São Paulo – Cerca de 7 mil metalúrgicos realizaram manifestação hoje (17) pela manhã, em protesto contra a conduta da unidade de São Bernardo do Campo (ABC paulista) da Mercedes-Benz, e em defesa dos empregos. Em reunião na tarde de ontem, a direção da empresa afirmou não estar autorizada pelo comando da matriz na Alemanha a estabelecer negociações. Os trabalhadores fizeram assembleia e decidiram se manter mobilizados com objetivo de forçar a fábrica a buscar, por meio do diálogo com os representantes dos funcionários – Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e Comitê Sindical dos Trabalhadores -, uma saída negociada que evite as 2 mil demissões pretendidas pela montadora alemã.
Após a assembleia, os metalúrgicos saíram em caminhada pela Avenida 31 de Março, bairro da Pauliceia, percorreram a Avenida do Taboão no sentido Rudge Ramos, tomaram o acesso à Via Anchieta sentido litoral, onde ocuparam uma faixa e o acostamento da pista local até o acesso de volta à entrada principal da planta. No trajeto de quase sete quilômetros, demonstraram disposição de prosseguir em movimento, mesmo cientes das dificuldades. Amanhã (18), os trabalhadores se concentrarão novamente diante da fábrica.
De acordo com o diretor administrativo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Moisés Selerges, os operários estão convencidos de que têm de se manter em movimento, apesar das dificuldades. Empregado da Mercedes há 30 anos, Moisés lembra que foi dessa forma que outras situações de crise foram enfrentadas. “Perdemos alguns embates, mas ganhamos muitos outros. Estamos convencidos de que não será uma prova de 100 metros, mas uma verdadeira maratona. Temos que ter estratégia, paciência e determinação para ir até o fim.”
O sindicalista observa que a política econômica que tem levado à recessão também é um inimigo a ser enfrentado pelos trabalhadores. “Quando se pensa que o fundo do poço já chegou, vêm as notícias de que as coisas ainda podem piorar. Assim fica mais difícil. E economia requer confiança, de empresários e da sociedade. E numa situação dessas, o cara que está com a porta da geladeira quebrada amarra com varal, não vai comprar outra”, diz, ressaltando o caráter de duplo desafio dos trabalhadores. “Lutar pelos direitos e os empregos de um lado e por uma política econômica que leve à retomada do crescimento. Enquanto isso, vamos seguir mobilizados, denunciando a postura da empresa, conseguindo a solidariedade da nossa categoria e de outras, inclusive na Alemanha.”
Segundo Moisés, o também diretor do sindicato Valter Sanches é membro do conselho da empresa – integrado por dez representantes de acionistas e dez dos trabalhadores – e vai intervir no colegiado. “Com diálogo e com mobilização, vamos convencer a direção alemã de que a negociação é, sim, necessária.”
Telegramas e covardia
Durante a reunião de ontem à tarde, a direção da Mercedes voltou a se lamentar da situação e insistiu na necessidade de “reduzir o excedente”. E informou que a matriz na Alemanha não está convencida de que há necessidade de negociar. A intensão é demitir 2 mil dos 9 mil funcionários da unidade de São Bernardo, onde são fabricados caminhões e ônibus e as atividades estão suspensas por tempo indeterminado desde segunda-feira (15). A montadora tem ainda fábricas em Juiz de Fora (MG) e em Iracemápolis (SP).
Empregados do ABC têm recebido telegramas desde segunda-feira. As mensagens limitam-se a comunicar o corte e informar uma data para efetuar a rescisão. “Não vamos aceitar essa maneira covarde de demissões por telegramas. Jamais fariam isso na Alemanha e aqui não é quintal deles”, disse o secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre, durante a manifestação de hoje.
“É de extrema importância chamar a atenção de toda a sociedade sobre a situação aqui na Mercedes. Vamos mostrar para a direção na Alemanha que somos trabalhadores e exigimos respeito. Temos de encontrar alternativa negociada”, acrescentou o vice-presidente do sindicato, Aroaldo Oliveira da Silva.