Sem desmerecer as manifestações de rua que aconteceram no Brasil em junho, a recente paralisação na Toyota em Sorocaba provou aos trabalhadores daquela fábrica que greve não é passeata estudantil. As passeatas, quando pacíficas e bem focadas, são uma enorme contribuição para a democracia. Mas, na greve, há muitos fatores a considerar para bem além do momento em que pessoas desconhecidas se juntam para reivindicar algo ou protestar contra alguma coisa.
Na greve, todos os trabalhadores daquela fábrica vão conviver diariamente após o fim do movimento, independente do seu resultado. Os participantes da paralisação, os fura-greve e os funcionários que desistiram na luta no caminho vão ter que se olhar, olho no olho, durante a rotina de trabalho.
Na passeata, após sua dispersão, cada um vai pra sua casa e muitos participantes nem voltarão mais a se ver.
Na greve, o que está em jogo é o sustento do trabalhador e de seus familiares. Toda paralisação envolve riscos, inclusive em relação ao emprego e ao pagamento dos dias parados. Somente a unidade e a solidariedade dos próprios trabalhadores afasta o risco de represálias internas na empresa.
O grevista tem que ter muita consciência -acima do imediatismo – para abraçar a causa e fazer esse bem coletivo. Muitas vezes, o trabalhador tem que enfrentar críticas da própria família ao se envolver com a luta por melhorias na qualidade do seu emprego.
Nas manifestações de junho, o participante defendeu suas ideias, gritou palavras de ordem, chamou a atenção da grande mídia, tirou fotos suas na passeata, publicou no Facebook, e, horas depois, seguiu normalmente com seu trabalho ou estudos, sem temer perseguições nesses ambientes.
Na greve, o trabalhador deve evitar se expor, deve se misturar ao coletivo como se esse conjunto de operários formasse um único ser, que luta por melhores salários, condições de trabalho, justiça e respeito. Apesar da necessidade de não se expor, na greve não se usam máscaras.
Ao Sindicato, para garantir a preservação do trabalhador, cabe ser o rosto, a vitrine e a vidraça do movimento. E o Sindicato tem endereço conhecido, seus dirigentes têm nome público. Portanto, a entidade responsabiliza-se pela greve juntamente com os operários.
Para exercer esse papel, o bom Sindicato organiza a luta desde antes de ela acontecer, ajudando a formar a consciência da categoria profissional, como trabalhadores e como cidadãos, na luta pela manutenção e ampliação dos seus direitos.
E para cumprir essa missão, de representar, organizar e dar diretrizes ideológicas, as bandeiras populares e democráticas, como a da Central Única dos Trabalhadores (CUT), são essenciais. Mas, sem ter essa clareza histórica, muitos dos manifestantes de junho proibiam tais bandeiras. Eis aí outra diferença entre o movimento operário e suas greves e as recentes passeatas de múltiplos e, às vezes, contraditórios temas que aconteceram no Brasil este ano.