Wilson Fernando da Silva nasceu em Igaraí-SP, dia 12 de novembro de 1951. Após cursar o Senai, começou a trabalhar como ferramenteiro em metalúrgicas da região do ABC paulista, na década de 60.
Baixinho (1,60 mt) e atarracado, Wilson ganhou dos companheiros de fábrica o apelido de Batatinha, em alusão a um desenho animado muito popular na época. Em 1967, trabalhando na Villares de São Bernardo do Campo, Batatinha tornou-se amigo de um jovem torneiro mecânico conhecido como Taturana, devido ao vasto bigode negro.
Sob o período mais truculento da ditadura militar, Batatinha e Taturana eram quase alienados, pouco conversavam sobre política ou movimento sindical. Logo em seguida, seus caminhos se descruzaram.
Em meados dos anos 70, com a intensificação das mobilizações sindicais, Batatinha foi ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo relatar ao presidente da entidade, conhecido como Lula, a situação dos trabalhadores da fábrica na qual era funcionário.
Ao encontrar-se com o sindicalista ficou surpreso ao ver que Lula era, na verdade, o velho companheiro Taturana, que ao cumprimentar o ex-colega de fábrica chamou-o de Bolinha, no lugar de Batatinha. E o apelido Bolinha pegou.
Em pouco tempo, Bolinha revelou-se um dos mais aguerridos militantes sindicais e pró-democracia da região e do Estado. Um hábil estrategista e articulador de lutas e negociações sindicais.
Demitido após uma greve e perseguido no ABC, Bolinha mudou-se para Sorocaba em 1981. Logo empregou-se na metalúrgica Peterco, em São Roque. Envolvendo-se novamente na militância, tomou contato com membros da oposição que, desde a década anterior, tentavam realizar eleições legítimas e derrotar os diretores sindicais subservientes ao regime militar e afinados com as ideologias patronais.
Em 1983, após um processo judicial, são realizadas novas eleições no Sindicato dos Metalúrgicos. Concorrem três chapas. E a equipe liderada por Bolinha vence a disputa. O lema foi “por um sindicalismo autônomo e combativo, pela democracia e por uma Central Única dos Trabalhadores”.
A central única (CUT) defendida pela chapa de Bolinha seria fundada naquele mesmo ano, e no mesmo mês [agosto], em que se realizaram as eleições metalúrgicas de Sorocaba e região.
Aqueles primeiros anos de novo sindicalismo em Sorocaba foram de enfrentamento direto. O Sindicato lutava para alcançar conquistas básicas para a categoria, e também para deixar claro seu diferencial em relação às diretorias anteriores. Os patrões e o regime de governo, por sua vez, esforçavam-se para negar espaço trabalhista e social para esse novo modelo de organização dos trabalhadores. Para isso, por vezes, utilizavam-se da repressão. E os sindicalistas não se esquivavam do embate.
Luís Inácio Lula da Silva esteve diversas vezes na cidade para colaborar na reorganização e reestruturação do Sindicato local, deixado a mingua pela direção chamada pelega.
Em 1986 Bolinha foi reeleito presidente da entidade. Embora já sob uma democracia política parcial (a eleição direta para presidente da República ainda não havia sido realizada), os enfrentamentos diretos pouco refrearam.
Bolinha não concorreu às eleições sindicais de 1989, a fim de tentar – com a ausência de representantes da “velha guarda” – conciliar dois grupos antagônicos que haviam se formado nos anos anteriores dentro do Sindicato.
Geraldo Titotto Filho assumiu a presidência. Mas as divergências internas não cessaram.
Por isso, em 1992 duas chapas da CUT concorreram às eleições. Venceu a Chapa 1, liderada por Carlos Roberto de Gáspari e com Bolinha novamente entre os diretores. Inaugurou-se o conceito de “Sindicato Cidadão”, pela qual a entidade, além das questões trabalhistas nas fábricas, passou a se dedicar mais aos direitos do trabalhador na sociedade. Os chamados direitos de cidadania, como emprego, saúde, habitação, informação, cultura, etc.
Wilson Bolinha ainda integrou outras duas diretorias até 2002, uma sob a liderança de Gáspari e uma com Izídio de Brito Correia na presidência. Nesse período, ele representou a categoria também na Federação Estadual dos Metalúrgicos da CUT (FEM) e na Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM).
Mas que nenhum desavisado pense que este texto é uma homenagem póstuma. Longe disso. Bolinha está bem, mora no Éden, em Sorocaba, e é avô de três netos.
Bolinha hoje fabrica artesanalmente engenhosos relógios de madeira. Relógios que têm seus minutos e horas marcados por…BOLINHAS !!! Bolinhas de aço, utilizadas em rolamentos.
Uma das dicas de Bolinha é sobre as características essenciais do militante. Para ele, ao militante, seja das áreas política, sindical ou social, é necessário, acima de tudo, a capacidade de indignar-se diante das injustiças. Outro pré-requisito ao verdadeiro militante, segundo Bolinha, é estar aberto a aprender, sempre.
Essas características – a capacidade de indignação e a vontade de aprender – marcaram toda a trajetória de Bolinha. Mesmo em seu momento atual, algo lúdico, essas qualidades fazem-se perceber em seus comentários e conselhos, sempre de visão avançada, muito além da conjuntura atual, e sempre revelando a velha sede de justiça social.
Em 7 de dezembro de 2008, o sindicalismo e o movimento popular perderam Bolinha. Ele partiu deste mundo, mas deixou aos amigos, familiares, companheiros de luta e convivência (e até para os adversários) um legado inestimável. Um exemplo de ética, garra, determinação e sensibilidade social. Bolinha tinha 57 anos de idade e havia um ano lutava contra um câncer. Ele deixa esposa, Lucilia, três filhos Daniela (34), Francis (33), Camila (30) e três netos.
Bolinha foi eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região por duas gestões: 1983/86 e 1986/89. Ele deixou a diretoria em 1989, mas retornou em 1992, quando foi eleito membro da executiva. Em 1998 ele deixou definitivamente a direção sindical.
Bolinha estava aposentado, mas lideranças políticas e sindicais, da CUT, do PT e de movimentos sociais da região de Sorocaba nunca deixaram de procurar os conselhos e orientações do pioneiro e carismático líder.