O ex-ministro chefe da Secretaria Especial de Direitos Humanos do governo Lula e atual membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), Paulo Vannuchi, proferiu palestra nesta quarta-feira, dia 6, no Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba.
Convidado pela subsede Sorocaba da Central Única dos Trabalhadores (CUT), entidade organizadora do evento, Vannuchi falou para uma plateia formada por mais de cem sindicalistas de várias categorias, como metalúrgicos, condutores, vestuário e professores.
Além de falar sobre conjuntura política nacional e internacional, Vannuchi comentou sobre as tentativas do setor empresarial, por meio de sua bancada no Congresso Nacional, de retirar direitos já conquistados pela classe trabalhadora. “Nos últimos onze anos, com Lula e Dilma, o Brasil tem avançado muito claramente na defesa dos direitos dos trabalhadores, mas é comum que quando há avanços, as forças que perdem privilégio e parcela de poder (o capital) reagem. Então, há algumas lutas do movimento sindical que à primeira vista parecem absurdas, porque não são mais para conquistar avanços, mas, sim, para não permitir retrocessos”, pontuou o ex-ministro.
Falando especificamente sobre o projeto de lei 4.330, que quer ampliar a terceirização em todas as atividades empresariais, Vannuchi enfatizou que o que se pretende “com o falso argumento de aumento da competitividade”, é a precarização dos direitos dos trabalhadores. “A terceirização selvagem provocaria perda de produtividade, porque passa a ser a produção de um trabalhador menos qualificado, menos valorizado e, sem salário digno, menos estimulado”, detalhou.
Redução da jornada
Vannuchi citou ainda que a classe trabalhadora deve se manter unida para reivindicar outras pautas como o fim do fator previdenciário e a redução da jornada de trabalho semanal. “Já faz um quarto de século que aprovamos na Constituição de 88 a jornada de 44 horas semanais (Vannuchi foi deputado constituinte). Está na hora de reduzirmos para 40 horas e eu não tenho dúvidas de que o Brasil está plenamente preparado para isso”, acrescentou.
Black bloc afronta democracia, afirma ex-ministro
Paulo Vannuchi também dedicou parte de sua palestra em Sorocaba para falar sobre o fenômeno “black bloc” na qual grupo de pessoas com rostos mascarados sai às ruas para participar de manifestações com atos violentos.
Vannuchi explica que os integrantes do “black bloc”, além de dizerem não pertencer a um movimento e também não ter lideranças, utilizam-se dessa tática com o objetivo de combater a polícia e os símbolos capitalistas globais. “Essa proposta autogestionária envolve preocupantes questões de responsabilidade política. Se chegam cem pessoas na mesma hora para uma determinada ação, todos de capuz e roupa preta, evidentemente conversaram entre si e existe, sim, algum movimento”, pontua o ex-ministro.
Segundo Vannuchi, ao se infiltrarem em manifestações legítimas – como as lideradas pelo Movimento Passe Livre em São Paulo e a greve dos professores no Rio de Janeiro – os integrantes do black blocs enfraquecem as reivindicações perante a opinião pública. “Se essa for uma simples tática, ela permite que se infiltrem elementos fascistas e intolerantes como já tem acontecido na Europa”. “É preciso cautela, mas se for assim, essa irresponsabilidade política afronta a democracia”, concluiu Vannuchi.