Diversas pesquisas mostram que as mulheres, mesmo estando na mesma posição de trabalho que os homens, ganham menos do que eles e são as que mais têm empregos informais pois precisam ter “tempo livre” para cuidar da casa e dos filhos, que nada mais é do que uma outra jornada de trabalho, mas sem remuneração financeira.
E mesmo que as mulheres estudem e se capacitem mais do que homens, a remuneração é menor. Dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), sobre o mercado formal, com carteira assinada, mostra que em novembro de 2023, a defasagem era de 10%. Porém, em postos que solicitam ensino superior, a diferença chega a 29,3%. Enquanto eles recebem, em média, R$ 5.052, elas ganham R$ 3.570. Isso equivale a mais de um salário-mínimo a menos no bolso das mulheres: R$ 1.482.
Quando se olham os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que traz também o mercado informal do trabalho, na comparação com os homens, as mulheres são ainda mais discriminadas tanto no valor pago sobre a sua mão de obra como nas oportunidades de emprego.
A economista, professora e pesquisadora da Unicamp, Marilane Teixeira, que estuda o mercado de trabalho há 20 anos, afirma que a diferença salarial entre homens e mulheres se mantém praticamente a mesma desde que iniciou suas pesquisas.
“A variação percentual dos salários das mulheres às vezes sobe um ponto, ou meio, e depende muito também do momento do mercado de trabalho, porque, claro, tem diferença maior na informalidade. Se o mercado de trabalho está mais informal, por conta própria, a diferença tende a aumentar, em média”, diz.
A economista ressaltava que se há um ingresso massivo de mulheres negras, “o tipo de ocupação que está sendo gerado também tende a aumentar as diferenças salariais, mas se você olhar a trajetória, ela pouco se alterou em relação aos dados mais atuais”, diz Marilane, que também participou do Grupo de Trabalho (GT), formado por representantes de entidades sindicais, movimento de mulheres e ministérios da Mulher e do Trabalho e Emprego, na elaboração da lei da igualdade salarial.
Os piores indicadores, desemprego, subutilização, e taxa de ocupação sempre estão entre as mulheres
O último dado da PNAD Contínua referente ao quarto trimestre de 2023, mostra que a taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho está em torno de 52,7%. Ou seja, para cada 100 pessoas em idade ativa, acima de 14 anos, tem 52,7 mulheres no mercado de trabalho, enquanto que entre os homens o percentual é de 72,3% – uma diferença de quase 20%.
Por estados, conta Marilane, a diferença é bem maior na região Norte e Nordeste, enquanto no Distrito Federal, a participação feminina no mercado de trabalho é maior, em função, do número de mulheres que atuam dentro do funcionalismo público.
“No Acre, a participação feminina é só de 38,7%, em Alagoas apenas 41,4%, Rondônia, 42,8%, Paraíba, 43,3%, e o maior índice é no Distrito Federal com 61,7%”, exemplifica a economista.
A população feminina fora da força de trabalho são 42 milhões de mulheres, é um número bem expressivo em contrapartida aos homens que é de 23 milhões. Ou seja, a mulher é um dobro da população fora da força de trabalho.
Marilane Teixeira explica que o nível de ocupação se refere ao total de pessoas em idade de trabalhar, quando estão efetivamente trabalhando, diferente das que estão no mercado de trabalho, porque a taxa de participação é a pessoa que está no mercado de trabalho, ela pode estar ocupada ou desempregada. “O percentual do nível de ocupação para as mulheres é de 47.9%, para os homens é de 68%. Veja bem, ainda no nível de 20% de diferença entre os gêneros”, diz
A taxa de desemprego para as mulheres está em torno de 9,2%, enquanto que para os homens a taxa é 6.0%, a diferença é de praticamente um terço a mais de desemprego entre as mulheres na comparação com os homens. No caso das mulheres negras é ainda maior, de 11,1%.
O rendimento médio mensal das mulheres (R$ 2.562) no 4º trimestre de 2023 foi 22,3% menor do que o recebido pelos homens (R$ 3.323). Entre todas as ocupadas, 39,9% recebiam no máximo um salário mínimo e, entre as negras, metade ganhava até esse valor (49,4%), enquanto essa proporção era de 29,1% entre as não negras e de 29,8% entre os homens. Já entre aqueles que terminaram o ensino superior, elas ganhavam, em média, R$ 4.701, 35,5% a menos do que eles (R$ 7.283).
Esses dados foram divulgados nesta quarta-feira (6), pelo Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicas (Dieese), no “Boletim Mulheres no mercado de trabalho: desafios e desigualdades constantes”. Para conhecer os dados completos do boletim, clique aqui
O órgão também lançou o “Infográfico Brasil e regiões: Mulheres – inserção no mercado de trabalho“, que pode ser acessado aqui.
Os dois trabalhos têm como base de dados a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE.
8 de Março
A CUT fará atos em diversas cidades do país nesta sexta-feira, 8 de março, pelo Dia Internacional das Mulheres. O tema deste ano é “Mulheres em defesa da democracia pela igualdade salarial e contra todos os tipos de violência”. Confira a lista com os locais neste link.
O material de divulgação do “Março de Luta” (#8M), pode ser acessado aqui.