou dos internautas, mas, a pulverização de conhecimento que foi gerado a partir do meme.
O imunizante da farmacêutica Pfizer em parceria com o laboratório BioNTech foi o protagonista de um escândalo de irresponsabilidade do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) que recusou centenas de e-mails que ofereciam negociação de milhares de doses da vacina.
A vacina da Pfizer se baseia na tecnologia de RNA mensageiro ou mRNA. O RNA mensageiro sintético dá as instruções ao organismo para a produção de proteínas encontradas na superfície do coronavírus, que estimulam a resposta do sistema imune. Ela tem eficácia de 95% após a segunda dose.
3 – AstraZeneca: de queridinha à temida
Bem como outras vacinas que utilizam o adenovírus, a AstraZeneca apresenta algumas reações que se assemelham à gripe. Internautas brincaram que a vacina “imuniza a pauladas”, já que colocou muita gente de cama por uns dias. As notícias falsas que foram geradas a partir desses acontecimentos fizeram o imunizante, desenvolvido pela farmacêutica AstraZeneca em parceria com a universidade de Oxford, ir de queridinho para temido.
O SMetal esclarece que não há o que temer. No Brasil, a vacina é produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a tecnologia empregada é o uso do chamado vetor viral. O adenovírus, que infecta chimpanzés, é manipulado geneticamente para que seja inserido o gene da proteína “Spike” (proteína “S”) do Sars-CoV-2. A AstraZeneca tem eficácia de 76% após a primeira dose e 81% após a segunda.
4 – Janssen: “aquela lá da dose única…”
De nome menos popular e, até poucos meses desconhecida, a vacina do grupo Johnson & Johnson, é aplicada em apenas uma dose. Assim como o imunizante da AstraZeneca, também se utiliza da tecnologia de vetor viral, baseado em um tipo específico de adenovírus que foi geneticamente modificado para não se replicar em humanos.
Tem 66,9% de eficácia para casos leves e moderados, e 76,7% contra casos graves 14 dias após a aplicação. A aplicação da vacina foi aprovada emergencialmente e chegou ao Brasil há pouco menos de um mês. Dados preliminares indicam que ela pode ser eficaz em deter as variantes do coronavírus, inclusive a Delta.
5 – Sputik V: menção honrosa!
O imunizante chega ao Brasil na próxima semana, mas será utilizado apenas nos estados do Nordeste. A vacina será incorporado de maneira controlada, com estudo de sua segurança e eficácia monitorado pelo infectologista Julio Croda, do grupo Vebra Covid-19.
A Sputnik V foi desenvolvida pelo Instituto Gamaleja de Epidemiologia e Microbiologia de Moscou e financiada pelo Fundo de Investimento Direto Russo (RDIF). De acordo com estudos preliminares, essa vacina tem eficácia de 91,6%.
SMetal reforça importância da imunização completa
Das quatro vacinas disponíveis hoje, três precisam de uma segunda dose. Por isso, o Sindicato dos Metalúrgicos recorda sobre a importância de estar com a vacina em dia. A maioria delas, só tem eficácia prolongada a partir da segunda dose.
Diversos diretores e funcionários do SMetal já se vacinaram e, muitos, estão aptos a concluir a imunização total – além daqueles que tiveram a aplicação da Janssen. “Vacina boa é aquela que tem no posto de vacinação. Agora não é hora de escolher o imunizante e, sim, de se proteger contra essa doença que já vitimou mais de meio milhão de pessoas no Brasil”, comenta o presidente do SMetal, Leandro Soares, imunizado com uma dose da AstraZeneca.