A Petrobras anunciou lucro de R$44,5 bilhões só no primeiro trimestre de 2022, isso menos de dois meses depois do megarreajuste nos preços dos combustíveis, que não param de subir. O montante será distribuído aos acionistas com superlucro de mais de 100%.
Aliás, os acionistas são os únicos que se beneficiam com a política de preços da estatal, que colocou o Brasil no segundo lugar entre os países que registram os maiores preços de gasolina no ranking que reúne os 15 principais produtores de petróleo do mundo.
A União, que tem o controle acionário da Petrobras, vai receber 28,7% do lucro, ou R$ 13,9 bilhões. Mas, em sua live semanal, o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), fez a cena de sempre e classificou os dividendos de estupro.
O fato é que “o presidente não faz nada para impedir que os gestores da estatal continuem sangrando a população para satisfazer o apetite insaciável dos acionistas”, diz a Federação Única dos Petroleiros (FUP) em nota publicada no site da entidade.
Depois da União, os acionistas que mais vão lucrar são: estrangeiros, com 24,6%/R$ 11,9 bilhões; ADR (recibos de ações negociados no exterior) com 20,5%/R$ 9,9 bilhões; demais empresas e pessoas físicas com 17,1%/R$ 8,3 bilhões; BNDES (inclui BNDESPar), com 7,9%/R$ 3,8 bilhões e FMP-FGTS Petrobras (fundos de ações da companhia), com 1,1%/R$ 500 milhões.
“O foco da Petrobrás hoje é gerar e distribuir valor, principalmente para acionistas privados. Mais de 45% são investidores estrangeiros, com ações da Petrobrás nas bolsas de São Paulo e de Nova Iorque”, observa Bacelar. “Os gestores da empresa socializam os investimentos e privatizam os lucros. Quem paga os dividendos para os grandes fundos de investimentos nacionais e internacionais é o povo brasileiro”, afirma o coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar.
Superlucro
O superlucro anunciado é 38 vezes maior que o do mesmo período do ano anterior, traz a marca da inflação recorde dos combustíveis e da transferência de riqueza promovida pela política de paridade internacional de preços do governo Bolsonaro.
Enquanto a população passa fome, a estatal brasileira, que deveria ter gerida para atender os interesses nacionais, entregará aos acionistas privados mais R$ 48,5 bilhões de dividendos, menos de seis meses após a mega distribuição de R$ 101 bilhões relativa ao exercício de 2021.
De acordo com a FUP, no governo Bolsonaro, de janeiro de 2019 a 1° de maio de 2022, a gasolina, nas refinarias, subiu 165,8%, o diesel 155,2% e o GLP 118,4%, levando o preço médio do botijão de gás de 13 quilos para acima de R$ 120,00. Isso porque os combustíveis são reajustados com base no PPI, que segue as cotações internacionais do petróleo, variação cambial e custos de importação de derivados, sem levar em conta que 94% da produção de petróleo é nacional – ou seja, com custos em real.
Para Leandro Soares, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), a situação é insustentável. “É um absurdo que diante de uma inflação tão alta, o brasileiro continue pagando o preço dos aumentos que não param de subir, não só nas bombas de combustível, mas em todos os produtos que só encarecem graças à uma política que coloca na frente os interesses do mercado e não os interesses da vida de cada pai e mãe de família que precisa garantir que não falte comida, água, luz e gás dentro de casa”.
Aumento do diesel
Para piorar, a Petrobras anunciou nesta segunda-feira, 9, um reajuste de 8,87% no preço do diesel para as distribuidoras. O preço do litro do combustível no atacado passará de R$ 4,51 para R$ 4,91, um aumento de R$ 0,40 a partir desta terça-feira, 10.
Esse é o primeiro reajuste do combustível em 60 dias. A gasolina e o GLP tiveram seus preços mantidos. Com o reajuste, a mistura obrigatória de 90% de diesel A e 10% de biodiesel passará a custar para a distribuidora R$ 4,42 por litro, em vez dos atuais R$ 4,06, uma alta de R$ 0,36.
Essa é a parcela da Petrobras no preço cobrado do consumidor, que ainda inclui custos e margens de lucro das distribuidoras e dos postos de combustível, além do ICMS.
“Nessa semana não tem aumento no restante dos combustíveis, mas sabemos que logo isso muda, daqui uma, duas semanas, pode vir mais aumento. O que tem que mudar é a política. Enquanto essa política não mudar, o brasileiro não vai ter sossego no final do mês”, pontua Leandro Soares.
Em Sorocaba, de acordo com a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a média do preço da gasolina chegou a R$6,888 na semana de 1 a 7 de maio, tendo preço máximo de R$7,499. O etanol bateu média de R$5,202, chegando a R$5,899 em alguns postos.
Já o GLP, o preço médio na cidade chegou a R$114,33, mas o consumidor pode pagar até R$122,00.
Campanha Salarial SMetal
Com o aumento nos preços e a inflação acumulada em 7,54%, desde setembro de 2021, de acordo com a data-base dos metalúrgicos, aumenta também a necessidade de luta e união da categoria por aumento real nos salários em 2022. É por isso que a votação pela aprovação da pauta de reivindicações da Campanha Salarial 2022 foi votada com antecedência neste ano.
Os trabalhadores da base do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal) aprovaram a proposta em assembleia que foi realizada de forma híbrida – online e presencial – entre os dias 4 e 6 de maio.
“Nós sabemos que esse número deve chegar a dois dígitos, como no ano passado, e talvez chegar a um patamar ainda maior que os 10,42% que negociamos. A luta já está começando e contamos com cada trabalhadora e trabalhador para que conquistemos um um reajuste justo e ainda, que possamos garantir os direitos que já temos e ampliar outros”, conclui Leandro Soares.