A produção na indústria, da qual os metalúrgicos fazem parte, apresenta um ritmo elevado, com patamares iguais ou superiores ao período anterior da pandemia da Covid-19. Mesmo assim, os representantes patronais reclamam do cenário econômico e sinalizam que sequer pretendem negociar a reposição do poder de compra dos salários pelo índice da inflação acumulada até o momento.
Mais do que isso, os patrões caminham para que o reajuste seja bem abaixo. Como é o caso do Grupo 3, que engloba os setores de autopeças, peças, parafusos e forjarias, que colocou na mesa a proposta de 9% de reajuste. E pior, dividido em duas vezes, sendo 5% em setembro e 4% apenas em fevereiro de 2022. Situação semelhante acontecem nas negociações com outras bancadas patronais.
Para se ter uma ideia, em 11 meses, a inflação acumulada bate a casa dos 9,46% e ainda falta o índice de agosto para fechar a conta da data-base da Campanha Salarial 2021 da categoria.
Para Adilson Faustino (Carpinha), secretário de finanças da Federação Estadual dos Metalúrgicos (FEM/CUT-SP), a proposta da bancada patronal é absurda e ainda traz rebaixamento do teto salarial e o congelamento do piso. “Nós exigimos respeito dos empresários. Somos uma categoria de trabalhadores. Não aceitamos essa conversa fiada de ‘colaboradores’. Nós vendemos a nossa força de trabalho e temos o direito de cobrar o reconhecimento do nosso valor, do nosso suor”.
Crescimento da inflação não é novidade
Carpinha, que também é dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), lembra que, desde junho, a FEM/CUT e os sindicatos filiados estão nas mesas de negociações buscando garantir os direitos da categoria. “A desculpa do empresariado é que eles previam uma inflação mais baixa. Isso não é verdade. Os índices vêm numa crescente desde o ano passado e as medidas do governo não surtiram efeito para amenizar a situação. Agora, não dá pra aceitar propostas que sequer repõem as perdas da categoria”.
O presidente do SMetal, Leandro Soares, completa que esse cenário pesa no bolso do trabalhador. “Os preços dos alimentos subiram absurdamente. Soma-se a isso a gasolina que chega a ser vendida a R$ 7 e a energia, que opera há meses na bandeira vermelha. Quem perde com isso é a classe trabalhadora, que vê seu poder de compra cair e fica cada vez mais difícil colocar um prato de comida na mesa”.
Leandro lembra que para um resultado da Campanha Salarial que valorize a categoria é preciso muita união. “Não é segredo que o patrão nunca dá nada de graça. Tudo que temos em termos de salário e direitos só foi conquistado com muita luta e desta vez não é diferente. Somente unidos poderemos chegar a um reajuste que reponha integralmente o que perdemos no último ano e para brigarmos por ganho real nos salários”.
Para Carpinha, o recado que os patrões precisam ouvir é um só: “Os empresários não devem, de modo algum, duvidar da capacidade de mobilização e luta dos metalúrgicos. Já mostramos no passado que, unidos, somos capazes de lutar pelo que é nosso por direito. Até porque quem produz é a mão de obra da classe trabalhadora. Produção, aliás, que se encontra em alta”.