A obra anunciada pelo Governo de São Paulo como a principal aposta para evitar um rodízio drástico na região metropolitana ainda neste ano vai ser adiada pela segunda vez e não entrará em operação até outubro. A transposição do Rio Grande, braço limpo da represa Billings, para o esvaziado Alto Tietê, foi prometida para maio, e depois adiada para setembro. A intervenção foi apresentada como a principal obra emergencial para enfrentar o segundo período seco da crise hídrica no Estado. Ao aumentar a entrada de água no Alto Tietê, o sistema pode assumir o abastecimento de algumas regiões socorridas pelo Cantareira, que abastece 5,2 milhões de pessoas e hoje opera no volume morto, ou seja, em 10,4% negativo. O atraso da obra frustra, por enquanto, essa estratégia e levou a Sabesp a solicitar autorização aos órgãos reguladores para aumentar – e não reduzir – a captação de água do Cantareira em agosto de 13.500 litros por segundo a 14.500, informou nesta quarta-feira o jornal O Estado de S. Paulo.
Tanto a Agência Nacional de Águas (ANA) como o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) autorizaram a solicitação da Sabesp, embora o presidente da ANA, Vicente Andreu, tenha afirmado que o aumento da exploração de água do Cantareira “agrava a situação do sistema e exige um acompanhamento mais rigoroso do manancial no período seco”, ainda segundo o jornal. Para proteger o que já foi o principal reservatório do Estado, os dois órgãos – federal e estadual – haviam definido que a captação máxima seria de 13.500 litros por segundo entre junho e agosto, mas seria reduzida entre setembro e novembro para 10.000 litros. Essas restrições, que já não serão obedecidas, eram inimagináveis em julho do ano passado, quando a Sabesp retirava 32.000 litros por segundo do Cantareira.
O projeto, orçado em 130 milhões de reais, planeja transferir ao longo de 22 quilômetros de tubulações 4.000 litros de água por segundo da região do ABC até Suzano, na Grande São Paulo. São 80 metros de desnível até chegar ao manancial do Alto Tietê. O presidente da Sabesp, Jerson Kelman, foi questionado inúmeras vezes sobre a complexidade do projeto e a possibilidade da obra atrasar em diferentes atos públicos, mas Kelman sempre minimizou os trabalhos. A primeira vez que o EL PAÍS alertou sobre um hipotético segundo atraso, mesmo que de apenas um mês, Kelman respondeu irritado: “Bem, se tiver um terremoto em São Paulo, as coisas vão ficar graves. Não há nenhuma razão para achar que vai ter um terremoto e não há nenhuma razão para achar que vai haver um novo atraso e ficar preocupados com isso”. Em uma segunda ocasião, o engenheiro afirmou não conhecer o projeto da obra mas disse: “Vai ficar pronta. É uma obra simples, não nenhuma dificuldade técnica”.
Hoje, a Sabesp justifica o atraso por se tratar de uma “obra de grande porte que demandou autorizações da Petrobras [que possui infraestrutura na região] na parte terrestre e licenças ambientais para que tivesse início”. O projeto da obra foi solicitado por meio da Lei de Acesso a Informação por este jornal, mas foi negado e considerado sigiloso por questões de segurança. Questionada sobre as complicações que o atraso pode trazer no abastecimento, a companhia garante que o rodízio em 2015 está descartado.