Por Maurício Sérgio Dias
Alvo de severas críticas feitas pela sociedade e pela mídia, o parlamento é o mais vigiado e julgado dos três poderes. Visto como povoado por representantes de baixo nível ou mesmo corruptos, sua imagem está sempre envolta por um halo de negatividade. Os analistas, entretanto, apontam-no como o mais democrático dos poderes. Sendo assim, por que a crítica aos parlamentos é sempre mais acirrada, comumente deixando uma dúvida geral sobre a idoneidade dos parlamentares? Por qual razão, se comparado aos outros poderes, parece ser o mais visado?
Na busca de respostas para essa tendência crítica destrutiva ao legislativo, a Ponto de Fusão entrevistou estudiosos e instituições que tem por objetivo o acompanhamento do parlamento, em especial do Congresso.
Visado, mas não é o único
No decorrer da redemocratização que se seguiu a ditadura militar, a sociedade foi ficando mais atenta à classe política. A ação dos vereadores, deputados, senadores foi tomando os noticiários. Surgiram meios de verificação do trabalho de parlamentares, e, mais atualmente, a internet contribuiu nesse acompanhamento com a criação de blogs e de uma rede ampla de informações.
Ocorre que quem segue o cotidiano desses meios percebe a nítida preferência pelo Poder Legislativo. Para Marcos Verlaine, analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), “o Congresso brasileiro é reflexo da sociedade” e dentre as três esferas públicas “é o poder mais democrático”. “Síntese da democracia representativa, é o mais acessível às críticas da população e da imprensa”, e seu funcionamento “sedimenta a plenitude da democracia, com seus vícios e virtudes”.
Contudo, sua posição não é única. Sylvio Costa, fundador e diretor do site Congresso em Foco, tem dúvida se o Poder Legislativo é o mais perseguido. “Pelo menos durante o governo Lula, talvez tenha sido o Poder Executivo que mais foi fiscalizado pela imprensa”. Costa é militante combativo pela fiscalização dos poderes. Acha que o parlamento merece as críticas recebidas, pois apesar de ter parlamentares sérios, “há muita coisa errada ali”. Mas não tem dúvida: “sem legislativo não há democracia”.
Cientista político José Novelli, professor da UFSCar/Sorocaba
Mídia Seletiva
O cientista político José Marcos Novelli, professor da UFSCar/Sorocaba, também tem dúvidas se o legislativo é o poder mais vigiado, justamente pelos inúmeros dos ataques incessantes da mídia ao governo Lula. Para ele, a questão não é que o parlamento é visado, e sim que “alguns membros do executivo são poupados da crítica seletiva da mídia”. Entende que a mídia ainda tem um poder muito grande como formador de opinião, mas ele diminuiu bastante nos últimos anos: “hoje se tem acesso a outras fontes de informação como, por exemplo os blogs progressistas existentes na internet; os índices de audiência da TV e a tiragem dos grandes jornais, que vem caindo continuamente, são indicadores disso”.
Seja como for, o importante é entender que todos os poderes devem ser fiscalizados e que a manutenção do parlamento enquanto instituição é fundamental para uma sociedade igualitária e democrática.
Marcos Verlaine, analista político do Diap
Fonte: Reportagem da Revista Ponto de Fusão, dos metalúrgicos de Sorocaba e Região, edição nº 2, lançada em março 2011
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