Desde a consumação do golpe, ingressamos numa nova fase de luta. As manifestações se espalham não mais se restringindo às capitais, e envolvem cada vez mais setores. Cresce, diariamente, a compreensão da farsa alimentada pelos grandes meios de comunicação. Cresce também a compreensão de que vivenciamos um golpe de novo tipo e a ilegitimidade de Temer começa a se generalizar até mesmo entre aqueles que haviam se iludido com o discurso de apoio ao “impeachment”.
Contamos com alguns elementos que potencializam nossa resistência: as medidas neoliberais privatizadoras e de redução de direitos já são conhecidas e rejeitadas pela maioria da população; temos uma memória coletiva desta última década de políticas sociais e, o mais importante, o movimento operário, que ampliou conquistas e número de greves, não está em descenso e conta com uma enorme capacidade de luta.
Por enquanto, os atos e manifestações ainda estão restritos ao campo democrático que se conformou nos meses que antecederam o golpe. Fica cada vez mais nítido que o elemento diferencial será a entrada em cena da classe trabalhadora organizada – especialmente dos setores produtivos – através de uma greve geral. Construir uma paralisação que afete a produção e circulação de mercadorias é o salto de qualidade que pode alterar a correlação de forças na luta contra o golpe.
No período que antecedeu a consumação do golpe, por mais que diversas lideranças tenham se empenhado, não foi possível construir essa proposta. A opção pela política de “ajuste fiscal” em 2015 levou grande parte dos trabalhadores a não se enxergarem na representação política do governo Dilma. Agora, fica claro que os eixos mobilizadores de uma greve geral são os ataques aos direitos trabalhistas e previdenciários que já estão sendo anunciados pelos golpistas. Portanto, a mobilização dependerá do ritmo das medidas do governo usurpador.
Greve geral
Desde a década de 80, não vivenciamos uma expressiva greve geral. A imensa maioria dos dirigentes sindicais não possui essa experiência. Construí-la depende fundamentalmente da firmeza das centrais sindicais, especialmente da CUT, CTB e Intersindical, mas precisa envolver os movimentos populares e todos os ativistas que estão saindo às ruas contra o golpe. Sua preparação exigirá uma intensa agenda de fábricas, ouvindo os trabalhadores, retomando o trabalho de base, divulgando panfletos e realizando plenárias organizativas.
Sem prejuízo de outros esforços que buscam construir espaços unitários, a Frente Brasil Popular cumprirá um papel decisivo para construir uma greve geral. Todos podem ter tarefas nesta preparação.
A atual fase da luta contra o golpe também exigirá da Frente Brasil Popular que avance tanto na sua estrutura organizativa quanto nas definições políticas. O momento histórico impõe que a unidade entre as principais forças e organizações populares encontre um método para construir um programa, que reúna os acúmulos e formulações, interagindo com o conjunto de seus integrantes em cada município, possibilitando uma síntese que nos permita um amplo trabalho de base popular.
A consolidação política e organizativa da Frente Brasil Popular e a construção de uma greve geral são as tarefas principais para proporcionar um salto de qualidade na luta contra o golpe.