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Entrevista

‘Poderíamos ter diminuído os impactos, se tivéssemos respeitado a democracia’

Tico Santa Cruz, do Detonautas Roque Clube, concede entrevista à Imprensa SMetal. A banda contagiou milhares de pessoas no Parque dos Espanhóis, no 1º de Maio dos Metalúrgicos de Sorocaba

Imprensa SMetal
Foguinho/Imprensa SMetal
Entrevista com vocalista do Detonautas, Tico Santa Cruz, aconteceu pouco antes da banda subir ao palco do 1º de Maio, em Sorocaba

Entrevista com vocalista do Detonautas, Tico Santa Cruz, aconteceu pouco antes da banda subir ao palco do 1º de Maio, em Sorocaba

Pouco antes de subir ao palco do evento o vocalista da banda Detonautas Roque Clube, Tico Santa Cruz, concedeu entrevista exclusiva ao SMetal. Ele falou sobre o contexto político, a relação com os fãs e sobre o novo CD da banda.

Com o Parque dos Espanhóis lotado, Tico Santa Cruz entrou no palco, por volta das 21h, contagiando o público com um repertório mesclado por músicas que fizeram sucesso nas rádios e também com composições de outros artistas.

Durante a entrevista Tico contou que a banda se preocupou em escolher as músicas para agregar também o público que não gosta ou não conhece rock. “A gente incluiu alguns artistas que a gente gosta de tocar. Sabemos que aqui não tem só o público que curte rock”, ressaltou.

Com abertura para misturar gêneros musicais e aproveitando a variedade da música brasileira, Detonautas Roque Clube está com disco quase pronto para ser lançado no próximo mês, junho. O vocalista destaca que “Tem muita influência dos anos 70 e de música de Bolero, que ninguém espera que o Detonautas faça”.

Sexteto

O vocalista revela que o disco, com 10 composições, maioria do vocalista, está mais leve “para poder respirar um pouco”. “Foram três anos muito pesados, de muito boicote, perseguição, ameaça, injúria. Somos artistas, temos muita sensibilidade e é difícil ver esse mundo concreto assim”, desabafa.

Ainda de acordo com ele, o intuito do novo disco, “Detonautas Roque Clube 6”, é passar uma sensação de carinho, de tentar dialogar e dizer “calma, vamos ouvir, vamos olhar com outro olhar para o mundo, de forma mais amorosa, mais afetiva”.

Atualmente, a banda está com seis integrantes. “Voltamos a ter a formação de um sexteto. Em 2005, perdemos um integrante e em 2013 um outro saiu. Agora, colocamos o 6 no nome do disco para marcar esse momento”.

Uma das músicas conta com parceria do cantor Leoni e uma outra foi resgatada de uma Demo de 1997 da banda, a “Aqui na Terra não dá mais para viver”, “que tem a ver com um pouco dessa sensação que temos do mundo, a iminência das guerras, as guerras que estão acontecendo. Conta a história de um cara que constrói uma nave espacial para sair fora”.

Conjuntura política

Em agosto de 2015, o Detonautas tocou no evento dos Metalúrgicos de Sorocaba, ao Dia Mundial do Rock, realizado no Parque das Águas. Era um momento de tensão política, com ânimos acirrados pelo discurso preconceituoso e perseguidor da grande mídia aos movimentos sociais.

Passado quase dois anos Tico Santa Cruz destaca que ainda está faltando a sociedade entender que a democracia exige que as pessoas tenham respeito pelas ideias divergentes. “Vejo que há muita confusão na cabeça das pessoas. Vivemos num país sem democratização da comunicação, onde seis famílias comandam a grande mídia e a narrativa é sempre contra os setores progressistas”.

Para Tico, fica difícil travar um diálogo e mostrar que há muita coisa por trás desse discurso. Uma forma encontrada pela banda é emocionar as pessoas por meio da música. “Falamos sobre o amor fraterno, que falta para as pessoas. O Brasil caminhou para um estágio de retrocesso gigantesco, de ódio disseminado, fico triste de ver o Brasil indo por esse caminho. Poderíamos ter diminuído os impactos se tivéssemos respeitado a democracia”.

“A cultura e a arte é a que lida com o imaginário, com a identidade do povo. Criminalizar a cultura faz parte da estratégia de isolar a parte emocional das pessoas para que elas fiquem rígidas e lidem, de forma autoritária”.

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