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Justiça do trabalho

“O modelo sindical brasileiro precisa ser repensado”, afirma presidente do TST

Magistrado foi convidado para debater com sindicalistas pelos Metalúrgicos do ABC. Dirigente da CNM/CUT esteve presente no bate-papo

Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, com Redação CNM/CUT
Adonis Guerra/SMABC

O encontro aconteceu dias 15 e 16 de julho, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

O presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ministro Lelio Bentes Corrêa, esteve nesta segunda e terça-feira, dias 15 e 16 de julho, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, para uma troca de experiências com a categoria, e em visitas a planta da Volkswagen Anchieta e no Centro Cultural Afro-Brasileiro Francisco Solano Trindade, em São Bernardo do Campo (SP). A CNM/CUT esteve representada no encontro pelo secretário de Administração e Finanças, Tiago Almeida do Nascimento.

Os Metalúrgicos do ABC têm feito uma série de iniciativas para estreitar relações também com o MPT (Ministério Público do Trabalho), a Conalis (Coordenadoria Nacional de Promoção da Liberdade Sindical) e atores que compõem a rede de proteção ao trabalhador para apresentar tudo que é produzido na base.

Para Tiago, que também é secretário de Administração e Finanças do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), a conversa com o presidente do TST foi importante para debater o atual momento do movimento sindical.

Ele avalia que a sociedade avançou e os sindicatos ficaram para trás no tempo. “Podemos pegar o exemplo da unicidade sindical, que é um problema hoje. Com o fim dela, um sindicato poderia representar todos os trabalhadores numa empresa, independente de serem terceirizados ou de atividades especiais, enfim. Hoje isso não ocorre, pois com a atual legislação estamos restritos apenas aos metalúrgicos”.

O dirigente conta que outros pontos importantes para o mundo sindical fizeram parte do debate, como a precariedade do trabalho por meio de aplicativos e o financiamento sindical.

“Sobre o financiamento sindical é importante destacar que nós, metalúrgicos e cutistas, defendemos que a assembleia seja soberana para definir a questão do financiamento, e isso foi colocado ao presidente do TST. Lá esteve também o pessoal da Conalis, que em nota recente, defendeu também a assembleia como soberana para decisão da cota de custeio, taxa assistencial, seja qual nome cada sindicato ou região adota”, disse Tiago.

Por fim, o sindicalista reforçou o papel dos sindicatos como defensores dos direitos dos trabalhadores e que precisam ser remunerados para se manterem nessa luta.

“São os sindicatos que produzem, que realizam acordos, que realizam os trabalhos para os trabalhadores e para as trabalhadoras, eles não somente precisam do recurso para manter a luta, mas eles também merecem esse recurso, até porque esse recurso é revertido para a categoria, para luta sindical. Então é um contrasenso os sindicatos organizarem, trabalharem, efetivarem a luta, lutarem por direitos, conquistarem direitos, ampliarem direitos, e, ao mesmo tempo, a classe trabalhadora, os representados pelos sindicatos, não terem nenhum tipo de contribuição”, finalizou Tiago.

O sindicalismo vive (sobrevive)

Na manhã da terça-feira (16), trabalhadores da base, sindicalistas de diversas categorias e regiões, representantes de sindicatos patronais e de RH de empresas estiveram na Sede do SMABC para prestigiar a conversa com o presidente do TST juntamente com a procuradora do trabalho, doutora Sofia Vilela, e a presidenta do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região de São Paulo, a desembargadora Beatriz de Lima Pereira.

Na ocasião, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Moisés Selerges, questionou sobre o atual modelo sindical.

“Qual o retrato que o movimento sindical tem hoje e qual o mundo do trabalho em que vivemos? Precisamos fazer uma reflexão sobre o futuro da classe trabalhadora no nosso país, muitas coisas mudaram e de uma maneira muito rápida. O ABC é conhecido pelo Novo Sindicalismo, mas costumo dizer que o Novo Sindicalismo envelheceu. Precisamos discutir a realidade do mundo do trabalho e, por consequência, do movimento sindical”.

O ministro foi na mesma linha ao ressaltar que o modelo sindical brasileiro precisa ser repensado. “O trabalhador e a trabalhadora de hoje não são os mesmos de 30 anos atrás. As prioridades são outras. A forma de comunicação é diferente. O modelo sindical brasileiro precisa ser repensado”.

A presidenta do TRT frisou a alegria de ver o sindicalismo vivo após tantos ataques sofridos durante os governos anteriores. “Minha alegria de estar aqui é poder ver o sindicalismo vivo após todos os golpes no nosso passado recente. Este Sindicato tem representatividade e é isso que os outros sindicatos precisam entender. Essa reconstrução dos sindicatos que vão se reerguer, mas só aqueles que têm representatividade”.

A procuradora do trabalho, destacou o aumento de incidência de doenças psicossociais. “Essa busca incessante por produtividade e metas, faz com que as pessoas estejam cada vez mais doentes, o risco psicossocial também deve ser considerado nas relações de trabalho. Precisa ser prevenido, combatido e inserido com documentos de saúde e segurança. Algo que nos preocupa muito são as novas formas de trabalho que vão impactar de forma significativa no movimento sindical”.

Visitas à Volks e Centro Solano Trindade

Na segunda-feira, 15, o ministro conheceu a organização no local de trabalho dos trabalhadores na Volkswagen junto ao Sindicato. “A primeira impressão que eu levo é constatar esse bom relacionamento entre os Metalúrgicos do ABC e a montadora. Sem abrir mão da combatividade, a entidade opta pelo diálogo maduro, construtivo”, disse Lélio.

“Também constato a estrutura desse Sindicato, que contempla a inclusão, tem diretorias dedicadas às mulheres, às pessoas LGBTQIAPN+, às pessoas com deficiência, o que torna esse modelo de sindicalismo bem-sucedido e atualizado com os anseios da sociedade”.

Sobre o modelo único de representação nas fábricas, o CSE (Comitê Sindical de Empresa), o ministro afirmou que esse tipo de atuação permite uma resposta muito mais rápida aos trabalhadores e trabalhadoras e o equacionamento desses problemas por meio do diálogo social. “Ou seja, há uma aproximação, um entendimento mais direto para a solução dos problemas que as relações de trabalho naturalmente envolvem”.

Na parte da tarde, o ministro esteve no Centro Cultural Afro Brasileiro Francisco Solano Trindade. O projeto criado em 1998, a partir de um processo de articulação e mobilização entre o Sindicato, o IG Metall da Alemanha e representantes do Movimento Negro, é mantido pela campanha “Uma hora para o Futuro”, pelos trabalhadores na Volks.

O Solano atende hoje crianças e adolescentes carentes com uma proposta pedagógica fundamentada na cultura afro-brasileira.

Vídeo da visita do presidente do TST a Volks e ao Centro Solano Trindade

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