Cerca 20 mil pessoas saíram às ruas de Sorocaba no fim da tarde e noite desta quinta-feira, dia 20, em protesto organizado pelo Movimento ContraCatraca que, depois de reivindicar redução da tarifa de ônibus, exige da prefeitura transparência das planilhas financeiras da Urbes. A estimativa de público é dos próprios organizadores do ato.
Já o Sindicato dos Metalúrgicos, que apoiou a manifestação e está habituado com grandes concentrações, estima o número de participantes em pelo menos 25 mil pessoas. A Polícia Militar e a Guarda Civil Municipal (GCM) avalia em 15 mil o número de manifestantes nos momentos de maior concentração.
Às 17 horas, a Praça do Canhão – local da concentração da passeata – já estava tomada por centenas de manifestantes que, além de reivindicarem avanços na questão da mobilidade urbana, também protestavam por temas diversos, como saúde, educação, segurança pública, pela construção do Hospital Municipal, não à PEC 37 e contra a Copa do Mundo.
Pacífico
Durante todo o trajeto, grandes grupos de participantes cantavam em coro “sem vandalismo” e vários participantes procuravam conter pessoas eventualmente mais exaltadas.
Cerca de duas horas antes do início da concentração dos manifestantes, às 15 horas, grande parte comércio da região central já estava com portas fechadas.
Entre os milhares de manifestantes que ocuparam as ruas, foi grande o número de mulheres, famílias inteiras, crianças e pessoas da terceira idade.
Os manifestantes seguiram em passeata pacífica pelas ruas Álvaro Soares, Souza Pereira, Francisco Scarpa, avenida Afonso Vergueiro, passando em frente ao Terminal Santo Antonio. Em seguida, o cordão se dirigiu até Praça Lions, na avenida Dom Aguirre e, em seguida, para a avenida Juscelino Kubitschek.
Dissidentes
Enquanto a grande maioria dos manifestantes, incluindo os membros do Movimento ContraCatraca, seguiram para a dispersão na praça Frei Baraúna, por volta das 20 horas, um grupo dissidente formado por cerca de 300 pessoas, interditou a rodovia Raposo Tavares. Outro grupo, também com 300 pessoas, aproximadamente, seguiu para a Prefeitura Municipal, no Alto da Boa Vista.
A interdição da rodovia, na altura do hipermercado Extra, durou cerca de duas horas. Na Prefeitura, os manifestantes pediam a presença do prefeito, mas não foram atendidos.
Já a manifestação principal se dispersou pacificamente na Praça Frei Baraúna às 21h.
Motivos locais
Mesmo com o anúncio da Prefeitura de cancelar o aumento da tarifa de ônibus, movimento ContraCatraca manteve o protesto desta quinta porque quer uma política de mais transparência nos reajustes de passagens, além de exigir também planos de melhorias na mobilidade urbana.
“Não aceitaremos o discurso do prefeito que, para reduzir a tarifa seria necessário realocar a verba de outros setores do orçamento. Não vamos pagar essa conta. Que ela seja repassada para as empresas que lucram incessantemente explorando o transporte público”, aponta um informativo assinado pelo Movimento ContraCatraca que foi distribuído aos participantes do protesto.
VEJA FOTOS DO ATO EM SOROCABA
VEJA VÍDEO DO ATO EM SOROCABA
Após levante fascista, MPL não vai mais convocar atos em São Paulo
Enquanto o tom pacífico marcou o ato em Sorocaba, em vários outros municípios do país as manifestações foram tomadas por atos de violência. Ao todo houve atos em 75 cidades, que mobilizaram cerca de 1 milhões de pessoas.
Cenas de vandalismo e intolerância entre os próprios manifestantes chocaram muitos brasileiros no Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Ribeirão Preto, Belém e Brasília, entre outras cidades.
Em São Paulo, o Movimento Passe Livre (MPL), que liderou a mobilização vitoriosa de redução da tarifa na capital, divulgou nesta sexta, dia 21, que não vai convocar novos atos. “O MPL é um movimento social apartidário, mas não antipartidário. Repudiamos os atos de violência direcionados a essas organizações durante a manifestação” da mesma forma que “repudiamos a violência policial”, diz um trecho da nota divulgada pelo movimento.
Não ao fascismo
Membros de vários outros movimentos e ONGs de São Paulo chegam a afirmar que há riscos de o fascismo tomar conta dos movimentos atuais, caso permaneçam sem foco, discriminatórios e antidemocráticos (ao rechaçarem a participação de organizações sociais e partidos legitimamente constituídos).
“Não é o momento da divisão. É hora de evitar o que existe de pior na face da terra, pior é o fascismo. A história do vandalismo [durante os atos] é para justificar a ação fascista”, afirmou à imprensa Luiz Gonzaga da Silva, do Movimento de Moradia em São Paulo.
Em Sorocaba, o professor Marcos Francisco Martins, professor da UFSCar e coordenador do Fórum de Movimentos Sociais tem a mesma preocupação quanto à apropriação das manifestações pela direita conservadora.
Sim à democracia
Para Martins, o momento é justamente de disputa política “daí a necessidade de diferentes ‘partidos’ (os oficializados e institucionalizados ou não) debaterem democraticamente sobre os rumos do movimento e do que pretendem para a nação, sem a tentativa de negação de um pelo outro, o que deve ser feito também nas ruas, e não apenas nas redes sociais”.
“Até mesmo porque, historicamente, esse processo de negação partidária resultou em uma das maiores mazelas históricas que a humanidade já assistiu: o fascismo”, afirma o professor da UFSCar de Sorocaba.