Elas podem pesar 10 mil e seiscentos quilos e são pensadas para transportar as mais variadas cargas dentro de uma empresa. Feche os olhos e visualize uma pessoa operando uma empilhadeira… A partir desse exercício, você pensou em uma mulher realizando este trabalho? Provavelmente, não. Isso porque essa função específica ficou naturalizada como um trabalho “masculino”, justamente por conta do esforço físico e, muitas vezes, por ser pouco buscada pelas mulheres, assim como em outros postos. Esse cenário, no entanto, está mudando.
Edina Aparecida da Silva, metalúrgica da Kanjiko do Brasil, é uma das 18 mulheres que atuam como operadoras de empilhadeira em Sorocaba. Sua rotina de trabalho é intensa. Atualmente, Edina transporta cargas como peças de funilaria dos carros da Toyota. Para ela, a função é motivo de orgulho. “Eu me sinto muito importante ocupando um espaço no mercado de trabalho que na maioria das vezes é designado aos homens. Há muito tempo essa ocupação seria limitada para as mulheres”, afirma.
Essa função aparece na 55ª posição em um estudo que organiza as ocupações dos metalúrgicos em Sorocaba e região. Os dados da subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) dos Metalúrgicos de Sorocaba mostram tanto os cargos ocupados, quanto a quantidade de homens e mulheres exercendo as funções.
Ao todo, foram registradas 705 ocupações, sendo que as cinco que mais contam com mulheres são: operadoras de linha de montagem de eletrônicos (1309); alimentadoras de linha de produção (903); operadoras de máquinas operatrizes (389); assistentes administrativas (385) e auxiliares de escritório (309).
A realidade de Edina é parecida com a de Grazieli da Silva, que é soldadora de peças automotivas e também trabalha na Kanjiko do Brasil. Ela chega para assumir o seu posto no segundo turno, coloca os equipamentos de proteção individual como capacete, óculos e protetor auricular. Como soldadora, ela também precisa usar alguns EPIs específicos: mangote de couro para proteção de rajadas provenientes da solda, luvas anti-corte e luvas para temperaturas extremas.
“Minha produção se resume, entre outras coisas, na soldagem de porcas e parafusos nas partes estruturais dos produtos Toyota Yaris e Toyota Etios. Após o término da soldagem, eu realizo a checagem dos itens que foram soldados nas peças. A quantidade de componentes varia de peça para peça”, explica Grazieli.
“Esse rótulo de que mulher é sexo frágil está mudando, pois de frágil nós não temos nada. Eu me viro do avesso e não desisto em qualquer obstáculo”, comenta. Grazieli trabalha na empresa há dois anos e meio e, atualmente, está cumprindo período de licença-maternidade e, por conta disso, está afastada da fábrica.
Na linha de montagem
Marli Barros, Daiane Rodrigues, Deise Pontes e Alexssandra Roque têm alguns aspectos em comum. Além de serem mulheres, hoje trabalham na linha de montagem da empresa Toyota, em Sorocaba. Por mais pesado que o trabalho possa ser, elas cumprem suas funções muito bem e com qualidade.
Antes de trabalhar na montagem, Marli foi Inspetora de Qualidade por dois anos. Depois, passou a atuar na linha principal dos chassis – estrutura que faz parte do suporte dos veículos produzidos na fábrica. Ela conta que sempre quis estar na produção e hoje trabalha com a apertadeira de parafusos. “É um serviço relativamente pesado e requer esforço físico, mas me sinto realizada em fazer o que gosto”, comenta.
Também foi assim com Daiane Rodrigues, que passou pela qualidade e seguiu para atuar na montagem. Há três meses no setor, ela já aprendeu dois processos e segue para o terceiro em breve. “O primeiro foi o processo do pneu, em que manipulo a peça e encaixo no veículo, com a ferramenta múltipla dou o torque das porcas, para finalizar o processo. O segundo passo é com o para-choque dianteiro e traseiro em que, antes de encaixar, verifico se há conectores para plugar”, explica.
Daiane foi a primeira mulher a ocupar este cargo na Toyota e diz que está realizada. “Estou muito realizada em participar desse momento e muito feliz em mostrar que nós mulheres também somos capazes de aprender a manusear ferramentas e máquinas”.
“As funções que eu executo sempre foram feitas por um homem. Na Toyota do Brasil é primeira vez que uma mulher está na linha de montagem. No início, confesso que fiquei assustada por receber tantas informações e por ver a agilidade que os meninos têm no processo, mas hoje, montando o mesmo procedimento que no início me assustou, me sinto muito orgulhosa por ter conseguido me superar, aprender algo novo e muito mais que isso, saber que sou, sim, capaz”, complementa a metalúrgica Deise Pontes. Ela trabalha na montagem do acabamento da porta e máquina do vidro, usando apertadeira, parafusos, conexão e encaixes das peças.
A metalúrgica Alexssandra Roque trabalha na esteira em que são produzidos os kits do disco de freio da roda do carro. Para ela, não existe trabalho de homem ou de mulher. “Eu me sinto igual porque não existe diferença na função que faço. Na montagem existem muitos processos que podem ser exercidos por uma mulher também”, opina.
O cenário é bom, mas pode melhorar
A diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal) acredita que a contratação de mulheres é mais do que necessária. É de comum conhecimento que, nas mesas de negociações e no dia-a-dia, a entidade atua para que exista paridade nas contratações. “Reforçamos sempre nosso apoio às companheiras que já estão nas fábricas dando suporte jurídico e defendendo seus direitos. Hoje também pautamos que exista equiparação nas contratações e, além disso, oportunidades iguais para todos”, comenta o presidente reeleito, Leandro Soares.
A fala de Leandro acende um alerta para um cenário que já melhorou muito, mas que pode continuar avançando. Segundo o Dieese, as mulheres ainda ficam para trás em várias colocações dentro das empresas, mas alguns cargos chamam atenção pela disparidade, principalmente quando falamos sobre posições de liderança.
Enquanto nas metalúrgicas 84 homens ocupam o cargo de Gerente Comercial, 13 mulheres têm a mesma oportunidade. No caso da posição de Gerente de Produção temos 227 homens e apenas 8 mulheres e se falarmos sobre a função de Diretor Administrativo são 14 a 7.