Uma multidão voltou a ocupar a avenida Paulista neste domingo, 11 de setembro, para protestar contra o Governo de Michel Temer – que assumiu a presidência da República após o impeachment de Dilma Rousseff – e pedir novas eleições presidenciais. A concentração em frente ao Museu de Arte de São Paulo (MASP) começou às 14h e, pouco a pouco, a principal via de São Paulo foi sendo tomada por movimentos sociais, jovens, famílias e amigos em clima de confraternização. Por volta das 17h, quando os gritos de “Fora, Temer” e “Diretas Já” ecoavam por algumas quadras da Paulista, o ato saiu em direção ao parque Ibirapuera, onde foi encerrado pacificamente depois das 19h. Os organizadores – Frente Brasil Popular e Povo sem Medo – estimam que 60.000 pessoas compareceram na passeata. A Polícia Militar (PM) não ofereceu cifras.
Apesar do clima pacífico que marcou o início e o fim do protesto, a PM reprimiu um pequeno grupo de jovens que levava máscaras na mochila e lenços pendurados no pescoço – um deles estava com o rosto coberto. Houve tumulto entre manifestantes, jornalistas e policiais na descida da Alameda Casa Branca. Três pessoas acabaram detidas. Uma delas era um fotojornalista que, segundo pôde ver o EL PAÍS, foi jogado de forma violenta na mala de uma viatura por dois policiais. Também foi detida uma menina, menor de idade, que esteve entre os 21 jovens presos no último domingo. Na ocasião, o juiz que mandou soltá-los com o argumento de que a detenção havia sido ilegal.
Os três detidos deste domingo foram levados para a 78º Departamento de Polícia, onde até o fechamento desta edição ainda prestavam depoimento. Os agentes apreenderam uma faca de cozinha, um soco inglês, bolas de gude e máscaras brancas pintadas nas mochilas dos jovens. Sobre o soco inglês, uma menina que se identificou como Lais, de 17 anos, explicou que sempre o leva para autodefesa, já que mora longe. Disse ainda que as máscaras serviam para fazer um “ato artístico” durante a passeata. A jovem chegou a ser levada pelos agentes – de forma violenta, mas sem agressões, segundo relatou – e foi liberada momentos depois. Outra jovem, de 19 anos, também chegou a ser levada e liberada em questão de minutos.
Enquanto ocorria a ação da Polícia, diversas lideranças políticas e sindicais discursavam no caminhão de som. A poucas semanas das eleições municipais, estiveram presentes no ato alguns dos principais nomes da esquerda brasileira: Fernando Haddad (PT), prefeito da capital paulista e candidato à reeleição; Guilherme Bolos, líder do MTST; Eduardo Suplicy, ex-senador petista e candidato a vereador; Luiza Erundina e Ivan Valente, ambos deputados pelo PSOL e companheiros de chapa nas eleições à prefeitura de São Paulo; Rui Falcão, presidente do PT; Lindbergh Farias, senador petista pelo Rio de Janeiro; entre outros. Ao chegar, Haddad se posicionou imediatamente ao lado de Erundina, sua adversária nas eleições municipais, e levantou seu braço. Em claro aceno à deputada, teceu elogios a ela ao começar seu discurso.
Momentos antes, Erundina conversou com o EL PAÍS. “Estamos aqui para proteger os direitos duramente conquistados nas últimas décadas. O povo não vai sair das ruas até tirar todos esses golpistas do poder. E amanhã, na Câmara dos Deputados, vamos derrubar o Eduardo Cunha!”, disse a deputada, lembrando que a cassação do ex-presidente da Casa será votada nesta segunda-feira. Em diversas ocasiões, os manifestantes também aproveitaram o ato para reafirmar o “Fora, Cunha”.
Para o deputado Ivan Valente, companheiro de chapa de Erundina, “muitos dos que se manifestaram contra Dilma já estão percebendo que os que estão no poder são golpistas, e que querem retirar os direitos da população”. E acrescentou: “A Lava Jato já encrencou o PT, mas agora, com a delação do Marcelo Odebrecht, também vai derrubar os partidos golpistas”. Já Guilherme Boulos, a principal liderança dos protestos contra o Governo, opinou que “Temer conseguiu unificar o país como pretendia”, mas contra o seu Governo. “Não tem ninguém decente pedindo ‘Fica, Temer’. Quem achou que a mobilização iria acabar no Senado com o impeachment não entendeu nada. Isso é só o começo”.
O ato desceu pela avenida Brigadeiro Luís Antônio em direção ao parque Ibirapuera sem incidentes. Com músicas e gritos, as milhares de pessoas presentes exigiram o “Fora, Temer” e “Diretas Já” a todo o momento. “Temer, seu otário, o seu Governo continua temporário”, cantaram. “Não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da Polícia Militar”, pediram. A ex-presidenta Dilma Rousseff não foi citada em nenhum momento pelos manifestantes e nem pelas lideranças políticas presentes.
A Polícia chegou a bloquear a passagem da Brigadeiro Luís Antônio na altura com a Travessa Leon Berry, impedindo a passagem do protesto. Os organizadores conversaram com os agentes até que a passagem finalmente foi aberta. A multidão chegou então ao Monumento às Bandeiras e ocupou todo o gramado em volta. Em seu discurso final, Boulos chamou à atenção para as “provocações” da Polícia Militar ao longo do ato, lembrando das três detenções em seu início, e prometeu reunir o dobro de pessoas no próximo domingo na avenida Paulista. A manifestação foi encerrada por volta das 19h da mesma forma que começou: com famílias e amigos confraternizado, enquanto que grupos musicais assumiam o controle.