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Mulheres metalúrgicas formam 18,81% da categoria na nossa base

Estudo do Dieese traça um perfil da mulher metalúrgica em Sorocaba; dirigentes sindicais opinam sobre desigualdades, luta por espaço e abrem suas projeções para o futuro das mulheres metalúrgicas

Imprensa SMetal
Divulgação
Mulheres metalúrgicas ocupam espaços e defendem mais contratações e igualdade de gênero nas fábricas da categoria

Mulheres metalúrgicas ocupam espaços e defendem mais contratações e igualdade de gênero nas fábricas da categoria

Elas representam 18,81% da categoria metalúrgica, ganham 36% a menos do que um homem e possuem mais escolaridade. Os dados fazem parte de um estudo compilado pela subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) dos Metalúrgicos de Sorocaba e traça um perfil da mulher metalúrgica no município e nas cidades da região.

De acordo com o estudo do Dieese, construído a partir de dados referentes aos anos de 2019 e 2020, a cidade tinha 37 mil trabalhadores metalúrgicos, sendo que 7.018 são mulheres e atuam prioritariamente em três funções: operadoras de linha de montagem de eletrônicos, alimentadoras de linha de produção e operadoras de máquinas. As mulheres representam aproximadamente 18,81% da categoria em Sorocaba e região – que está ligeiramente acima da média brasileira.

Quando falamos a nível nacional, o país tem 350 mil mulheres no segmento metalúrgico e este universo representa 18,20% da categoria. A representatividade feminina na metalurgia apresentou leve queda se comparada a 2018, em que 18,28% dos trabalhadores metalúrgicos eram mulheres.

Apesar da representação expressiva, quando o assunto é remuneração elas ficam para trás. O salário médio de um metalúrgico que trabalha em funções ligadas diretamente à linha de produção é de R$ 3.123,00, mas as mulheres recebem em média R$ 2.164,00. Em compensação, 33,56% das mulheres metalúrgicas possuem escolaridade acima do ensino médio (cursando ensino superior ou superior finalizado), ao passo que 22,84% dos homens estão no mesmo patamar de escolaridade.

Esse dado não é uma exclusividade da categoria. Um outro estudo, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que em 2019, a remuneração média das mulheres foi de R$ 1.985, cerca de 22% menor que a média dos homens, que foi de R$ 2.555.

Do ponto de vista social e econômico, os números organizados pelo Dieese e pelo IBGE mostram um cenário desigual que pode ter várias origens, como o machismo estrutural e outras problemáticas sociais. “O fato é que essa desigualdade deve ser combatida sem descanso para que possamos minimizar os impactos destes números. Economicamente, por exemplo, trata-se de uma diferença salarial que chega a R$ 1000,00”, comenta o presidente reeleito do Sindicato dos Metalúrgicos, Leandro Soares.

A secretária de Juventude da CUT-SP e dirigente do SMetal, Priscila dos Passos Silva, pondera que a Convenção Coletiva dos Metalúrgicos coloca o piso salarial igual para todos, porém, depois que a trabalhadora está na fábrica, essa desigualdade fica acentuada com relação às oportunidades de trabalho, consideração o fato de que essas metalúrgicas muitas vezes têm dupla (até tripla) jornada. “Muito provavelmente essas questões impactam na diferença entre os salários de um homem e de uma mulher. Nós entramos todos com a mesma remuneração, mas no meio do trajeto as oportunidades ficam perdidas”, explica.

SMetal pela igualdade de gênero

O Sindicato dos Metalúrgicos tem um histórico de lutas pelas mulheres. Desde os anos 80, quando a presença delas nas fábricas ainda era pequena, por meio de suas dirigentes e dos companheiros aliados à luta, o SMetal levantou as bandeiras femininas e negociou com as empresas em benefício das mulheres.

Nos tempos atuais não é diferente. Antes da pandemia da Covid-19, as dependências do Sindicato recebiam diversas ações afirmativas e de formação que falavam sobre os mais variados temas, como empoderamento feminino, sexualidade, ferramentas jurídicas e outros.

É prioridade do SMetal levar em consideração as demandas das companheiras. “Em todos esses anos, o Sindicato vem lutando por paridade de contratações dentro das fábricas. Além disso, questões de assédio moral, sexual e psicológico também são vigiadas. Estamos defendendo as companheiras seja nas mesas de negociações ou no chão de fábrica”, defende Priscila Passos.

Uma das propostas da Chapa 1, eleita na última semana para a gestão 2021-2025, está alocada no eixo “Sindicato Cidadão” e projeta fortalecer as organizações sociais nas suas lutas especificas. Neste eixo serão abrangidos nos próximos anos as pautas dos direitos das mulheres, bem como da população LGBTQI+, igualdade racial, pessoas com deficiência (PCD), juventude, idosos e meio ambiente.

“Temos quatro anos de trabalho pela frente e continuaremos lutando para fortalecer a mulher metalúrgica em nossas negociações do dia-a-dia, oferecendo espaço dentro da estrutura sindical, criando resoluções para suas demandas e incentivando a participação dessas companheiras no mercado de trabalho”, afirma Leandro Soares.

Reforços

Nesta próxima gestão, o SMetal contará com um quadro maior de mulheres entre seus dirigentes sindicais. Lindalva Linhares Martins, Nazaré Inocência da Silva e Priscila dos Passos Silva – que já construíram a luta no passado – terão a companhia de duas novas dirigentes: Priscila Regiane da Costa (CSE da Apex) e Cleide Bueno da Silva (CSE da Flex). Elas têm propostas para o futuro e querem agregar às pautas das mulheres metalúrgicas.

Para Lindalva Linhares Martins, é necessário construir espaços de conversa e trocas no sentido de unir as mulheres. “Uma das formas de minimizar a desigualdade é o engajamento das companheiras. Juntas podemos lutar por condições melhores de trabalho”, comenta a dirigente. Além disso, ela coloca que no futuro é importante atentar para as questões de saúde da mulher e “continuar a combater o assédio no local de trabalho”.

Lindalva está indo para o seu segundo mandato e destaca a luta para fazer valer a licença maternidade. Na Flextronics, empresa composta majoritariamente por mulheres em seu quadro de funcionários, as dirigentes dizem que muitas já precisaram tirar o descanso de até 6 meses estabelecido por lei. Nazaré e Lindalva, dirigentes da fábrica, falam que a vigia do SMetal garante que este direito seja respeitado pela empresa.

Na Convenção Coletiva dos Metalúrgicos, este direito previsto por lei é estendido para 180 dias. A licença é válida também para casos de adoção, conforme critérios estabelecidos nas convenções, e deve ser respeitado pelas empresas, mas é sabido que uma das práticas mais comuns é a demissão dessas mulheres.

“Através do Sindicato, fiz o curso do projeto Promotoras Legais Populares (PPL) e recebi muitas informações jurídicas. Sempre que posso oriento outras mulheres conforme as demandas que elas me trazem”, explica Nazaré Inocência. Ela pondera ainda que é preciso continuar defendendo os direitos dos trabalhadores, especialmente das mulheres “que são as mais afetadas pelas desigualdades”.

Expectativas para os próximos anos

“Estou animada e observando coisas que eu só via e talvez comentava com as minhas colegas. Agora, como dirigente, posso colocar em prática mudanças para favorecer as companheiras e toda a categoria metalúrgica”. A fala é de Priscila Regiane da Costa, do CSE da Apex Tool. Ela é operadora multifuncional na empresa há cerca de um ano e meio e defende mais contratações de mulheres e participação feminina na fábrica “Elas são chefes de família. Têm muita capacidade e estão com um papel muito à frente pelas mudanças sociais que vêm acontecendo”, finaliza.

Para Cleide Bueno da Silva, que foi eleita para o seu primeiro mandato no CSE da Flextronics, é necessário dar continuidade na luta do SMetal por contratações femininas. “Tivemos avanços após a demonstração de apoio do sindicato às companheiras. Algumas empresas começaram a oferecer postos de trabalho às mulheres. Precisamos expandir esse conceito e espero poder auxiliar nos próximos anos”.

“Nesta próxima gestão teremos mais participação de mulheres na diretoria do SMetal e isso gera uma expectativa boa, pois serão mais companheiras pensando e dialogando. Um coletivo pode ser organizado para discutirmos as necessidades”, comenta Priscila dos Passos Silva. Ela ressalta ainda a importância da CCT dos Metalúrgicos e dos acordos coletivos como ferramentas de luta que serão utilizadas para a defesa dos direitos das mulheres trabalhadoras nos próximos anos.

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